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Cirurgia inovadora para tratamento do Glaucoma realizada no Santa Maria

O serviço de oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN) foi o primeiro a realizar em Portugal uma operação inovadora para tratamento do glaucoma. A cirurgia, que consiste na colocação de um dispositivo que funciona como um dreno para retirar líquido do interior do olho, foi realizada pela primeira vez em julho de 2019 no Hospital de Santa Maria, que no total já operou 20 doentes com esta técnica.

Cirurgias menos invasivas e mais rápidas, pós operatórios mais curtos e menos dolorosos e melhor gestão de tempos de espera são pontos destacados por  Luís Abegão Pinto, oftalmologista do CHULN responsável pela introdução da técnica no nosso país. Ao contrário das cirurgias anteriores, que demoravam cerca de uma hora, esta intervenção está concluída em cerca de 15 minutos, o que contribui não apenas para melhorar a lista de espera mas também para abordar outros casos menos graves que de outra forma poderiam passar despercebidos.

“A cirurgia do glaucoma ‘clássica’ demora uma hora no bloco e tipicamente implica cinco consultas de seguimento nas primeiras 6 semanas, portanto se operássemos vinte doentes num mês isso implicava logo a realização de cem consultas adicionais”, detalha o especialista do serviço de oftalmologia do CHULN. “Esta técnica traz grandes vantagens nesta área, passamos para um modelo de cirurgias minimamente invasivas, que como têm muito menos riscos podem ser oferecidas a doentes muito mais abaixo na pirâmide da gravidade, com o olho em estádios menos graves da doença”.

O dispositivo conhecido por InnFocus fica implantado dentro do olho. A imagem é a de uma espécie de aspirador com 8mm de tamanho que fica implantado dentro olho, debaixo da pálpebra, funcionando como um tubo por onde o líquido sai e que diminui a pressão intraocular. “Vemos o doente no dia seguinte e três semanas depois, não há pontos para tirar. Estamos a fazer a passagem para cirurgias mais rápidas, mais seguras, com a vantagem para o doente de ser visto duas vezes e não cinco. Se pensarmos que o Hospital de Santa Maria acompanha doentes do Minho ao Algarve, são muito menos deslocações, muito menos ambulâncias, num procedimento que é protocolado, que tem regras pré-determinadas”, explica o especialista.

Procedimento já com impacto na lista de espera para consulta nesta área

“Neste momento temos meia dúzia de doentes em lista de espera para este tipo de cirurgia, quando começámos tínhamos mais vinte doentes em espera, vai permitir-nos gerir melhor a lista”, sublinha Luís Abegão Pinto, acrescentando que “se anteriormente o serviço tinha 80 consultas reservadas para o seguimento dos doentes operados e se agora consegue reduzir as consultas de acompanhamento pós-operatório para metade, pode deixar entrar mais doentes novos”.

De acordo com o especialista, a principal mensagem a passar é que esta unidade está a ficar dotada “de uma capacidade de resposta maior e com mais capacidade tecnológica”. Quer isto dizer que, os casos moderados, que antigamente dificilmente conseguiriam chegar à fase cirúrgica, “têm agora uma resolução perfeitamente atempada. A nossa lista de espera de doentes candidatos a esta cirurgia anda na ordem das semanas, e não anos”, reforça o especialista do CHULN. “Há potencial para captação de doentes e para sensibilizar os médicos para que não deixem o doente chegar a um estado mais avançado de glaucoma para o enviarem, porque temos técnicas para o evitarem”.

Santa Maria é hospital de referência

Luís Abegão Pinto alerta para a atenção a ter na escolha dos doentes elegíveis para esta operação, que traz ganhos na qualidade de vida dos doentes e no acesso às consultas em casos mais simples mas pode não resultar em casos mais complexos. “Isto é tentar enganar o organismo e tentar fazer com que o organismo não o detete, mas não é uma cirurgia para a vida toda”, realça.

“Mas a ideia é também não traumatizar o doente com uma cirurgia agressiva que não quererá repetir. Este pós-operatório dura um mês, mês e meio, se daqui a 5 anos disser ao doente que precisa de fazer outra cirurgia a maior parte dos doentes estará disponível”, acrescenta.

O serviço de Oftalmologia do CHULN foi também o primeiro a utilizar o dispositivo específico de drenagem de humor aquoso, para os casos de glaucomas graves. A técnica foi introduzida em Março e já foram apresentados “resultados muito bons em conferências internacionais”. Santa Maria tornou-se ainda no hospital que mais cirurgias faz a glaucomas congénitos, com cerca de 40 cirurgias realizados nos últimos dois anos, tornando-se numa referência nesta área.

Em Portugal, há cerca de 220 a 250 mil pessoas que sabem que têm glaucoma. Mas as estatísticas internacionais mostram que metade das pessoas não sabe que tem glaucoma, portanto podemos estar a falar de 450 mil a 500 mil pessoas que podem ter a doença no nosso país.

Fonte: 
Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN)
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN)