Privação de sono associada a diferentes quadros de demência no idoso

Segundo Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do sono, “a insuficiência de sono afeta todo o organismo e antes de mais, o cérebro. Convém lembrar que dormir seis ou menos horas por noite durante uma semana tem o mesmo impacto que uma noite inteira sem dormir. A pessoa privada de sono tem, no dia seguinte, menor atenção, lentificação do raciocínio, menor racionalidade na tomada de decisões. Torna-se mais irritável. Fica sonolenta. Adormece ou tem episódios incontroláveis de microsono o que pode ter efeitos calamitosos no trabalho ou na condução”.
A privação de sono é a primeira causa de acidentes rodoviários nos Estados Unidos. Em Portugal não sabemos. Aliás, as campanhas de prevenção rodoviária nem tocam nesta questão. Raramente ouvimos “Com falta de sono, não conduza” ou algo semelhante, explica o Joaquim Moita.
No idoso, a privação está associada a diferentes quadros de demência. Aliás, os sintomas das duas entidades são muito parecidos. Os estudos são claríssimos: dormir pouco, seja por opção, obrigação ou doença, favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, arritmias, enfarte), de diabetes mellitus e alterações hormonais. Nos homens ocorrem deformação dos espermatozóides e uma diminuição significativa dos níveis de testosterona. Também nas mulheres se verifica diminuição da produção hormonal. Um importante estudo americano mostra que uma em cada três enfermeiras que trabalham por turnos com períodos noturnos têm alterações menstruais.
Determinados cancros como o da próstata e da mama são mais frequentes nos privados de sono. Finalmente está bem estabelecido que o sono insuficiente leva a uma diminuição das defesas imunitárias contra agentes infeciosos. E agora que o assunto está na ordem do dia lembramos que a vacinação antigripal é muito menos eficaz.
Que fatores podem afetar a qualidade do sono?
Dentre a multiplicidade de fatores que podem afetar a qualidade do sono destacamos os que nos parecem mais importantes bem como a forma de os contornar.
1 - Para adormecer, a temperatura interna do corpo tem que diminuir. Lembramos que a temperatura interna ou central é diferente da superficial. O aumento da temperatura na pele (particularmente mãos, pés e face) está inversamente relacionado com a temperatura interna. Daí, o benefício de um banho quente – que também é relaxante -, ou de ter os pés aquecidos no inverno. No verão, dormimos tanto pior quanto mais elevada for a temperatura ambiente. A regra é a de que o ambiente do quarto esteja entre os 18 e 20 graus centígrados. As previsões relacionadas com o aumento da temperatura devido às alterações climáticas nas próximas décadas apontam para que os sonos passem a ser mais curtos.
2 – A luz, branca, fria, designada como de laser azul, presente nos dispositivos eletrónicos (telemóveis, televisores, lâmpadas LED, etc.) inibe a produção da hormona melatonina que nos ajuda a adormecer. Assim, para além de fresco, o quarto deve estar escuro.
3 – Ansiedade e pensamentos ruminativos podem impedir-nos de adormecer ou readormecer quando acordamos a meio da noite. Não leve problemas para a cama. Registe (num papel, por exemplo) o que não fez hoje e pense que resolve isso amanhã. Há múltiplas técnicas e rituais de relaxamento que pode usar. Para além do banho quente, uma chávena de chá (evite excesso de líquidos) sem cafeína, bem quente, tranquiliza e diminui a temperatura interna do corpo.
4 – Um estilo de vida saudável é fundamental. Evite o álcool e a cafeína depois do almoço. Se não conseguir adormecer por ter fome, prefira os hidratos de carbono. O exercício físico vigoroso (ginásio, corrida por exemplo) nas horas que precedem o sono são desaconselhados. A temperatura e o cortisol aumentam e ambos dificultam o adormecimento e a qualidade de sono.
5 – As doenças do sono que são frequentes e incapacitantes (síndrome de apneia do sono, insónia crónica, síndrome de pernas inquietas, etc.) devem ser diagnosticadas e tratadas. A dor impede o sono e a falta deste agrava a dor, um círculo vicioso que deve ser avaliado e interrompido.
6 - A regularidade é a principal regra para dormir bem. Levante-se e deite-se à mesma hora todos os dias. Não se esqueça que deve dormir oito horas. Se necessário use um alarme que lhe lembre que está na hora de deitar.