Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA)

Fernando Almeida afirma que “iremos enfrentar uma nova pandemia”

Esta quinta-feira, dia 15 de julho, GS1 Portugal promoveu a 7ª edição do Seminário de Saúde, subordinado ao tema “Aprender com a crise para transformar o setor da Saúde”. O evento híbrido, com transmissão nas plataformas digitais da organização, contou com a participação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, do Instituto de Medicina Molecular, do Health Cluster Portugal, da Hovione, da Multicare, da General Electric Healthcare e do Grupo Luz Saúde.

A partilha de dados e a rastreabilidade são chave fundamental para o setor da saúde

A primeira intervenção da sessão coube ao Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), Fernando Almeida, que realçou o trabalho que tem vindo a ser feito no setor da saúde em Portugal, desde o início da pandemia, destacando a importância da partilha de dados e da interoperabilidade entre todos os interlocutores entre os quais investigadores, médicos, académicos. Fernando Almeida destacou que, mais do que as várias vagas da pandemia, o mundo tem vindo a enfrentar outras “quatro ondas”. “Além da pandemia, propriamente dita, uma segunda onda que enfrentamos são as outras patologias que deixaram de ser tratadas que têm tido um grande impacto na sociedade com cirurgias adiadas e deslocação de recursos médicos para outros áreas primordiais. Já para não falar das doenças e problemas de saúde mental que são cada vez mais uma realidade urgente”, explicou. O Presidente do INSA falou ainda da “onda económica, social, de desenvolvimento e competitividade, que foi gerada, sobretudo pelas alterações no emprego e no modo de trabalho, que deram origem a um país economicamente mais fragilizado”. Sobre a “quarta onda”, Fernando Almeida mostrou-se preocupado com a “onda da informação, ou desinformação”, alertando para a urgência do papel de instituições como a GS1 Portugal em “trabalhar a informação de forma clara e transparente”.

Fernando Almeida deixou ainda um alerta: “não sabemos quando, mas garantidamente iremos enfrentar uma nova pandemia nos próximos anos e é importante retermos o conhecimento das lições aprendidas ao longo do último ano e meio”.

Por seu lado, Guy Villax, Administrador Delegado da Hovione e Presidente do Health Cluster Portugal, focou o seu discurso na ameaça global que constitui a falsificação de medicamentos e dispositivos médicos, com especial destaque para as vacinas COVID-19. “Este é um tema pouco falado, tanto pelos médicos, farmacêuticos, como pelos media, mas a verdade é que 1 em cada 10 medicamentos é falsificado”, alertou Guy Villax que realçou também o número crescente de denúncias de medicamentos falsificados com “94 incidentes reportados em 32 países diferentes no que diz respeito às vacinas COVID-19”. Para combater eficazmente este flagelo global, Guy Villax destacou a importância de sistemas e standards, como os que a GS1 disponibiliza, para garantir a rastreabilidade de medicamentos e dispositivos médicos.

Ulrike Kreysa, Vice-Presidente da GS1 Healthcare, na sua intervenção abordou a necessidade da colaboração dos diferentes interlocutores da cadeia de valor, num momento pandémico como o que vivemos. “Um problema global como este, exige soluções e colaboração globais, através de standards únicos e interoperáveis”, explicou. A Vice-Presidente da GS1 Healthcare falou do esforço que tem vindo a ser feito por organizações como a UNICEF, o Banco Mundial e a Organização Mundial na criação de uma plataforma global de rastreabilidade, de forma a garantir a “confiança, interoperabilidade, transparência e visibilidade” ao longo da cadeia de valor.

Ainda durante o Seminário, Raquel Abrantes, Diretora de Qualidade, Compliance e Formação da GS1 Portugal, apresentou os serviços GS1 Verified by GS1 e Global Data Model como exemplos de modelos normalizados para a gestão de dados. “Estes dois serviços, ainda pouco aplicados no setor da saúde, poderão ajudar a garantir a qualidade da informação dos produtos e a sua identificação única, trazendo confiança e eficiência à cadeia de valor”, explicou Raquel Abrantes.

“Agora que temos a vacina, é preciso que as pessoas a aceitem”

Ainda como parte do Seminário de Saúde, a GS1 Portugal promoveu um debate sobre os Pilares da Cadeia de Abastecimento da Saúde com a participação de Pedro Simas, do Instituto de Medicina Molecular, Bárbaria Faria, da Multicare, Pedro Lima, do Grupo Luz Saúde, e Rui Costa, da General Electric Healthcare. Os quatro intervenientes partilharam várias perspetivas, de cada uma das suas organizações, com diferentes papéis no setor da saúde.

Pedro Simas, do Instituto de Medicina Molecular, realçou na sua intervenção a importância da colaboração entre cientistas de todo o mundo na disponibilização de uma solução rápida e fiável para a crise pandémica. Mas chamou a atenção para o facto de os grandes desafios da humanidade serem sociais. “É aí que temos de evoluir. Na ciência produzimos de forma rápida e eficiente uma vacina. Mas depois é preciso que as pessoas a aceitem”, sublinhou. Pedro Simas alertou ainda para a assimetria na aplicação das vacinas “Temos cerca de 25% da população mundial a ser vacinada, com cerca de 70% dos europeus já com uma dose. No entanto, países em vias de desenvolvimento só têm 1% da população vacinada”, afirmou.

Já Pedro Lima, do GLSMED Trade e do Grupo Luz Saúde, destacou a importância da centralização do processo logístico e da diversificação da origem dos produtos como ações chaves que garantiram ao grupo uma melhor eficiência num período pandémico. Pedro Lima, realçou ainda que “as imposições regulamentares aplicáveis à importação e exportação não devem ser desprezadas, mas acabam por ser barreiras à eficiência do negócio sobretudo dos países mais pequenos”.

Bárbara Faria, da Multicare, falou sobre a importância da aposta na medicina preventiva por parte das seguradoras face ao aumento dos custos, fruto do adiamento de tratamentos, falta de diagnóstico e pausa em cirurgias. Num outro ângulo, Bárbara Faria, a par de outros intervenientes, destacou a importância de ter “dados com a melhor qualidade possível e de forma regulada, de modo a garantir a privacidade, para permitir prestar um melhor serviço ao cliente final”. “É inevitável que existam mais pandemias, mas todos temos de estar mais preparados para o que aí vem”, concluiu.

Durante o debate, Rui Costa, da General Electric Healthcare, explicou que a crise pandémica “veio realçar a necessidade da interoperabilidade e da partilha de dados para, por exemplo, criar circuitos COVID e não COVID nas áreas hospitalares”. “Estamos no advento dos dados e sua harmonização e standardização para serem integrados em algoritmos pode agilizar a decisão dos atores clínicos. As decisões continuam a ser clínicas, mas têm mais dados para essa tomada de decisão”, revelou. Por isso, “o empurrão para a transição digital permitiu também desenvolver ferramentas e funcionalidades para apoiar o diagnóstico por parte dos técnicos do setor”, concluiu Rui Costa.

O caso de sucesso da Well’s na uniformização da cadeia de abastecimento na saúde

Ainda no evento Madalena Centeno, Gestora de Saúde e Standards da GS1 Portugal, apresentou o trabalho que a organização tem vindo a fazer com a Well’s, a cadeia de parafarmácias da Sonae MC, num projeto de Fiabilidade de Leitura em Armazém (FLA). O plano implementado na insígnia da SONAE MC especializada em saúde, bem-estar e ótica, dividido em quatro fases, tem como objetivo aumentar a eficiência da conferência das entregas na plataforma de receção, uniformizar as codificações aplicadas e lançar bases para a digitalização da cadeia de abastecimento.

Com base nos resultados iniciais apresentados, foi possível aferir que, entre os mais de 200 fornecedores avaliados, 68% já utilizam a simbologia GS1. No entanto, vários fornecedores utilizam mais do que um tipo de simbologia nas suas entregas (entre caixas soltas, paletes multiproduto e paletes monoproduto), sendo evidente a falta de coerência nas próprias entregas, comprometendo a eficiência.

Madalena Centeno sublinhou que o projeto, que arrancou em janeiro, terá uma avaliação mais profunda em setembro, para que, após 9 meses de trabalho, seja possível perceber o verdadeiro impacto deste trabalho no armazém da Well’s.

“Este é um projeto inovador na área da saúde que pretendemos fazer chegar a outras empresas, de forma a evoluir para um setor mais digitalizado que garante uma melhor comunicação e interoperabilidade entre fornecedores e retalhistas”, concluiu a Gestora da GS1 Portugal.   

Fonte: 
Adagietto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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