Ordem preocupada

Número de médicos que está a abandonar o país

A Ordem dos Médicos demonstrou preocupação com a emigração de médicos e com os cortes no sector, que estão a dificultar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde.

“Os portugueses vão continuar a sentir a falta de médicos, porque os médicos estão a emigrar. É preciso dar condições aos médicos para se fixarem em Portugal”, defendeu o bastonário da Ordem, José Manuel Silva.

O Presidente da República, Cavaco Silva, recebeu a Ordem dos Médicos para cumprimentar a nova direcção e José Manuel Silva aproveitou para alertar não só para os cortes na área da saúde, mas também para as condições de trabalho dos médicos que estão a conduzir à emigração. “Nós temos médicos de elevadíssima qualidade, reconhecidos em toda a Europa e que emigram com facilidade. Aliás, os países ditos da Europa mais desenvolvidos vêm activamente a Portugal recrutar especialistas portugueses”, disse o bastonário que considera “lamentável” que, “sendo necessários aos doentes portugueses”, esses médicos estejam a emigrar “por falta de condições de trabalho em Portugal”.

José Manuel Silva garante que “esta nova realidade” está “a condicionar” a acessibilidade dos portugueses ao Serviço Nacional de Saúde, “por falta de recursos médicos” e vai “agravar-se no futuro”. Mesmo admitindo que há especialidades nas quais faltam médicos, José Manuel Silva defende que o problema se explica pelo facto de muitos estarem a emigrar e de outros se reformarem mais cedo e não porque se estejam a formar menos profissionais em Portugal: “Nós não estamos a formar médicos a menos. Estamos neste momento a sofrer a confluência de duas circunstâncias que são o facto de ter havido uma excessiva redução no numerus clausus há muitos anos atrás, e que agora já está sobre compensada, e por os médicos estarem a reformar-se cerca de 10 anos mais cedo, por força da fórmula de cálculo das reformas que penaliza quem continuar a trabalhar mais tempo”, explicou, defendendo mesmo que neste momento a formação de médicos está “acima das necessidades do país para o futuro”.

O que é preciso, defende, não é formar mais, mas fazer com que os profissionais não saiam do país: “Nós queremos fixar os médicos em Portugal. Para isso, o Governo tem de dar condições de trabalho e naturalmente condições remuneratórias para os médicos se fixarem em Portugal, porque os doentes portugueses precisam dos médicos portugueses”, sublinhou.

Apesar de não ter dados concretos sobre esta emigração médica, o bastonário acredita que é uma realidade crescente e vai continuar a aumentar: “Há cada vez mais médicos a emigrar. Nós não temos dados numéricos, mas o número de médicos que pede as certidões na Ordem para poder emigrar para a Europa é em número crescente. E nós vamos ter, de facto, esta situação paradoxal: estarmos a formar médicos a mais, gastar milhares de milhões de euros em formação médica, altamente qualificada e especializada, para depois emigrar para a Europa”, alertou.

Fonte: 
Público Online
Nota: 
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