Cientistas mantêm vivos embriões humanos 'in vitro' durante tempo recorde

Investigadores das universidades de Cambridge, no Reino Unido, e Rockefeller, nos Estados Unidos, interromperam deliberadamente o crescimento dos embriões antes dos 14 dias permitidos pela legislação britânica para os estudar.
Os laboratórios costumam manter o desenvolvimento dos embriões, fecundados 'in vitro', durante sete dias antes de os transferir para o útero da mulher, para que possam sobreviver. Até agora, não tinham sido cultivados para lá dos nove dias.
Segundo o estudo, publicado na revista Nature Cell Biology, a técnica usada pode melhorar os tratamentos de fertilidade, aprofundar as causas dos abortos involuntários e revolucionar o conhecimento sobre as primeiras etapas da vida humana.
Graças à técnica, os cientistas puderam estudar, pela primeira vez, a formação do epiblasto, a diminuta acumulação de células obtida aos dez dias de fecundação e que dará origem ao feto.
Para conseguir que os embriões continuassem a formar-se fora do útero materno, os investigadores conceberam um método químico que permitiu reproduzir o estado em que se encontrariam em condições naturais.
De acordo com o estudo, o método requer um meio rico em nutrientes e uma estrutura que possibilita ao embrião "implantar-se".
"O desenvolvimento embrionário é um processo extremamente complexo e, ainda que o nosso sistema, talvez, não possa reproduzir, por completo, todos os aspetos desse processo, permitiu revelar já uma capacidade importante de auto-organização dos blastocistos [embriões com cinco ou seis dias de vida], que, até agora, desconhecíamos", assinalou uma das autoras da investigação, Marta Shahbazi.
A principal causa dos abortos involuntários, nas primeiras fases da gravidez, por exemplo, é a incapacidade de alguns embriões implantarem-se no útero.
Em Portugal, é proibida a investigação científica com embriões humanos.