5.ª edição do Prémio Maria de Sousa

Jovens investigadores portugueses distinguidos com projetos na área das ciências da saúde

Neuza Domingues, Bruna Meira, Ângela Fernandes, Diogo Carneiro e Catarina Lopes são os vencedores da 5.ª edição do Prémio Maria de Sousa, com projetos de investigação nas áreas do envelhecimento celular, doença de Parkinson, cancro colorretal e cancro gástrico.

Já são conhecidos os cinco vencedores da 5.ª edição do Prémio Maria de Sousa, atribuído pela Ordem dos Médicos e pela Fundação Bial. Criado em homenagem à imunologista e grande investigadora Maria de Sousa, o Prémio pretende distinguir e apoiar jovens investigadores portugueses, com idade igual ou inferior a 35 anos, em projetos na área das ciências da saúde.

O Prémio representa um valor total de até 150 mil euros, a ser distribuído por um máximo de cinco projetos de investigação. Cada projeto selecionado pode receber até 30 mil euros.

Neuza Domingues, investigadora do MIA-Portugal – Multidisciplinary Institute of Ageing da Universidade de Coimbra, foi distinguida pelo projeto “Lisossomas nucleares: desvendar a comunicação entre lisossomas e o núcleo”, que incluirá um estágio na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Este projeto pretende investigar os mecanismos moleculares que regulam os contactos entre a membrana do lisossoma e a do núcleo, identificando as proteínas envolvidas e compreendendo como influenciam a função celular em condições de stress ou doença. O lisossoma é um organelo essencial para a digestão de outros organelos e moléculas danificadas e um dos mais afetados durante o envelhecimento celular. Para além de libertar as células de elementos tóxicos, modula vias de sinalização e a função de outros organelos.

Recorrendo a modelos de disfunção lisossomal e nuclear e a células humanas “jovens” e “envelhecidas”, este projeto vai explorar de que forma a comunicação lisossoma–núcleo contribui para a manutenção da homeostase celular e poderá abrir novas perspetivas terapêuticas em doenças relacionadas com o envelhecimento, como as neurodegenerativas e as distrofias musculares.

O projeto de Bruna Meira, do Champalimaud Centre for the Unknown / Champalimaud Research and Clinical Centre / Neuropsychiatry Unit, intitulado “FOSI: Compreender os mecanismos de freezing da marcha usando a estimulação cerebral profunda”, vai estudar por que motivo algumas pessoas com doença de Parkinson, de repente, não conseguem dar um passo em frente mesmo quando querem andar - um fenómeno conhecido como freezing da marcha.

O estudo procura compreender melhor o que acontece no cérebro nesses momentos, testando diferentes formas de estimulação cerebral profunda - um tratamento com recurso a um aparelho que funciona como um “marcapasso” para o cérebro e ajuda a controlar muitos dos sintomas da doença - e analisando como estas influenciam a forma de andar e a atividade elétrica cerebral.

Com este trabalho, que inclui um estágio na Neurological Clinic and Polyclinic do Würzburg University Hospital, na Alemanha, pretende-se perceber por que razão este tratamento melhora a marcha em alguns casos e noutros pode agravá-la, contribuindo para tornar as terapias mais eficazes e adaptadas a cada pessoa. Os resultados poderão ajudar as pessoas com doença de Parkinson a manter a mobilidade, reduzir quedas e viver com mais confiança e qualidade de vida.

O projeto de Ângela Fernandes, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, intitulado “Adoçar o ataque tumoral: glicoengenharia de neoantigénios para potenciar a resposta de células T CD8+ contra o cancro colorretal”, pretende estudar de que forma a presença ou ausência de açúcares complexos (glicanos) à superfície das células tumorais pode influenciar a resposta imunológica.

Com uma componente de estágio no Centro de Investigação Científica Isla de la Cartuja – Instituto de Investigação Química do CSIC-Universidade de Sevilha, em Espanha, o objetivo do projeto é desenvolver uma nova terapia ou vacina em que os glicanos alterados serão usados como elemento-chave para educar uma melhor resposta das células T, potenciando a destruição das células do cancro colorretal (CCR).

Um dos maiores desafios no CCR é a sua heterogeneidade e capacidade de escapar ao sistema imunitário, tornando muitas terapias pouco eficazes. Este projeto irá explorar se o perfil de glicanos presentes nas células tumorais é capaz de modular a resposta imunitária. Irá também avaliar os benefícios da reprogramação desses glicanos e perspetivar a criação de uma nova vacina que possa melhorar a resposta imunitária e combater a progressão tumoral.

Diogo Reis Carneiro, investigador do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, com o projeto “CaInPark – Interocepção cardiovascular: dos fundamentos neuroanatómicos à disrupção na doença de Parkinson”, pretende estudar como a ligação entre o cérebro e os órgãos do corpo que sentimos a funcionar - designada interocepção - fica afetada na doença de Parkinson.

A investigação, que inclui um estágio no Dysautonomia Center, Division of Neurobiology, Medical University of Innsbruck, na Áustria, vai avaliar participantes com a doença através de escalas que medem aspetos interoceptivos, emocionais e sintomas de vários sistemas do corpo, recolhendo dados de imagem, atividade elétrica cerebral e sinais corporais que indiciam modificação da resposta cardíaca, respiratória e termorregulatória.

Baseando-se na hipótese de que esta comunicação entre cérebro e corpo é disfuncional na doença de Parkinson, o projeto visa caracterizar essa alteração através de uma abordagem neuroanatómica multimodal.  Este estudo poderá também abrir caminho a novas terapias de modulação interoceptiva não farmacológicas, como o mindfulness ou o biofeedback respiratório, com potencial para melhorar o bem-estar e reduzir sintomas numa população com poucas opções terapêuticas.

O projeto de Catarina Lopes, do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, intitulado “SNIFF: Compostos orgânicos voláteis em saliva para deteção não invasiva de cancro gástrico”, procura desenvolver um método simples e rápido para detetar precocemente o cancro do estômago, através da análise de pequenas moléculas libertadas pelo corpo, designadas por “compostos voláteis”.

Estas moléculas podem ser encontradas em amostras fáceis de recolher, como a saliva ou a urina, e poderão permitir a criação de um “nariz eletrónico” capaz de identificar pessoas com maior risco de cancro gástrico, encaminhando-as para diagnóstico atempado.

O trabalho, que inclui um estágio na Medical University of Gdańsk, na Polónia, visa criar uma ferramenta não invasiva, de baixo custo e escalável, que permita identificar quem deve ser encaminhado para o rastreio precoce do cancro do estômago - uma doença ainda muitas vezes detetada tardiamente -, contribuindo para aumentar o diagnóstico precoce em Portugal e abrindo caminho a novos métodos de rastreio adaptáveis a outras doenças gastrointestinais e crónicas.

A cerimónia de entrega do Prémio Maria de Sousa, na sua 5ª edição, ocorreu ontem, pelas 15:30, na Ordem dos Médicos, em Lisboa.

Os trabalhos vencedores foram escolhidos por um Júri presidido pelo neurocientista Rui Costa, presidente e diretor executivo do Allen Institute, nos Estados Unidos, que estará presente na cerimónia de entrega.

 

 

Fonte: 
LPM Comunicação
Nota: 
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