Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação: uma homenagem ao passado e um olhar no futuro

Esta efeméride visa não só sensibilizar a população para a importância da doação de órgãos para salvar múltiplas vidas assim como homenagear os dadores, as suas famílias, os recetores e os profissionais de saúde envolvidos.
Cristina Jorge, presidente da SPT, explica que os transplantes têm um significado especial para as famílias de quem doa e recebe órgãos. “Nas doações em vida, há um ato de altruísmo que permite dar mais vida e qualidade de vida a quem é transplantado. No caso de quem perde um ente querido que doa os seus órgãos, tem de certa forma, o consolo de saber que estes permitiram dar vida a outras pessoas. E as famílias de quem é transplantado, têm a alegria de saber que o seu familiar terá a oportunidade de viver mais e com maior qualidade de vida”.
Assim, neste evento comemorativo, o escritor Pedro Chagas Freitas dará o seu testemunho enquanto pai de uma criança que recebeu um transplante de fígado, havendo também lugar para um testemunho de uma família de um dador de órgãos.
Cinquenta e seis anos após o marco histórico do primeiro transplante renal em Portugal, a comemoração irá também dedicar-se a homenagear o passado e a perspetivar o futuro. O Prof. Linhares Furtado, médico cirurgião que realizou o primeiro transplante em Portugal, será homenageado com um busto descerrado neste dia e um concerto pela Orquestra Clássica do Centro, com o apoio da Câmara Municipal de Coimbra.
No que diz respeito ao futuro, serão debatidas perspetivas sobre a importância da comunicação e interação da parte laboratorial da histocompatibilidade com as equipas de transplantação que acompanham os doentes – uma perspetiva que não era habitual no passado. Será também abordada a complexidade dos processos inerentes à avaliação de um candidato a transplante e os desafios que os profissionais de saúde que atuam nesta área da doação e transplantação de órgãos enfrentam no seu dia a dia para permitirem que todo o processo decorra da melhor forma. Todos estes contributos são essenciais para os bons resultados que a transplantação nacional tem alcançado.
Em 2024, Portugal foi o primeiro país a nível mundial de dadores em morte cerebral, registou-se o “recorde histórico” de órgãos colhidos, realizou-se o número mais alto de transplantes cardíacos (58) e foram transplantados 538 rins, o segundo melhor resultado de sempre, segundo dados do IPST. Além disso, também em 2024, foi realizado em Portugal o primeiro transplante hepático robótico da Europa e o segundo a nível mundial, tendo já sido efetuados até à data 20 transplantes de fígado com esta tecnologia.
No entanto, há desafios que se mantêm. A idade dos dadores é alta e a taxa de aproveitamento de órgãos desceu ligeiramente, o que se traduziu numa redução do número global de órgãos transplantados em relação a 2023.
Cristina Jorge realça que “estes resultados são ainda mais relevantes porque Portugal não tem uma abordagem tão transversal em relação à doação de órgãos, comparativamente a outros países, que incluem a colheita de órgãos em doentes em paragem cardiocirculatória controlada. Além disso não se pode descurar que o contexto destes resultados é no âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que padece de constrangimentos significativos tanto em termos de recursos humanos (como falta de profissionais ou com sobrecarga horária) como em termos de carência ou até ausência de renovação quer de instalações e de equipamentos. No entanto, a coordenação do SNS em conjunto com outros agentes, como por exemplo as forças de segurança ou a força aérea, essenciais no transporte de órgãos, tem-nos permitido atingir estes resultados extraordinários”.
Recorde-se que, no nosso país, a colheita só é permitida nos dadores em morte cerebral, ou seja quando a morte foi verificada por critérios neurológicos, e nos falecidos por paragem cardiocirculatória não controlada, em que a morte, súbita, foi verificada por ausência de função cardiocirculatória em doentes submetidos a manobras de reanimação sem sucesso. Também o transplante de dador vivo só é possível em alguns órgãos, sendo o renal o mais comum.
“É importante lembrar que o principal objetivo do Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação é sensibilizar a população para a importância da doação de órgãos, como um gesto solidário que pode salvar ou melhorar a vida de milhares de pessoas. A transplantação permite em muitos casos o retorno dos doentes a uma vida socialmente ativa e produtiva. Resulta de um grande avanço da Medicina do século XX, e é com orgulho que podemos afirmar que Portugal continua a ser um exemplo mundial nesta área”, conclui a Presidente da SPT.