Anemia aplástica grave tratada com transplante autólogo do sangue do cordão umbilical

O menino, de 3 anos, sem historial clínico relevante, apresentou-se no hospital com febre e otite. Após uma semana de tratamento com antibiótico, observou-se o aparecimento de erupções cutâneas e petéquias (pequenas manchas vermelhas na pele). Os exames efetuados revelaram níveis baixos de todas as células do sangue – glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas. Posteriormente, uma biópsia revelou que a medula óssea, onde estas células são produzidas, se encontrava com um número de células estaminais anormalmente baixo, tendo sido estabelecido o diagnóstico de anemia aplástica grave, com necessidade de transplante hematopoiético.
Tendo em conta que os membros da família não foram considerados elegíveis como dadores para o transplante e após ter conhecimento de que a criança tinha a sua amostra de sangue do cordão umbilical armazenada, a equipa médica decidiu avançar com o transplante autólogo de sangue do cordão umbilical. Nas semanas de recuperação que se seguiram, observou-se o aumento gradual das contagens celulares sanguíneas. Cerca de 18 semanas depois do transplante, a biopsia revelou uma medula óssea normal, indicando a recuperação total do doente e, mais de um ano e meio após os exames realizados revelaram que a criança se mantinha livre da doença.
Segundo Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, “a história desta criança não é única. Em Portugal, verificou-se recentemente um caso semelhante. Uma criança com anemia aplástica grave foi tratada, no IPO de Lisboa, recorrendo ao seu sangue do cordão umbilical, previamente armazenado na Crioestaminal. O transplante correu bem e, hoje, o menino encontra-se saudável e livre da doença”.
Artigos anteriores tinham já reportado o tratamento bem-sucedido de crianças com anemia aplástica grave utilizando sangue do cordão umbilical autólogo. Os autores destes artigos são unânimes: tendo em conta os resultados obtidos, o recurso a sangue do cordão umbilical autólogo, quando disponível, deve ser considerado para o tratamento de anemia aplástica adquirida grave.
A anemia aplástica é uma doença hematológica rara que pode ser fatal se não for tratada atempadamente. O sistema imunitário ataca e destrói as células estaminais da medula óssea, responsáveis pela produção das células do sangue e do sistema imunitária, deixando o doente anémico e vulnerável a infeções e hemorragias. Nos casos mais graves, em que não é possível controlar a doença com agentes imunossupressores, o tratamento passa pela realização de um transplante hematopoiético (transplante de células estaminais hematopoiéticas, formadoras das células do sangue e sistema imunitário), preferencialmente tendo um irmão compatível como dador.