Estudo “Perceção sobre uso de antibióticos”

Consumo de antibióticos aumenta 10% em apenas 2 anos

A manutenção de comportamentos como o consumo inapropriado de antibióticos promete agravar os problemas relacionados com a resistência aos mesmos. Estima-se que em 2050 as resistências aos antibióticos possam ser responsáveis por mais mortes do que o cancro e afetem pessoas de todas as idades, com consequências graves para a sociedade e para o ambiente. Se nada mudar, dentro de alguns anos poderemos voltar à era pré-antibióticos, período em que ferimentos e infeções simples podiam causar danos consideráveis ou mesmo levar à morte, transformando procedimentos médicos de rotina em procedimentos de elevado risco.

Com o objetivo de avaliar o estado atual do conhecimento dos portugueses em relação ao consumo de antibióticos e o potencial impacto destes comportamentos no problema da resistência aos antimicrobianos, o Grupo de Investigação e Desenvolvimento em Infeção e Sépsis (GISID), com o apoio do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa, promoveu a realização de um inquérito nacional sobre o consumo de antibióticos. Este estudo vem na sequência de um inquérito semelhante realizado em 2020, e que servirá agora de base comparativa. O estudo agora realizado irá ainda permitir avaliar se alguns dos comportamentos e perceções relativos à toma de antibióticos foi influenciado pela pandemia da COVID-19.

O estudo mostra que:

  • Em apenas 2 anos houve um aumento significativo no número de inquiridos que afirmou tomar antibióticos: 83%, mais 10% que em 2020.
  • Há mais mulheres a tomar antibióticos (45% vs. 39% homens) e são principalmente os homens quem mais os evita, mesmo quando prescritos pelo médico (3%).
  • 53% dos inquiridos revelou que a prescrição do antibiótico foi feita por um médico em ambiente de ambulatório (consultório), uma ligeira diminuição face a 2020 (55%). Em segundo lugar, com 19% surge a prescrição médica em ambiente de urgência e em 3º lugar a prescrição no contexto de um tratamento dentário (15%). No total, 94% das respostas incidem na prescrição por um profissional médico.
  • 77% não consegue identificar o antibiótico que toma e nem sempre quem diz saber os identifica corretamente.
  • Aumentou o número de pessoas que referem que a duração do tratamento é a informação mais importante ao ser-lhe prescrito um antibiótico (de 37% em 2020 para 52% em 2022).
  • Apenas 50% dos respondentes entrega os medicamentos que já não usa na farmácia. São principalmente as mulheres que o fazem (30% vs. 20% dos homens), e pessoas com mais de 65 anos (15%) e entre os 35-65 (entre 9% e 10%). Não se verificam diferenças significativas face a 2020 quanto ao comportamento para com os medicamentos remanescentes.
  • 14% dos inquiridos admitem ter antibióticos armazenados em casa. 57% destes afirma tê-lo desde o último tratamento. São mais os homens quem armazena medicamentos em casa (58% vs. 42%) e os mais velhos (+55 anos) são quem menos o faz.
  • Aumentou o número de respondentes a indicar que são as infeções causadas por bactérias as que devem ser tratadas com antibióticos (42% em 2022 vs. 36% em 2020).
  • 28% dos inquiridos consideram que o uso do antibiótico está limitado à medicina humana (25% em 2020). Denota-se uma melhoria no conhecimento quanto a outras áreas de consumo de antibióticos apontadas, em que “todas as anteriores” (Medicina veterinária + Agropecuária) é referida em 62% das respostas e “Medicina veterinária” em 34% das respostas.
  • 30% não conhecia o conceito de resistência aos antimicrobianos – uma ligeira descida face a 2020 em que 34% nunca tinha ouvido falar do termo. Dos 70% que já conhecia, 55% são mulheres, e principalmente nas faixas etárias mais velhas: >65 anos (22%), 55-65 (17%), 45-55 (19%) e 35-45 (20%).
  • São sobretudo as mulheres (52%) que consideram que a resistência aos antimicrobianos é um problema associado ao consumo de antibióticos, salientando-se que a faixa que dá menos relevância ao tema é a dos mais jovens (<=25 anos apenas 10% conhece o assunto).
  • 13% das pessoas consideram ser possível obter antibióticos na farmácia sem receita médica, uma percentagem ligeiramente menor que em 2020 (16%).
  • Com a COVID-19, 9% das pessoas admite ter tomado antibiótico. Destas, 57% foram mulheres.

 

Fonte: 
Multicom
Nota: 
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