Conclusões do Congresso Português de Cardiologia 2021

Encargos com doenças cardiovasculares estagnaram, mas estas continuam a ser a principal causa de morte em Portugal

Desafios estruturais, dificuldades no planeamento estratégico do financiamento e ausência de estratégias de avaliação claras para a inovação podem ser algumas das principais causas que impedem a melhoria dos cuidados de saúde na área cardiovascular.

Com o objetivo de levantar questões e propor soluções para ultrapassar os desafios atuais e futuros da abordagem às doenças cardiovasculares em Portugal, um grupo de especialistas de renome da área da Saúde em Portugal (decisores, gestores de saúde e médicos cardiologistas) criou um Think Tank a partir do qual surgiram novas medidas relacionadas com a gestão das doenças cardiovasculares (DCV). As conclusões, integradas no documento “Innovation and Healthcare Process in the Cardiovascular Patient in Portugal”, foram apresentadas por Fausto Pinto, Presidente da Federação Mundial do Coração e por Adalberto Campos Fernandes, ex-Ministro da Saúde, no decorrer do Congresso Português de Cardiologia 2021.

 As conclusões apresentadas no estudo apontam como principais causas do encargo com as doenças cardiovasculares em Portugal, o estilo de vida, a inatividade física, o consumo excessivo de sal, a prevalência da diabetes e a falta de adesão ao tratamento.

O grupo de especialistas destacou ainda que a gestão das doenças cardiovasculares em Portugal enfrenta vários desafios, como a “desigualdade no acesso à saúde” (relacionada com fatores geográficos e socioeconómicos) e a “fragmentação do sistema de saúde”, além da “falta de integração e comunicação entre os Cuidados de Saúde Primários e Cuidados de Saúde Secundários”, assim como entre os diferentes profissionais de saúde envolvidos na prestação de cuidados cardiovasculares. Além disso, foram também encontradas dificuldades no planeamento estratégico do financiamento do Sistema de Saúde, aliadas à falta de estratégias de avaliação claras para a inovação.

De acordo com Fausto Pinto, “a área da prevenção está muito ligada à Saúde Pública e tem havido dificuldades na sua implementação. Um dos desafios é o impacto que as medidas de prevenção têm, uma vez que não acompanham o impacto das terapêuticas, que têm sido muito mais eficazes. Existem, de facto, barreiras na otimização da utilização das ferramentas de que dispomos e em como expandi-las para podermos implementar melhor as estratégias de prevenção na área cardiovascular, sabendo que 80% das DCV podem ser prevenidas”. O Presidente da Federação Mundial do Coração adiantou ainda que: “Temos sido muito melhores a tratar do que a prevenir”.

O documento indica, ainda, algumas potenciais soluções para melhorar a situação atual, que incluem: a criação de planos de saúde regionais para dar resposta aos imperativos e ações estratégicas sugeridas no Plano Nacional de Saúde, melhorando a coordenação entre o sistema nacional e a realidade local; a definição de percursos claros e multidisciplinares para o doente, envolvendo todos os níveis da prestação de cuidados de saúde e promovendo a coordenação destes cuidados desde as fases inicias; e o desenvolvimento de programas de educação estruturados, que envolvam as associações de doentes e os Médicos dos Cuidados de Saúde Primários habilitados.

No seguimento das intervenções, e no âmbito do Congresso Português de Cardiologia, Adalberto Campo Fernandes acrescenta que “os principais fatores da carga das DCV identificados estão relacionados com as estratégias e medidas de prevenção, sobretudo na prevenção primária. É por isso necessária a existência de um Plano Nacional de Saúde que defina as grandes linhas mestre, cuja estratégica está alinhada com as orientações internacionais, mas adaptada à proximidade. Enquanto um Plano Nacional é um plano técnico, elaborado por grandes peritos nacionais, os planos regionais e locais devem envolver quem conhece a realidade local, os utentes, as associações de doentes e também outros atores que não apenas a comunidade médica”.

Em Portugal, as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morbilidade, mortalidade e incapacidade. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as mulheres e a segunda entre os homens, apenas atrás do cancro. Além disso, em Portugal as doenças cerebrovasculares contribuem em maior número para a mortalidade do que a doença cardíaca coronária, em comparação com a maioria dos outros países europeus.

Estima-se que 75% dos casos de doenças cardiovasculares se devem fatores de risco cardiovascular modificáveis. Isto significa que as doenças cardiovasculares podem ser prevenidas, tratadas e controladas. Dado o considerável impacto económico, social e cultural das doenças cardiovasculares, é inegável a necessidade de encontrar estratégias de promoção da saúde e prevenção da doença que tenham em consideração as características da população portuguesa.

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