Principais conclusões

Especialistas debatem a importância de uma resposta global no combate à pandemia

A GS1 promoveu, nos passados dias 20, 21 e 22 de abril, em suporte digital, a segunda edição da GS1 Healthcare Online Summit, subordinada ao tema “Global Standards for Global Health”, que contou com a participação de representantes de todos os elos da cadeia de abastecimento da saúde e de vários países do mundo.

Esta iniciativa teve por objetivo a promoção do debate sobre temas relevantes para o setor, em particular, a importância e benefícios da aplicação dos standards GS1 na criação de uma cadeia de abastecimento única e uniforme, a nível global, para todo o setor da saúde.

A pandemia deixou a descoberto algumas das dificuldades sentidas no setor da saúde, muitas delas com impacto transversal, afetando de igual modo países desenvolvidos e algumas das regiões mais pobres do planeta. Algumas das dificuldades apontadas relacionam-se com a distribuição de vacinas, com a necessidade de serialização dos medicamentos, o combate à respetiva contrafação e manipulação, a não uniformização do mercado global ou, simplesmente, a capacidade de assegurar a saúde e o bem-estar, tanto dos pacientes, como das próprias equipas de saúde.

Para debater estes aspetos, a GS1 reuniu representantes de entidades e Governos de todo o mundo, desde a Etiópia aos E.U.A, passando pelo Japão, numa análise a estes desafios. Foram partilhados casos de sucesso relativos à forma como alguns países têm vindo a aplicar os standards GS1 como resposta determinante no aumento da segurança, eficiência e rastreabilidade, explicando como e com que impacto direto na gestão da pandemia e efeito estrutural na criação de uma cadeia global de abastecimento no setor.

Combate à contrafação e manipulação de medicamentos

A implementação de um sistema de Track & Trace foi a solução apresentada por vários speakers para um combate mais eficaz à contrafação e manipulação de medicamentos. Yudha Bramanti, representante da Biofarma – o maior fabricante de vacinas da Ásia do Sul –, implementou um sistema de Track & Trace de vacinas baseado na colocação de códigos GS1 Datamatrix nos frascos de vacinas, nas cartonagens secundárias e nas embalagens terciárias de transporte com GTIN, Lote, Data de Validade e Número de Série. Este sistema, juntamente com a criação de uma plataforma para registo da informação de produto, permitiu, antes de mais, a identificação das unidades primárias, secundárias e terciárias; para além disso, estabelecer as ligações de agregação para transporte; e, por fim, a integração desta informação na base de dados que, por sua vez, integra a base de dados do Regulador. Também Lindsay Tao, da Johnson & Johnson, revelou o trabalho que a farmacêutica tem vindo a desenvolver, culminando num projeto piloto de implementação de standards GS1 – aplicação de GS1 Datamatrix com GTIN – e de uma solução de Track & Trace, end-to-end, com resultados claros para melhor gestão do stock e distribuição de vacinas contra a Covid-19. A J&J pretende, agora, implementar esta solução a larga escala e alargá-la à gestão de todos os seus produtos.

Na esfera pública, a realidade não é muito diferente. Mohd Azuwan Bin Mohd Zubi, da National Pharmaceutical Regulation Authority da Malásia, revela que, naq    uele país, foi o Regulador quem avançou para uma solução complexa de Track & Trace para combater a falsificação e manipulação de medicamentos no mercado nacional. Um sistema assente em quatro pilares fundamentais - Proteção, Cadeia de Abastecimento, Visibilidade e Segurança dos Pacientes - e que, à data de hoje, já conta com uma base de dados central onde estão registados todos os produtos com recurso a GS1 Datamatrix, prevendo, no futuro, a adoção de GDSN – Global Data Synchronization Network. O Ministro da Saúde do Japão, Masayuki Muraoka, trouxe o exemplo do seu país que, de momento, tem 100% das embalagens primárias e secundárias de medicamentos e quase 100% das embalagens terciárias identificadas com GTIN.

Finalmente, Ramy Guirguis, Ph.D., Senior Information Technology Advisor, da US Agency for International Development (USAID), destaca alguns dos problemas que, no caso da USAID, a cadeia registava: fragmentação, duplicação e inexistência de sistema, pelo que se tornava extremamente desafiante ligar todos os elos da cadeia de valor. Esta era uma dificuldade transversal aos vários fornecedores, uma vez que cada um detinha uma identificação própria que não estava alinhada com as dos demais – impedindo a identificação e, naturalmente, a comunicação entre as partes. Por essa razão, em 2014, a USAID iniciou a adoção dos standards GS1 e, desde então, já assistiu a um progresso gigante em termos de supplier compliance, com a maioria dos fornecedores a obedecerem a esta regulamentação e a maioria das encomendas já identificadas com o GTIN.

Colaboração e entreajuda

Apesar dos excelentes resultados trazidos pelos vários representantes a esta cimeira, Xinbing Wang, da Mindray Biomedical, na China, alerta para a dificuldade de os produtores cumprirem todos os requisitos dos diferentes enquadramentos jurídicos adotados nos diferentes mercados, sendo a adoção de sistemas que assegurem o cumprimento dos requisitos regulamentares diferenciados dos vários países, a chave para uniformizar todo o processo.

Essa uniformização anda de mão dada com um outro aspeto reforçado por Leigh Verbois, Ph.D., US Food and Drug Administration, Offi­ce of Drug Security, Integrity, and Response: a colaboração e envolvimento entre os vários atores do setor. Nos E.U.A., muitos produtos acabam por ser distribuídos online, o que os coloca fora da rede legítima de distribuição, daí a relevância da serialização, ressalva. Por outro lado, apenas uma verdadeira uniformização e colaboração entre os demais stakeholders da cadeia de abastecimento, será capaz de facilitar este processo, através daquele que é o bem mais precioso da atualidade: informação, partilhada e acessível.

Assegurar a proteção e o bem-estar dos pacientes e das equipas clínicas

Vários representantes focaram a sua análise na urgência de adoção de mecanismos capazes de assegurar o bem-estar e a segurança dos pacientes e equipas clínicas. Heran Gerba, Director-General, Ethiopia FDA, revela que a segurança do paciente é a prioridade do seu Governo, num país onde a contrafação de medicamentos é um problema com consequências muito graves: 170 000 crianças morrem de pneumonia e 160 000 pessoas de malária. A EFDA é a entidade responsável por um plano estratégico a 10 anos para a implementação de standards globais como mecanismo contra a contrafação. Por outro lado, Anne Snowdon, Director of Clinical Research, HIMSS Analytics, Canadá, reforçou que a adoção dos standards GS1 contribuíram para uma maior agilidade na gestão da pandemia. Um dos aspetos-chave, era o impacto das dificuldades na gestão de stocks de medicamentos e na capacidade de resposta aos pacientes, sentida pelos profissionais de saúde. Note-se que, em 2020, 20% das enfermeiras que trabalhavam no combate à pandemia, no Canadá, despediram-se dos seus locais de trabalho, o que revelou um sentimento de medo e mal-estar entre os profissionais. Nesse sentido, a HIMSS implementou ferramentas de amadurecimento da cadeia de abastecimento clínica integrada que, graças às plataformas digitais, permite a disponibilização de um sistema de informação de saúde para todos os cidadãos – no fundo, é o caminho de futuro da cadeia de abastecimento, com vista à prestação de cuidados de saúde personalizados e precisos, com recurso a codificação GS1.

Restabelecer e reforçar a confiança na indústria farmacêutica

Greg Reh, Global Life Sciences & Health Care Leader, Deloitte, dedicou a sua apresentação ao tema da confiança no setor da saúde. Em concreto, sobre como podemos prever e sustentar um bom nível de confiança no setor, apresentando a adoção de standards e de tecnologia como potenciadores-chave de confiança. Ao longo dos anos, a confiança na indústria farmacêutica – mas, também, nos Governos e entidades como ONG’s –, tem vindo a decrescer. Um cenário que a pandemia reverteu com o desenvolvimento das vacinas, no caso das farmacêuticas, e da forma como Governos e outras entidades foram capazes de unir forças para responder ao desafio. Greg Reh apresentou dados que revelam que logo após a vacina da J&J ter sido suspensa no mercado Norte Americano, mais de 90% da população sabia da suspensão, com 80% a considerar que a FDA estava a agir de forma responsável. Já Peter Lachman, CEO ISQua, reforça, ainda, que para desenvolver confiança é necessário implementar sistemas confiáveis e seguros. Parte desses sistemas assenta na adoção e implementação de standards, que permite homogeneizar os procedimentos e, com isso, melhorar a confiança e articular com rigor a utilização de recursos humanos e científicos. Peter Lachman refere expressamente que o sistema de standards GS1 permite alcançar a confiança através da identificação (de empresas, produtos, localizações, fornecedores, pacientes, etc.), da captura de dados (como códigos de barras e EPCs) e, finalmente, da partilha de informação sensível na prestação de cuidados de saúde ao paciente e na gestão das relações comerciais e institucionais subjacentes, inerentes aos serviços e produtos contratados. Se tomarmos a pandemia como exemplo, verificamos que a aplicação de standards permitiu, por exemplo, aceder a informação global, concreta e fiável sobre a vacina, facilitando a sua gestão, stock e distribuição.

Sobre um próximo cenário pandémico, hipotético, todos os representantes presentes na cimeira deste ano afirmaram unanimemente que, nessa eventualidade, estaremos mais bem preparados e seremos capazes de uma resposta mais rápida e eficaz. Em concreto, a uniformização da cadeia de abastecimento virá permitir uma maior troca de informação, em tempo real, entre os vários pontos dessa cadeia e assegurar um maior volume e qualidade de informação a ser disponibilizada a todas as equipas técnicas.

As conclusões dos painéis dos três dias desta cimeira foram unânimes quanto ao potencial da adoção de standards na cadeia de abastecimento da saúde. A possibilidade de as entidades e Governos disporem, na gestão de uma pandemia, do acesso a uma informação unívoca e global, permitiu combater aspetos concretos tão diversos como a contrafação das vacinas e de medicação chave no combate aos efeitos clínicos resultantes do vírus, ou reforçar a confiança num setor que era maioritariamente entendido como focado no lucro, pouco acessível e caro. Além disso, tornou clara a importância da colaboração entre os vários elos da cadeia de abastecimento e de uma partilha global de informação entre os vários países e entidades. Apenas estando assegurada a confiança no sistema e a comunicação entre as partes, pode o mundo responder a uma crise de dimensão idêntica.

Fonte: 
Adagietto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
GS1