Jovens investigadores portugueses distinguidos com projetos na área das ciências da saúde

Já são conhecidos os cinco vencedores da 5.ª edição do Prémio Maria de Sousa, atribuído pela Ordem dos Médicos e pela Fundação Bial. Criado em homenagem à imunologista e grande investigadora Maria de Sousa, o Prémio pretende distinguir e apoiar jovens investigadores portugueses, com idade igual ou inferior a 35 anos, em projetos na área das ciências da saúde.
O Prémio representa um valor total de até 150 mil euros, a ser distribuído por um máximo de cinco projetos de investigação. Cada projeto selecionado pode receber até 30 mil euros.
Neuza Domingues, investigadora do MIA-Portugal – Multidisciplinary Institute of Ageing da Universidade de Coimbra, foi distinguida pelo projeto “Lisossomas nucleares: desvendar a comunicação entre lisossomas e o núcleo”, que incluirá um estágio na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Este projeto pretende investigar os mecanismos moleculares que regulam os contactos entre a membrana do lisossoma e a do núcleo, identificando as proteínas envolvidas e compreendendo como influenciam a função celular em condições de stress ou doença. O lisossoma é um organelo essencial para a digestão de outros organelos e moléculas danificadas e um dos mais afetados durante o envelhecimento celular. Para além de libertar as células de elementos tóxicos, modula vias de sinalização e a função de outros organelos.
Recorrendo a modelos de disfunção lisossomal e nuclear e a células humanas “jovens” e “envelhecidas”, este projeto vai explorar de que forma a comunicação lisossoma–núcleo contribui para a manutenção da homeostase celular e poderá abrir novas perspetivas terapêuticas em doenças relacionadas com o envelhecimento, como as neurodegenerativas e as distrofias musculares.
O projeto de Bruna Meira, do Champalimaud Centre for the Unknown / Champalimaud Research and Clinical Centre / Neuropsychiatry Unit, intitulado “FOSI: Compreender os mecanismos de freezing da marcha usando a estimulação cerebral profunda”, vai estudar por que motivo algumas pessoas com doença de Parkinson, de repente, não conseguem dar um passo em frente mesmo quando querem andar - um fenómeno conhecido como freezing da marcha.
O estudo procura compreender melhor o que acontece no cérebro nesses momentos, testando diferentes formas de estimulação cerebral profunda - um tratamento com recurso a um aparelho que funciona como um “marcapasso” para o cérebro e ajuda a controlar muitos dos sintomas da doença - e analisando como estas influenciam a forma de andar e a atividade elétrica cerebral.
Com este trabalho, que inclui um estágio na Neurological Clinic and Polyclinic do Würzburg University Hospital, na Alemanha, pretende-se perceber por que razão este tratamento melhora a marcha em alguns casos e noutros pode agravá-la, contribuindo para tornar as terapias mais eficazes e adaptadas a cada pessoa. Os resultados poderão ajudar as pessoas com doença de Parkinson a manter a mobilidade, reduzir quedas e viver com mais confiança e qualidade de vida.
O projeto de Ângela Fernandes, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, intitulado “Adoçar o ataque tumoral: glicoengenharia de neoantigénios para potenciar a resposta de células T CD8+ contra o cancro colorretal”, pretende estudar de que forma a presença ou ausência de açúcares complexos (glicanos) à superfície das células tumorais pode influenciar a resposta imunológica.
Com uma componente de estágio no Centro de Investigação Científica Isla de la Cartuja – Instituto de Investigação Química do CSIC-Universidade de Sevilha, em Espanha, o objetivo do projeto é desenvolver uma nova terapia ou vacina em que os glicanos alterados serão usados como elemento-chave para educar uma melhor resposta das células T, potenciando a destruição das células do cancro colorretal (CCR).
Um dos maiores desafios no CCR é a sua heterogeneidade e capacidade de escapar ao sistema imunitário, tornando muitas terapias pouco eficazes. Este projeto irá explorar se o perfil de glicanos presentes nas células tumorais é capaz de modular a resposta imunitária. Irá também avaliar os benefícios da reprogramação desses glicanos e perspetivar a criação de uma nova vacina que possa melhorar a resposta imunitária e combater a progressão tumoral.
Diogo Reis Carneiro, investigador do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, com o projeto “CaInPark – Interocepção cardiovascular: dos fundamentos neuroanatómicos à disrupção na doença de Parkinson”, pretende estudar como a ligação entre o cérebro e os órgãos do corpo que sentimos a funcionar - designada interocepção - fica afetada na doença de Parkinson.
A investigação, que inclui um estágio no Dysautonomia Center, Division of Neurobiology, Medical University of Innsbruck, na Áustria, vai avaliar participantes com a doença através de escalas que medem aspetos interoceptivos, emocionais e sintomas de vários sistemas do corpo, recolhendo dados de imagem, atividade elétrica cerebral e sinais corporais que indiciam modificação da resposta cardíaca, respiratória e termorregulatória.
Baseando-se na hipótese de que esta comunicação entre cérebro e corpo é disfuncional na doença de Parkinson, o projeto visa caracterizar essa alteração através de uma abordagem neuroanatómica multimodal. Este estudo poderá também abrir caminho a novas terapias de modulação interoceptiva não farmacológicas, como o mindfulness ou o biofeedback respiratório, com potencial para melhorar o bem-estar e reduzir sintomas numa população com poucas opções terapêuticas.
O projeto de Catarina Lopes, do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, intitulado “SNIFF: Compostos orgânicos voláteis em saliva para deteção não invasiva de cancro gástrico”, procura desenvolver um método simples e rápido para detetar precocemente o cancro do estômago, através da análise de pequenas moléculas libertadas pelo corpo, designadas por “compostos voláteis”.
Estas moléculas podem ser encontradas em amostras fáceis de recolher, como a saliva ou a urina, e poderão permitir a criação de um “nariz eletrónico” capaz de identificar pessoas com maior risco de cancro gástrico, encaminhando-as para diagnóstico atempado.
O trabalho, que inclui um estágio na Medical University of Gdańsk, na Polónia, visa criar uma ferramenta não invasiva, de baixo custo e escalável, que permita identificar quem deve ser encaminhado para o rastreio precoce do cancro do estômago - uma doença ainda muitas vezes detetada tardiamente -, contribuindo para aumentar o diagnóstico precoce em Portugal e abrindo caminho a novos métodos de rastreio adaptáveis a outras doenças gastrointestinais e crónicas.
A cerimónia de entrega do Prémio Maria de Sousa, na sua 5ª edição, ocorreu ontem, pelas 15:30, na Ordem dos Médicos, em Lisboa.
Os trabalhos vencedores foram escolhidos por um Júri presidido pelo neurocientista Rui Costa, presidente e diretor executivo do Allen Institute, nos Estados Unidos, que estará presente na cerimónia de entrega.
