Ordem dos Enfermeiros alerta:

Urgência das Caldas da Rainha caótica

O Serviço de Urgência do Hospital das Caldas da Rainha funciona de forma caótica, com 30 ou 40, chegando mesmo às 50 macas, quase em permanência, barrando até a passagem dos profissionais de saúde para socorrer os doentes nelas deitados, alerta a Ordem dos Enfermeiros.

“Apetece-me perguntar se é preciso acontecer uma desgraça nos serviços de saúde para que se olhe convenientemente para esta realidade, e se actue”, interroga a Presidente do Conselho Directivo da Secção Regional do Centro da OE, Enf.ª Isabel Oliveira, que visitou aquele serviço na sexta-feira passada.

Nessa Visita de Acompanhamento do Exercício Profissional (VAEP), uma competência da OE, e na qual foi acompanhada pelo Presidente do Conselho de Enfermagem Regional do Centro, Enf.º Hélder Lourenço, constatou que continuavam em maca doentes que tinham entrado no serviço de urgência há três ou quatro dias.

“Eles chegam a situações em que o número de macas no corredor é tão extenso, é tão grande que eles nem sequer conseguem passar através das macas para socorrer, para atender as pessoas, para chegarem às pessoas em tempo útil”, observa a Presidente do Conselho Directivo Regional da SRC.

A Enf.ª Isabel Oliveira refere que em 2013 a média de dias de internamentos na sala de observações da Urgência do Hospital das Caldas da Rainha foi de 4.3 dias, quando o recomendável é que ao fim de 48 horas os doentes sejam devidamente encaminhados para serviços de medicina ou outros, até poderem regressar para junto das famílias.

“Um serviço de urgência não é um serviço de internamento. Os doentes não podem estar ali, como me referiram, uma semana, duas semanas, e chegaram até a ter doentes um mês em maca no serviço de urgência”, afirma, ao reportar-se ao Hospital das Caldas da Rainha, integrado no Centro Hospitalar do Oeste.

Refere que os problemas nas urgências daquele hospital existiram sempre, mas agravaram-se desde Outubro de 2013, quando o hospital de Alcobaça, que até então internava doentes das Caldas da Rainha, passou a integrar o Centro Hospitalar de Leiria.

No entanto, considera que o problema é mais complexo, e que resulta da incapacidade do país em adaptar-se à realidade da inversão da pirâmide etária, em que neste momento Portugal já tem 136 idosos por cada 100 jovens.

A média de idades dos utentes que acorrem ao Serviço de Urgências do Hospital das Caldas da Rainha é superior a 80 anos, e na sua área apenas existe no Bombarral uma unidade de cuidados continuados, manifestamente insuficiente.

Muitos dos utentes que acorrem aos serviços de urgências, segundo relatos de responsáveis do hospital, residem em lares que não dispõem de cuidados de enfermagem nem de medicina, e por isso não actuam na prevenção das agudizações das doenças já existentes nos idosos.

Outros casos resultam de interrupções terapêuticas decididas pelos próprios idosos, por não terem dinheiro para comprar os medicamentos.

Na visita que efectuou na sexta-feira passada, a Presidente do Conselho Directivo da SRC da Ordem dos Enfermeiros encontrou a equipa do serviço de urgência “cansada e no limite das suas forças”.

A própria administração, pelas restrições a que está sujeita, já nem pode fazer contratações a termo certo para substituir os profissionais com atestado de doença prolongada ou com licenças de maternidade, o que agrava a dificuldades já existentes.

“Se me dizem que precisamos de ser conscienciosos na gestão dos recursos públicos, eu concordo, mas eu pergunto se os serviços de saúde têm de dar lucro, ou se têm que efectivamente dar resposta àquilo para o qual foram concebidos, que é garantir um direito constitucional da população a cuidados de saúde”, interroga a Enf.ª Isabel Oliveira.

Fonte: 
GCIC - Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros
Nota: 
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