Setor das Tecnologias Médicas em Portugal contribui para a redução de internamentos e custos no SNS

De acordo com os resultados do estudo, os investimentos e os avanços nas Tecnologias Médicas (TM) transformam profundamente o panorama da saúde, com contributos essenciais para alcançar melhores resultados em saúde, com impacto no aumento da esperança e qualidade de vida da população, mas também para a obtenção de ganhos relevantes para o sistema de saúde.
O estudo abrange uma análise quantitativa, que caracteriza o setor das Tecnologias Médicas em Portugal em termos de número e tipologia de empresas, emprego, nível de qualificação dos recursos humanos, contributo das empresas para a balança comercial, investimento em Investigação e Desenvolvimento, entre outros, e uma análise qualitativa, que avalia a criação de valor e o contributo das tecnologias médicas para a sustentabilidade do SNS e para todos os intervenientes do ecossistema da saúde, incluindo doentes e utentes, profissionais de saúde, prestadores de cuidados médicos, financiadores, setor público e privado”.
Segundo este estudo, o valor do mercado de TM em Portugal tem demonstrado uma evolução positiva, passando de cerca de 1.440 milhões de euros em 2018 para cerca de 2.200 milhões de euros em 2023, o que representa um aumento médio anual de 8,8%. Este desempenho reflete a relevância crescente das TM no panorama da saúde. Contudo, ocorre num período de aumento dos custos de contexto, impulsionados, entre outros fatores, pela implementação dos novos Regulamentos relativos aos Dispositivos Médicos e aos Dispositivos Médicos para diagnóstico in vitro, que têm imposto exigências acrescidas e investimentos adicionais às empresas do setor.
Segundo Antonieta Lucas, presidente da APORMED, “Este estudo foi pensado para colmatar a falta de disponibilização de informação sobre o setor das Tecnologias Médicas em Portugal. Neste sentido, a APORMED considerou que seria oportuno e de grande utilidade promover um estudo de mercado que abrangesse uma dimensão quantitativa e qualitativa do setor que esta Associação representa. Do nosso ponto de vista, acreditamos que as suas conclusões vão contribuir para mais ganhos em saúde, maior sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e melhor acesso dos cidadãos a tecnologias médicas inovadoras que melhorem a qualidade de vida”.
E acrescenta: “As empresas de dispositivos médicos contribuem para a sustentabilidade do sistema de saúde e desempenham um papel crucial para a economia do país através dos mais de 7000 postos de trabalho, da elevada qualificação dos seus recursos humanos e da capacidade exportadora, que no caso desta indústria, atinge 400 milhões de euros”.
No que se refere à caracterização do mercado nacional, tendo em conta a amostra de empresas analisadas, verifica-se que 53% da faturação das empresas é direcionada às entidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS), 30% aos hospitais e clínicas privadas, 14% ao retalho, sendo que os restantes segmentos apresentam uma representatividade residual.
A análise da repartição do volume de negócio das empresas por áreas de atuação do produto, revela diferentes segmentos com base no seu desempenho e potencial:
- A área de cardiologia destaca-se com uma das que apresenta as maiores taxas de crescimento e a maior quota de mercado, na média de 2022 a 2024, assim como o maior volume de vendas em 2024. Também as áreas de ortopedia, dispositivos auditivos e oftalmologia integram o grupo das que apresentam taxas de crescimento mais elevadas e quotas de mercado bastante relevantes.
- Os Dispositivos Médicos para diagnóstico in vitro apresentam a segunda maior quota de mercado na média dos últimos 3 anos e o segundo maior volume de vendas em 2024, registando, no entanto, uma taxa de crescimento negativa entre 2022 e 2024, decorrente do período pós-pandemia.
- A Imagiologia e a cirurgia geral e plástica encontram-se num patamar intermédio em que as suas quotas de mercado são ainda moderadas, mas o seu rápido crescimento pode potenciar a sua maior representatividade no mercado.
Relativamente aos recursos humanos, o setor das TM tem vindo a aumentar o número de empregos criados, apresenta uma força de trabalho mais jovem, com níveis de qualificação significativamente superiores à média nacional e com menor antiguidade nas empresas, refletindo uma dinâmica de renovação e elevada especialização.
No que se refere à criação de valor, o estudo demonstra que o sistema de saúde em Portugal tem beneficiado de forma progressiva do investimento em tecnologias médicas, que têm impulsionado o desenvolvimento de modelos de cuidados mais proativos, eficientes e promotores de maior autonomia e bem-estar dos doentes. aplicáveis nos diferentes níveis de cuidados de saúde, no setor público, privado e social.
O exemplo incluído no estudo, é o contributo das Tecnologias Médicas para o aumento das cirurgias de ambulatório, nas quais o doente é admitido, intervencionado e recebe alta no próprio dia, sem necessidade de internamento, permitindo assim uma recuperação mais rápida que antecipa o regresso ao trabalho. O estudo estima que o total dos benefícios associados aos dias de internamento evitados entre 2014 e 2023 se situe na ordem dos 469,3 milhões de euros e que os benefícios associados às perdas de produtividade evitadas entre 2014 e 2023 se situe nos 55,5 milhões de euros.
A Europa assume um papel estratégico no setor das TM, posicionando-se como o segundo maior mercado mundial. Os cinco países mais representativos são a Alemanha, a França, a Itália, o Reino Unido e a Espanha, representando cerca de dois terços do mercado europeu.
Com um valor de 2.200 M€ o mercado das TM em Portugal apresenta características similares ao mercado europeu no que se refere à estrutura e tipologia de operadores económicos. Na sua grande maioria o mercado é constituído por PMEs (Pequenas e Médias Empresas), embora em Portugal, estas empresas apresentem uma dimensão média inferior. Em termos de despesa per capita em TM, o valor registado em Portugal é ainda significativamente inferior ao valor da média europeia.
As perspetivas de evolução para os próximos anos apontam para a manutenção do crescimento, a um ritmo médio anual próximo de 5%, estimando-se que o valor do mercado mundial possa alcançar em 2028 cerca de 750.000 M€.