Especialista defende

Negociação transnacional de medicamento contra hepatite C

O hepatologista Armando Carvalho, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, defendeu ontem em Coimbra uma negociação transnacional para diminuir custos de medicamento contra hepatite C.

A Comunidade Europeia "deveria constituir-se como uma força negocial com as farmacêuticas", disse o clínico do Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), considerando que, ao ser criado "um parceiro mais alargado", poder-se-ia "negociar preços muito mais baixos" e garantir "que todos os cidadãos tenham o mesmo nível de acesso" aos tratamentos.

A 12 de Junho, o Infarmed anunciou estar a negociar com a indústria farmacêutica um preço adequado para o novo medicamento contra a hepatite C que permita a sustentabilidade do sistema de saúde e o acesso generalizado dos doentes.

Face aos elevados custos dos medicamentos contra a hepatite C, Armando Carvalho sublinhou que "o médico deve prescrever o medicamento que seja a melhor opção para o doente, independentemente do custo desse mesmo medicamento", referindo que "quem deve limitar o acesso a recursos não deve ser o médico".

O Governo "tem de assumir o que pode dar e o que não pode dar e não pretender que seja o médico a dizer que não dá porque é caro", sustentou o hepatologista, frisando a necessidade de "se criar um plano nacional, que faça uma estimativa de doentes, que determine o tratamento mais adequado e uma verba atribuída".

O especialista apontou para o caso do plano em torno da SIDA, "que conta com mais de 200 milhões de euros", realçando a necessidade de se criar um plano semelhante para a hepatite C que apenas precisaria "de 30 ou 50 milhões de euros".

Armando Carvalho destacou que os novos tratamentos garantem "que cerca de 90% dos doentes ficam curados".

Os doentes que receberiam esse tratamento "nunca mais precisariam de cuidados de saúde motivados pela hepatite C", disse.

"Apesar de um investimento elevado, paga-se no longo prazo", concluiu o médico, que falava à margem do Fórum "Vamos Curar a Hepatite C em 2014", que decorreu durante a tarde de ontem no Hotel Tryp, em Coimbra.

A SOS Hepatites denunciou neste mês que mais de cem doentes graves aguardam pela aprovação da utilização do novo medicamento contra a hepatite C, uma espera que lhes pode valer a vida e que já classificam como um "genocídio de colarinho branco".

A SOS Hepatites considerou tratar-se de um "legítimo direito de acesso à saúde" que está a ser negado aos doentes, com a justificação do elevado preço deste novo fármaco - Sofosbuvir -, que tem uma taxa de cura superior a 90% e é o único eficaz para todos os genótipos da infecção e que pode ser usado pré e pós transplante.

Segundo o Infarmed, o que está a acontecer em Portugal é que a análise relativa ao valor terapêutico acrescentado e ao custo-efectividade está concluída, faltando para a sua aprovação final que a indústria farmacêutica "proponha um preço adequado que não ponha em risco a sustentabilidade do SNS (Serviço Nacional de Saúde)".

O Infarmed afirma que a primeira proposta de preço do medicamento foi de 48 mil euros por tratamento, pelo que com mais de metade dos doentes a necessitarem do dobro do tempo de terapêutica, tal representaria 96 mil euros por tratamento.

Fonte: 
O Mirante
Nota: 
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