Células estaminais podem prevenir declínio cognitivo após radioterapia

Durante a última década, o desenvolvimento de tratamentos cada vez mais eficazes no combate ao cancro tem permitido aumentar a esperança de vida dos doentes oncológicos. Contudo, estes tratamentos apresentam frequentemente efeitos adversos severos, que acabam por comprometer a qualidade de vida dos doentes de forma permanente. A radioterapia utilizada para erradicar tumores cerebrais provoca danos neurológicos que podem resultar, entre outros, em dificuldades de memória, aprendizagem, linguagem, atenção, coordenação motora e declínio intelectual global.
O que se pretende é que este problema, atualmente sem solução, possa ser resolvido, pelo menos em parte, recorrendo a terapia com células estaminais mesenquimais. Estas possuem importantes propriedades anti-inflamatórias e regenerativas, cuja aplicação terapêutica está já a ser explorada em várias doenças, com resultados promissores.
De forma a avaliar se as células estaminais mesenquimais poderiam prevenir os danos neurológicos provocados por radioterapia, os autores do estudo compararam três grupos de animais com tumores cerebrais: os que receberam radioterapia; os que receberam radioterapia e células estaminais; e os que receberam placebo (grupo controlo). Demonstrou-se que as células, administradas por via intranasal, chegaram ao cérebro dos animais, que foram, de seguida, sujeitos a um conjunto de testes comportamentais. Nos vários testes realizados para avaliar a coordenação motora, força muscular, olfato e capacidade cognitiva, observou-se que os animais tratados com células estaminais tiveram uma performance superior aos que não receberam células, o que indica que as células estaminais mesenquimais do tecido adiposo foram eficazes na prevenção de lesões neurológicas induzidas por radioterapia.
“O que este estudo vem demonstrar, é que as células estaminais mesenquimais do tecido adiposo são capazes de minimizar os danos neurológicos provocados por radioterapia em modelo animal, constituindo uma base importante para a realização de ensaios clínicos que testem esta metodologia em doentes oncológicos, com vista à melhoria da sua qualidade de vida”, refere Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal.
Os resultados apresentados indicam que as células estaminais ajudam a suprimir a inflamação e a morte de neurónios após radioterapia, o que pode estar na base da recuperação neurológica observada nos animais testados. Os autores deste estudo sublinham a necessidade de continuar a investigação nesta área para melhor compreender os mecanismos envolvidos e defendem que a administração intranasal é uma forma prática e minimamente invasiva de fazer chegar células diretamente ao cérebro, num curto espaço de tempo e de forma disseminada por todo o cérebro, de modo a poderem aí exercer o seu efeito terapêutico.
Referências:
Soria B, et al. Human Mesenchymal Stem Cells Prevent Neurological Complications of Radiotherapy. Front Cell Neurosci. 2019. 16;13:204.