Estudo

Intervenções psicológicas em crianças com ansiedade apresentam resultados promissores

Uma equipa de investigadoras e psicólogas portuguesas está a testar dois programas de intervenção psicológica em crianças entre os 7 e os 12 anos de idade, e respetivos pais, que têm revelado contribuir significativamente para a redução da sintomatologia ansiosa das crianças e da interferência destes sintomas nas suas vidas e nas famílias.

O estudo-piloto dos programas Detetives das Emoções In-Out e Gato Habilidoso tem sido conduzido pela Universidade de Coimbra (UC) e pela Universidade de Lisboa (ULisboa). Os programas são destinados a crianças que apresentam sintomas de ansiedade clinicamente significativos, como ansiedade de separação, que se manifesta pela dificuldade da criança em separar-se dos pais; ansiedade social, que se traduz, muitas vezes, na dificuldade em participar nas interações sociais e em situações de avaliação; e ansiedade generalizada, que se manifesta frequentemente por preocupações com uma diversidade de aspetos que a criança não consegue controlar. Em breve, estas intervenções vão ser aplicadas em maior escala, estando abertas as inscrições.

Perante a necessidade de tratamento das perturbações emocionais na infância, pretende-se “contribuir para que estas duas intervenções psicológicas, com características diferentes, mas ambas com resultados de eficácia noutros países muito promissores, fiquem disponíveis no nosso país e possam ser implementadas de forma generalizada”, explica a docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) e investigadora do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC), Helena Moreira.

“A investigação tem mostrado que se as perturbações de ansiedade na infância não forem adequadamente tratadas, a probabilidade de recaída ou de desenvolvimento de novos problemas, ao longo da adolescência e da idade adulta, é elevada”, contextualiza a também coordenadora do projeto. “Os primeiros anos de vida representam uma oportunidade extraordinariamente importante para a promoção da saúde mental ao longo da vida; contudo, muitas crianças não têm acesso a tratamento psicológico, particularmente a intervenções informadas pela evidência”, acrescenta Helena Moreira.

É para colmatar as lacunas nos cuidados de saúde mental na infância que nasce o projeto de investigação Detetives das Emoções In-Out: versão online e presencial do Protocolo Unificado para Crianças, que consiste no estudo das duas intervenções mencionadas (Detetives das Emoções In-Out e Gato Habilidoso), ambas baseadas “na terapia cognitivo-comportamental para ajudar as crianças a reduzir a intensidade e a frequência de experiências emocionais fortes e aversivas, através da aprendizagem de competências que lhes permitam lidar com essas emoções de forma mais adaptativa”, reforça a investigadora. “São usadas estratégias tais como a psicoeducação acerca das emoções, o mindfulness, a resolução de problemas, a exposição emocional, entre outras”, acrescenta.

O estudo-piloto decorreu entre março e julho de 2023, em diferentes zonas do país (nomeadamente Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Mortágua, Pombal e Viseu), tendo envolvido 77 crianças entre os 7 e os 12 anos e respetivos pais: 39 participantes receberam a intervenção Detetives das Emoções In-Out e 38 a intervenção Gato Habilidoso.

A aplicação dois dos programas pretende testar a eficácia de ambos, que, embora tenham o mesmo objetivo, diferem em alguns aspetos. O programa Detetives das Emoções In-Out combina sessões de grupo presenciais e sessões online totalmente autoguiadas que a criança deve completar em casa, com ou sem a ajuda dos pais. “Este é um aspeto inovador, que pretende dar resposta a alguns desafios que pais e crianças enfrentam atualmente, nomeadamente a falta de tempo para participar num programa exclusivamente presencial e os custos associados a essas deslocações”, destaca a também psicóloga clínica.

Estas sessões online pretendem também “tornar a participação no programa mais atrativa para a criança, através da utilização de tecnologias de informação e comunicação”, sublinha a docente da UC. Outro dos fatores distintivos do Detetives das Emoções In-Out prende-se com o envolvimento dos pais desde o início, que são convidados a participar nas sessões, tanto online como presenciais.

De recordar que a equipa de investigação implementou, entre 2020 e 2022, a versão exclusivamente presencial do programa Detetives das Emoções, tendo envolvido mais de 150 crianças com sintomatologia ansiosa e/ou depressiva clinicamente significativa. “A diminuição significativa da sintomatologia e do evitamento de situações temidas e a promoção de competências adaptativas de regulação emocional que foi possível registar durante a intervenção apenas presencial deram-nos segurança para estudar outras versões do programa, nomeadamente a versão combinada”, remata Helena Moreira.

As inscrições para participação no projeto ainda estão a decorrer. Qualquer pai ou mãe que considere que o seu filho apresenta sintomas de ansiedade significativos pode efetuar a inscrição através do e-mail [email protected], para inscrições na zona Centro; ou usando o endereço [email protected], para inscrições na zona de Lisboa. As escolas que pretendam participar no projeto podem também inscrever-se. A participação no programa é gratuita. O programa de intervenção contempla a realização de 16 sessões.

O projeto é cocoordenado pela professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, Ana Isabel Pereira. Conta ainda com o envolvimento da Unidade de Psicologia Clínica Cognitivo-Comportamental da Universidade de Coimbra (UpC3) e do Centro de Investigação em Ciência Psicológica (CICPSI) da ULisboa.

Fonte: 
Universidade de Coimbra
Nota: 
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Foto: 
Universidade de Coimbra