Apenas 43% dos doentes com Artrite Reumatóide estão a ser seguidos por um reumatologista

Em Portugal, estima-se que a Artrite Reumatóide afete entre 0.8 a 1.5% da população, sendo a sua prevalência duas a quatro vezes superior em mulheres (1.1%) em comparação com os homens (0.3%). A Artrite Reumatóide é uma doença inflamatória crónica imunomediada que se caracteriza por um processo inflamatório ao nível das articulações e que, se não for tratada atempadamente, pode culminar na destruição das articulações. Embora não haja cura para esta doença, a Artrite Reumatóide apresenta um bom prognóstico a longo prazo.
Apesar dos números, o diagnóstico da artrite reumatóide continua a ser realizado tardiamente, comprometendo o tratamento e potenciando a evolução destrutiva da articulação. O diagnóstico da Artrite Reumatóide deverá ser feito, idealmente, nos primeiros 6 meses após o início dos sintomas. Porém, esta realidade está ainda longe de ser alcançada, sendo que o tempo médio atual até ao diagnóstico se fixa em aproximadamente 2 anos, influenciando negativamente o prognóstico da doença a longo prazo.
Diagnosticar precocemente a doença, traduz-se numa melhor qualidade de vida, dado que reduz significativamente a probabilidade de dano estrutural, o grau de dependência no dia-a-dia e também a mortalidade precoce. Desta forma, evita-se também que os doentes se vejam obrigados a deixar as suas atividades profissionais por incapacidade, tornando-os produtivos do ponto de vista laboral.
Sabe-se que cerca de metade dos doentes com Artrite Reumatóide se vê obrigada a cessar a atividade profissional nos primeiros dez anos após aparecimento dos primeiros sinais da doença. Por outro lado, há doentes que, perante um quadro de dor intensa que se arrasta por semanas ou meses, opte por se automedicar, tomando analgésicos que só vão “disfarçar” a dor e que nada fazem para travar a doença.
Assim, o grande desafio está em diminuir o tempo que decorre até o doente procurar ajuda médica e até o médico de família realizar a referenciação para o Reumatologista.
Por que razão o diagnóstico é feito de forma tardia?
Embora seja de extrema importância que o diagnóstico seja feito atempadamente, a verdade é que isso não acontece. Entre as principais razões encontram-se a falta de literacia da população relativamente à área da saúde em geral e à Reumatologia em particular; a subvalorização dos sintomas por parte dos doentes, que tardam em procurar ajuda médica; o reconhecimento tardio dos sintomas por parte dos médicos de família/ Medicina Geral e Familiar, o que se traduz numa referenciação igualmente tardia para o especialista; por fim, a falta de centros de Reumatologia em algumas partes do território nacional.
Proposta da Sociedade Portuguesa de Reumatologia para inverter esta conjuntura:
Para contrariar o panorama atual, é necessário que se criem estruturas que permitam que os cidadãos estejam consciencializados para os principais sintomas e para importância de procurar o médico precocemente; intervir junto da Tutela, de modo a que o acesso a serviços de saúde especializados seja mais equitativo em todo o país e criar mais serviços de Reumatologia.
Finalmente, é de extrema importância registar os doentes na plataforma Reuma.pt, onde constam informações sobre os doentes reumáticos em Portugal, permitindo uma melhor gestão desta doença.
Nas palavras do Presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Dr. José Canas da Silva, “é fulcral que se dê a importância devida à Artrite Reumatóide, que afeta milhares de portugueses e é uma das principais causas de absentismo no trabalho”.
O conhecimento da doença é também essencial e conhecer os sintomas é fundamental. Os principais sintomas são a dor ao mobilizar as articulações e rigidez (prisão de movimentos), em especial nas primeiras horas do dia. Pode ainda aparecer vermelhidão ou edema (inchaço) nas articulações, consequência da inflamação naquele local. De forma geral, as primeiras queixas prendem-se com dor nos pés e mãos, que depois podem evoluir para outras articulações, como joelhos, cotovelos e ancas. Ao longo do tempo, a deterioração progressiva das articulações e tecidos pode originar deformidades que impedem de levar a cabo atividades como abrir garrafas, atar os sapatos, ou mesmo escrever com uma caneta ou lápis.