Cães e gatos podem ter de ser vacinados contra a Covid-19?

Apesar de um número limitado de animais infetados “não existem evidências da transmissão do vírus” para os humanos

Um grupo de cientistas veio alertar que os animais domésticos podem ter de ser vacinados contra a Covid-19, uma vez que, afirmam, “a transmissão de animais para humanos representa um risco significativo a longo prazo”. No entanto, Sónia Miranda, vice-presidente da Ordem dos Médicos Veterinários, afirma que parece “precipitado” retirar conclusões por agora.

Segundo os especialistas da University of East Anglia (UEA), do Earlham Institute em Norwich e da University of Minnesota, “não é impensável que a vacinação de algumas espécies de animais domésticos possa ser necessária para conter a disseminação da infeção”.

Cock van Oosterhout, professor de genética evolutiva da UEA, afirma aliás que “faz sentido desenvolver vacinas para animais de estimação. Temos realmente de estar preparados para qualquer eventualidade”, acrescentando que a Rússia já começou a desenvolver uma vacina com esse intuito.

“A SARS-CoV-2 pode infetar uma ampla gama de espécies hospedeiras, incluindo gatos, cães, martas e outras espécies selvagens e domesticadas e, portanto, a vacinação de animais domésticos pode ser necessária para interromper a evolução do vírus”, acrescentam os especialistas para quem “a evolução contínua do vírus em hospedeiros animais representa um risco significativo a longo prazo para a saúde pública”.

Para Sónia Miranda, vice-presidente da Ordem dos Médicos Veterinários, é precipitado falar em vacinação de animais domésticos.  

“A maior parte da transmissão do SARS-COV 2 aos humanos nesta fase é humana direta, o papel dos animais de estimação na transmissão, atualmente é negligenciável. Muitos animais podem tornar-se reservatórios de vírus, incluindo animais selvagens. Mas não se sabe se estes reservatórios poderão permitir que uma doença ressoe numa população humana vacinada. A imunidade populacional humana estará sim comprometida se a amplitude da população humana vacinada não for global”, comenta.

Segundo a médica veterinária, existe “efetivamente um número limitado de animais de companhia no mundo inteiro em que foi comprovado COVID positivo, mas não existe evidências científicas da transmissão do vírus destes animais para os humanos. Houve sim, mas ainda está em investigação um surto em algumas comunidades na Dinamarca, que se pensa poder estar relacionado com martas contaminadas”.

“Tanto quanto sei, a Rússia é o único país com investigação sobre uma vacina contra animais, mas no momento não encontro mais informações sobre as espécies-alvo, sobre o estado do desenvolvimento”, acrescenta referendo que tal como acontece com “as vacinas humanas atuais”, que se sabe que protegem contra os sintomas da doença, também numa na vacinação animal não se saberá a “verdadeira eficácia no impedimento da transmissão da doença”.

“Por tudo isto, parece-me completamente precipitado afirmar uma diminuição de transmissão do SARS-COV2 aos humanos, pela vacinação dos animais. Na minha opinião, a prioridade é vacinar o maior número possível de pessoas e continuar a seguir as medidas de distanciamento social e proteções individuais como o uso de máscara, mesmo quando vacinadas. Mas, sabendo a quantidade de perguntas ainda por serem respondidas e as novas variantes de Covid-19 que vão surgindo, a comunidade científica deve continuar a trabalhar na investigação de todas as possíveis formas de controlo da evolução e disseminação desta pandemia”, afirma.

Nota: 
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