Reino Unido

Médica acusada de matar centenas com opiáceos culpa falta de meios

Escândalo envolvendo a administração de diamorfina a centenas de doentes, ao longo de doze anos, leva britânicos a debaterem eficiência do serviço nacional de saúde do país. Theresa May promete tomar medidas

"Ela sempre manteve que foi uma médica trabalhadora e dedicada, fazendo o melhor pelos doentes numa parte do serviço que tinha recursos muito inadequados. Pedimos que respeitem a nossa privacidade. E ela não fará mais quaisquer comentários". Foi desta forma, numa declaração lida pelo marido sem direito a perguntas, que Jane Barton, médica suspeita de ter precipitado a morte de centenas de doentes, ao longo de décadas, respondeu às acusações de que é alvo.

Durante mais de uma década, começando no final dos anos 1980, a assistente clínica do Gosport War Memorial Hospital, no Reino Unido, prescreveu e ordenou que fossem administrados a pacientes poderosos opiáceos. Nomeadamente Diamorfina, escreve o Diário de Notícias, que é essencialmente o equivalente da heroína para uso médico. A prática, confirmou agora um inquérito independente, foi não só totalmente inadequada para os quadros clínicos das pessoas em causa, sobretudo idosos, como contribuiu decisivamente para acelerar o fim de vida de centenas deles.

Pelo menos 456 mortes foram relacionadas diretamente com o uso indevido da medicação, mas há suspeitas de que o verdadeiro total seja bastante superior. "Tendo em contas os registos desaparecidos, devem ter havido pelo menos mais 200 pacientes cujas vidas foram encurtadas em consequência direta do padrão de prescrição e administração de opiáceos que se tinha tornado a norma no hospital naquele período", disse o reverendo James Jones, antigo bispo de Liverpool, que presidiu à comissão de inquérito.

Durante os doze anos em que trabalhou naquele hospital Jane Barton assinou um total de 854 certidões de óbito.

O facto de existirem denúncias sobre este caso desde os anos 1980 - primeiro de pessoal do próprio hospital e depois de muitos familiares -, para além de uma investigação, concluída em 2009, já ter relacionado a clínica com doze mortes sem que esta tivesse sido punida, está a gerar uma onda de indignação no Reino Unido, com muita gente a exigir uma revisão do funcionamento das instituições ligadas ao serviço nacional de saúde daquele país.

A primeira-ministra Theresa May já admitiu no parlamento que este caso terá de implicar reformas. "Temos de garantir que estas coisas não se repetem no futuro", disse, admitindo que "as conclusões [do inquérito] são obviamente perturbadoras".

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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