Em Portugal estima-se que ocorram cerca de 5.000 episódios de anafilaxia por ano

Segundo a presidente da EAACI, Maria Torres, esta é uma oportunidade para colocar a anafilaxia no topo da agenda mediática e para reforçar a sensibilização de profissionais de saúde e da população em geral para uma das mais graves e potencialmente fatais, reações alérgicas.
A anafilaxia é uma reção de hipersensibilidade sistémica (generalizada), de início rápido e potencialmente fatal. Segundo Natacha Santos, imunoalergologista e representante do grupo de Interesse em Anafilaxia e Doenças Imunoalérgicas Fatais da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), os, felizmente, raros casos de morte estão associados a edema da glote, broncospasmo ou hipotensão grave.
Segundo a especialista, “vários fatores podem interferir com a gravidade da reação anafilática, entre os quais o próprio alergénio, a quantidade e forma de contacto com o alergénio, a sensibilidade individual, outras doenças como a asma ou doenças cardíacas e vários cofatores que podem, em alguns casos, aumentar a gravidade da reação, como as infeções, a toma de anti-inflamatórios não esteróides, o exercício e até a falta de sono no dia da reação”, pelo que “numa pessoa que já teve um episódio de anafilaxia, não conseguimos prever a gravidade do episódio seguinte”.
Há, contudo, sinais de alerta para que de imediato sejam ativados os serviços de socorro. A anafilaxia desenvolve-se de forma súbita, “com uma reação de urticária (manchas vermelhas no corpo) e/ou angioedema (inchaço), acompanhada de sintomas respiratórios (ex.: aperto na garganta - edema da glote, falta de ar, pieira), sintomas cardiovasculares (hipotensão, tonturas, desmaio/perda de consciência) e/ou gastrointestinais (dor abdominal, vómitos ou diarreia)”. Mais raramente, podem ocorrer os outros sintomas, sem haver necessariamente reação cutânea. “Se tiver o início imediato de um ou vários dos sintomas descritos, deve recorrer imediatamente a observação médica”, alerta Natacha Santos. Em qualquer idade um indivíduo pode desenvolver uma doença alérgica e a primeira manifestação pode ser uma anafilaxia.
De acordo com a imunoalergologista, “o tratamento mais rápido e eficaz é a adrenalina intramuscular na coxa, administrada em caneta autoinjetável ou, por profissional de saúde, com seringa e agulha, na dose de 0,01mg/kg até ao máximo de 0,5mg de adrenalina 1mg/mL. A administração de adrenalina intramuscular pode ser repetida após 5-15 minutos, se necessário. Podem também ser utilizados outros medicamentos, de acordo com os sintomas, como antihistamínicos, broncodilatadores, soroterapia e corticoides, mas que nãos substituem nem devem atrasar a administração de adrenalina”.
Após a ocorrência de um primeiro episódio de anafilaxia, é importante investigar a causa, de forma a poder evitar os desencadeantes específicos de cada pessoa. “Em alguns casos, como na alergia ao veneno de abelhas ou vespas, é possível fazer imunoterapia (vacinas), e na alergia a alguns alimentos como o leite, o ovo e o amendoim, também existem tratamentos de imunoterapia oral com o próprio alimento, com o objetivo de diminuir a reatividade. Vários estudos têm também demonstrado que podemos diminuir a probabilidade de desenvolver alergia alimentar, se não atrasarmos a introdução de alimentos como o leite (ou derivados), ovo e amendoim (em formas adequadas à idade) nos bebés”, explica a especialista.
Do ponto de vista epidemiológico, a nível global, a incidência de anafilaxia é de 50 episódios por 100.000 pessoas-ano, pelo que se estima que em Portugal possam ocorrer cerca de 5000 episódios por ano.
“As três causas mais frequentes de anafilaxia são os alimentos, os medicamentos e a picada de insetos (sobretudo abelhas e vespas). Em Portugal, os alimentos que mais frequentemente causam alergia nas crianças com menos de 6 anos são o leite, o ovo e os frutos secos e, nas crianças mais velhas e adultos, as três principais causas de anafilaxia alimentar são o marisco, a fruta fresca, nomeadamente o pêssego, o kiwi e a maçã, e em terceiro lugar os frutos secos”.
