Cancro da cabeça e pescoço: mais de metade dos casos continuam a ser diagnosticados tarde

Em Portugal, entre 2.500 e 3.000 pessoas são diagnosticadas anualmente com cancro da cabeça e pescoço, sendo que mais de metade dos casos são detetados em fase avançada, comprometendo significativamente as hipóteses de cura e a qualidade de vida dos doentes. Esta realidade torna ainda mais urgente reforçar a mensagem central da campanha: se os sintomas persistirem por mais de três semanas, é fundamental procurar avaliação médica.
Os sinais de alerta incluem úlceras na boca que não cicatrizam, rouquidão persistente, dor de garganta, dificuldade em engolir, caroços no pescoço e obstrução nasal unilateral. Quando detetado precocemente, este tipo de cancro apresenta taxas de cura entre 80% e 90%, enquanto em estádios avançados esse valor desce para cerca de 50%.
Este tipo de cancro é o sétimo mais comum na Europa. Apesar disso, permanece fortemente subdiagnosticado. Em mais de metade dos casos, o diagnóstico ocorre em fase avançada da doença, o que compromete as hipóteses de cura e a qualidade de vida dos doentes. É por isso que a literacia em saúde e a sensibilização da população são fatores decisivos na luta contra esta doença.
Prevenção acessível e informação para todos
Com o mote “Equal Access, Equal Care: Uniting Europe Against Head and Neck Cancer”, a campanha Make Sensepretende reforçar também a importância da prevenção, alertando para os principais fatores de risco: o consumo de tabaco e álcool e a infeção por HPV (Papilomavírus Humano). Neste contexto, será dado especial enfoque à vacinação contra o HPV, particularmente entre os jovens, bem como à promoção da saúde oral e à redução de comportamentos de risco.
“A deteção precoce e o acesso atempado ao tratamento continuam a ser determinantes para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida dos doentes. É essencial que a informação chegue a toda a população, independentemente da sua localização ou condição socioeconómica”, sublinha Ana Joaquim, presidente do GECCP.
A campanha deste ano terá uma presença ativa em todo o país. Estão previstas sessões de rastreio gratuitas para diagnóstico precoce, dirigidas a populações de risco, com destaque para as que terão lugar no IPO do Porto, a 16 de setembro, e no IPO de Lisboa. Em parceria com o projeto CASA – Centro de Apoio aos Sem Abrigo, estão também previstas ações nos municípios de Albufeira e do Porto, a 17 de setembro, e em Coimbra, em data a confirmar. A Comunidade Vida e Paz realizará rastreios dirigidos aos seus utentes em dois polos de Lisboa (Chelas e Olaias) também no dia 17 de setembro. Para além dos rastreios, a campanha inclui sessões educativas em escolas, dirigidas à sensibilização dos mais jovens, e ações de formação para profissionais de saúde, com foco na deteção precoce e na correta referenciação. Destaque ainda para o 15.º Simpósio Nacional do Cancro da Cabeça e do Pescoço, que se realiza a 20 de setembro no IPO do Porto. A encerrar a semana, a equipa de andebol do Futebol Clube do Porto entrará em campo, no dia 20 de setembro às 18h00, com camisolas alusivas à campanha.
“Temos hoje melhores ferramentas para diagnosticar e tratar, mas continuamos a falhar no tempo. Só um verdadeiro esforço coletivo, entre profissionais, instituições e sociedade civil, pode inverter esta tendência”, reforça Cláudia Vieira, médica oncologista e membro da direção do GECCP.
Make Sense foi ao encontro dos jovens nos festivais de verão
Antes mesmo da semana oficial da campanha, a mobilização arrancou já no verão com a campanha “Língua Para Fora”, uma das principais ações de sensibilização promovidas em Portugal. A iniciativa foi lançada no contexto do Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço, assinalado a 27 de julho, e tem como objetivo alertar os mais jovens para a importância da observação da cavidade oral e da língua como gesto simples de auto-rastreio. Em formato interativo, a campanha tem marcado presença em festivais de verão, como o Jardins do Marquês – Oeiras e o Sumol Summer Fest, estando também prevista a sua presença no Caixa Alfama, a 26 e 27 de setembro. Através de experiências criativas como o Espelho Selfie e o Mural Coletivo de Línguas, a campanha tem envolvido milhares de jovens num apelo à vigilância ativa da saúde oral, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Cirurgia Orofacial e do GECCP.
A campanha Make Sense 2025 conta, uma vez mais, com o apoio da Merck e da MSD, e pretende envolver toda a sociedade num esforço conjunto para salvar vidas, promovendo uma cultura de maior vigilância, prevenção e igualdade no acesso aos cuidados de saúde.