Saúde da visão

Falta de cuidados primários para a saúde da visão agrava listas de espera após pandemia

Um artigo sobre o presente, o futuro e os desafios para a recuperação da normalidade da prestação dos cuidados para a saúde da visão em Portugal na fase pós COVID-19, publicado hoje no Journal of Optometry, mostra que a suspensão de cuidados de saúde irá conduzir a um aumento das listas de espera para o acesso a consultas de especialidade e tratamento médico.

De acordo com a publicação, os problemas que conduziram à insuficiência na prestação dos cuidados para a saúde da visão em Portugal antes da pandemia estão totalmente identificados pela Organização Mundial de Saúde e para os quais há um plano de ação global, que o Ministério da Saúde optou por não implementar mantendo um modelo de cuidados do século XIX e recorrendo a sistemas de gestão de inscritos para consulta e cirurgia dispendiosos, seletivos e ineficazes.

Para Raúl de Sousa, Presidente da APLO “a inexistência de cuidados primários para a saúde da visão no Serviço Nacional de Saúde conduziu às cronicamente extensas listas de espera para consulta hospitalar de especialidade de oftalmologia, que emergem desta pandemia amplificadas numa escala nunca vista. Qualquer solução para este cenário só é possível com alterações de paradigma e aplicação de novos modelos de cuidados”.

A publicação realça ainda que, se os modelos de previsão e projeção futura das condições visuais e das suas limitações eram já preocupantes, a pandemia e a suspensão dos cuidados vieram inflacionar os números e criar um cenário assustador para a saúde da visão nacional.

A criação de plataformas de cuidados primários para a saúde da visão, de facto, e como preconizadas na Estratégia Nacional para a Saúde da Visão em 2018, devidamente integradas na atual rede de cuidados primários, aproveitando a logística e recursos físicos já existentes e recorrendo aos recursos humanos altamente qualificados produzidos nacionalmente pelas universidades portuguesas – os optometristas – apresenta-se como a solução mais indicada para a resolução de um problema crónico do SNS e que o cenário pandémico veio acentuar, esclarece em comunicado. 

O artigo refere ainda que a evidência científica, as recomendações de organizações e entidades de relevo e as boas práticas, bem como a análise do impacto socioeconómico, são claros e apontam a mesma solução: um SNS deve estar assente numa sólida base de cuidados primários, diferenciados, multissectoriais e multidisciplinares, e no que diz respeito aos cuidados primários para a saúde da visão, devem ser prestados, por definição, pelo optometrista. Mais importante do que a reforma do SNS, que se mostrou à altura de assombroso desafio, este período obriga à reforma do pensamento e ao desligar de práticas obsoletas e ineficazes.

"No que aos cuidados para a saúde da visão diz respeito, e antevendo o catastrófico cenário pós-pandémico, apenas é aceitável uma solução que aproveite os recursos humanos e materiais já existentes no país e que não se submeta aos interesses económicos e corporativos que procuram manter o status quo. Os portugueses merecem mais e melhor", diz o presidente da APLO. 

 

Fonte: 
Miligrama
Nota: 
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