Mais de 80% dos portugueses não sabe aplicar manobras de reanimação, diz estudo

Poucos conhecimentos ou nenhuns em matéria de suporte básico de vida foi a resposta de 80% dos inquiridos num estudo que pretendia apurar o que os portugueses sabem sobre este tema. Neste estudo da Universidade do Porto, apenas 20% reportou um conhecimento adequado.
No entanto, dizem os investigadores que se se considerar o conhecimento geral, verifica-se que apenas 15% das pessoas respondem corretamente a 70% ou mais das questões colocadas e apenas 1,8% acertam em todas as respostas. Cerca de 5% não sabem qual era o número de emergência europeu (112) e não sabem explicar quando e onde o suporte básico de vida deve ser aplicado.
De acordo com o trabalho das investigadoras Carla Sá Couto e Abel Nicolau, publicado na Acta Médica Portuguesa, o nível de conhecimento do público geral piora quando as questões são de natureza técnica. Embora 55% das pessoas saiba onde devem posicionar as mãos (“centro do peito”), apenas 13,4% têm noção da profundidade das compressões (cinco a seis centímetros) e só 20% sabem ainda a frequência das compressões (100 a 120 compressões por minuto). Quanto às fontes, cerca de 46% das pessoas têm conhecimentos sobre suporte básico de vida através de “meios informais”, como brochuras, televisão ou internet.
Os investigadores revelam ainda que os conhecimentos nesta área são piores nas pessoas com mais de 45 anos de idade e melhores no grupo etário mais jovem.
Outro aspeto a assinalar é que quase todos os participantes neste estudo considera que o treino em suporte básico de vida deveria ser incluído no contexto académico e profissional e cerca de 76% considera que o treino deveria ser obrigatório, repetindo-se anualmente (24%) ou bianualmente (33%).
Nesta amostra, composta 663 pessoas (a maioria entre 18 e 25 anos, do sexo feminino e estudante no ensino superior), a percentagem que já frequentou formações/workshops de SBV é bastante elevada (43%), contrastando com outros estudos realizados em Portugal que apontam para valores próximos dos 18%. Já na Austrália, por exemplo, essa percentagem ronda os 78%.
Este estudo vem, assim, “reforçar a necessidade de treino prático regular de suporte básico de vida, idealmente numa fase precoce e nos locais de trabalho/estudo”, de preferência com métodos inovadores e efetivos no que respeita a aspetos técnicos e à retenção do conhecimento, como é o caso do CPR – Personal Trainer, um sistema acessível, de treino de reanimação cardiorrespiratória, com “feedback” automatizado, desenvolvido por este grupo no âmbito do CINTESIS e do Centro de Simulação Biomédica da Faculdade de Medicina Universidade do Porto.
Na Europa, a paragem cardíaca é uma das principais causas de morte, afetando 55 a 113 habitantes por 100 mil/ano. De acordo com o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), entre 2013 e 2014 ocorreram mais de 23 mil paragens cardiorrespiratórias pré-hospitalares, sendo que, apenas em 15% dos casos, foram realizadas manobras de suporte básico de vida antes da chegada de ajuda especializada. Em Portugal, a taxa de sobrevivência neste período é de 4%, abaixo de outros países europeus, como a Holanda (21%) e a Noruega (25%).