Portugueses criam sistema para limpar águas residuais à base de casca de pinhão

Uma equipa da Universidade de Lisboa e do Laboratorio de Engenharia Civil (LNEC) foi distinguida com o prémio Wex Global 2019 – Inovação em Tecnologia, pelo projeto que levou à produção sustentável de carvões ativados a partir de casca de pinhão para remoção dos resíduos farmacêuticos em estações de tratamento de águas residuais urbanas, no âmbito do projeto 'LIFE Impetus', financiado pela União Europeia.
A investigação que já passou a fase de teste pretende começar a produzir este material à escala industrial. No entanto, como em Portugal não tem indústria com capacidade tecnologia para o fazer, a produção será feita fora do país.
A investigadora do LNEC, Maria João Rosa, explicou que o projeto visa melhorar o controlo de compostos farmacêuticos nas águas residuais urbanas através da absorção pelo carvão ativado em pó dos resíduos químicos de origem farmacêutica.
“É uma opção tecnológica que envolve baixos custos de investimento, tem alguns custos de operação, mas é de fácil aplicação e permite que as entidades gestoras tenham uma ferramenta para, com relativa facilidade, aumentarem o controlo de alguns destes compostos”, afirmou a investigadora.
O prémio foi atribuído por um painel internacional de especialistas dos setores da água e da energia. A equipa vencedora é constituída por Ana Paula Carvalho e Ana Sofia Mestre, (ULisboa) e Maria João Rosa, Rui Viegas e Elsa Mesquita (LNEC).
Segundo Maria João Rosa, o projeto pode ser adotado por estações de tratamento de águas residuais (ETAR) onde o controlo instalado não é suficiente para este tipo de resíduo, resultante dos fármacos tomados pela população.
Dada a estrutura porosa e capacidade de absorção da casca do pinhão, bem como a abundância da matéria-prima, esta foi uma opção natural. “Em vez de compostos comerciais, usámos produtos novos, feitos a partir de resíduos nacionais – neste caso a casca de pinhão – e produzimos carvões de forma ambientalmente sustentável”, acrescentou.
O novo carvão é “tão bom ou melhor do que os comerciais”, garantiu Maria João Rosa.
Os resíduos de origem farmacológica devem ser controlados para não serem descarregados nos meios recetores, quando as águas residuais tratadas são descarregadas no destino final, seja nos rios ou no mar ou com fins de reutilização.
O processo foi já testado em protótipo e à escala piloto em duas ETAR nacionais e seguem-se estudos à escala real também numa ETAR.
O material acrescentado à água é depois removido, com os resíduos absorvidos.
“Desenvolvemos uma ferramenta para desenho do processo de aplicação deste carvão, por forma a fazê-lo mais eficientemente, ou seja, gastarmos metade da quantidade que normalmente é usada já pelo mundo quando esta solução é escolhida”, exemplificou a investigadora.