I Congresso de Psicologia e Ciências da Saúde da Universidade Europeia

Inteligência artificial na saúde: especialistas defendem utilização com propósito humano e alertam para dilemas éticos

A inteligência artificial (IA) tem potencial para elevar o padrão de qualidade dos cuidados de saúde, desde que usada de forma ética e com propósito humano. Esta foi a principal conclusão da mesa-redonda dedicada ao impacto das novas tecnologias na saúde, integrada no I Congresso de Psicologia e Ciências da Saúde da Universidade Europeia. O debate reforçou a importância de colocar o doente no centro das decisões e de garantir que a tecnologia atua como aliada, e não substituta, dos profissionais de saúde.

Os especialistas defenderam que a IA deve servir para otimizar tarefas, aumentar a capacidade de resposta e apoiar a decisão clínica, sem comprometer a transparência, a supervisão humana ou a dimensão ética. Enquadrada desta forma, a tecnologia é vista como um instrumento capaz de melhorar a eficiência e a qualidade dos cuidados, preservando o carácter humano que define a relação terapêutica.

A mesa-redonda “Novas Tecnologias e Inteligência Artificial: Impacto na Saúde e Mudança Comportamental”, moderada por André Silva, da Universidade Europeia, contou com a participação de Rita Veloso e Marta Marques, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, Alberto Alves, diretor-adjunto do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física da Universidade da Maia, e Belén Rando, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Centro de Administração e Políticas Públicas.

Ética, automação e eficiência: o equilíbrio possível na era digital da saúde

O debate explorou o papel crescente da inteligência artificial na transformação do setor e nas mudanças comportamentais que daí resultam. Os oradores sublinharam que a automação só cria valor quando liberta tempo para o acompanhamento próximo e para a decisão clínica, sem afastar o contacto humano que caracteriza a prática da saúde.

Foram apresentados exemplos que ilustram uma integração bem-sucedida da tecnologia sem perda de empatia. No IPO do Porto, a introdução de quiosques de check-in reorganizou equipas e permitiu dedicar mais tempo ao apoio direto aos doentes. Já no Hospital de Santo António, no Porto, um sistema automatizado de chamadas para o circuito de cirurgia de ambulatório aumentou a eficiência e melhorou a experiência do utente, mantendo a personalização do atendimento.

Os especialistas alertaram, contudo, para os dilemas éticos associados à utilização da IA em contextos clínicos. A delegação de decisões a algoritmos baseados em probabilidades levanta questões sobre responsabilidade, justiça e valores. Defenderam, por isso, o desenvolvimento de modelos de IA transparentes, auditáveis e orientados por princípios éticos sólidos.

O painel incluiu ainda uma reflexão histórica sobre a evolução da IA: desde as primeiras experiências de simulação cognitiva, nos anos 50, até à atual era das redes neurais e dos sistemas generativos, o que demonstrou que a IA não é apenas uma inovação tecnológica, mas também um desafio social e filosófico que redefine o papel dos profissionais e das instituições.

Por fim, foi destacada a importância de investir em formação, literacia digital e ética aplicada, preparando as equipas para uma integração plena e responsável das novas tecnologias. A reorganização dos serviços e a criação de competências transversais surgem como passos decisivos para que a IA se afirme como um verdadeiro instrumento de apoio, capaz de ampliar a qualidade e a capacidade dos cuidados de saúde, sem perder o essencial: o olhar humano.

O I Congresso de Psicologia e Ciências da Saúde, promovido pela Universidade Europeia, decorreu nos dias 31 de outubro e 1 de novembro sob o mote “Novas Tecnologias e Inteligência Artificial: Desafios e Oportunidades na Saúde e Desenvolvimento Humano”. Organizado pela Faculdade de Ciências da Saúde e pelo Pólo de Investigação CIDESD-UEuropeia, o congresso reuniu investigadores, docentes, estudantes e profissionais das áreas da Psicologia e da Saúde para debater o papel das novas tecnologias e da IA na promoção do bem-estar e do desenvolvimento humano.

 

Fonte: 
Lift
Nota: 
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