Sintomas e tratamento

Tudo o que precisa de saber sobre o cancro do pâncreas

Atualizado: 
19/11/2020 - 10:16
Nos últimos anos tem havido uma maior aposta na investigação do cancro do pâncreas de forma a promover a melhoria na qualidade de vida dos doentes e aumentar o leque de opções de tratamento. No entanto, este tipo de cancro continuar a ter um prognóstico reservado.

Sintomas e sinais de alerta

Muitas vezes, o cancro do pâncreas não causa sintomas nas fases iniciais. Quando se tem sintomas, que são causados geralmente pela relação do pâncreas com outros órgãos do aparelho digestivo, podem ser:

  • Icterícia (pele ou olhos amarelados);
  • Mudança de cor na urina (pode ficar cor de laranja ou cor de chá) ou nas fezes (amarelas, avermelhadas, acinzentadas ou esbranquiçadas);
  • Dor no abdómen ou em redor;
  • Inchaço ou sensação de plenitude;
  • Náuseas, vómitos ou indigestão;
  • Fadiga;
  • Falta de apetite ou perda de peso inexplicável
  • Diabetes de início súbito ou súbita mudança no controlo de açúcar no sangue em diabéticos;
  • Vesícula biliar dilatada.

Nota: apresentar um ou mais desses sintomas não significa que tenha um cancro pancreático. No entanto, é importante discutir quaisquer sintomas com o seu médico, uma vez que podem indicar outros problemas de saúde.

Como prevenir o cancro do pâncreas

Apenas 5-10% dos cancros pancreáticos são devidos a causas genéticas. Os restantes devem-se a causas ambientais. Os principais fatores de risco são o tabaco e os relacionados com hábitos alimentares (obesidade, ingestão de carnes vermelhas, deficit de ingestão de frutas e legumes, diabetes e ingestão alcoólica. Assim, os métodos de prevenção aconselhados são:

  • Adotar um estilo de vida saudável, que inclui uma dieta adequada e a prática de exercício físico;
  • Manter um peso saudável;
  • Não fumar ou deixar de fumar.

Não existe ainda um método de rastreio específico para o cancro no pâncreas. No entanto, podem ser efetuados, em contexto de check-up regular alguns exames de deteção precoce, tais como:

  • Ecografia abdominal;
  • TAC ou ressonância magnética.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco do cancro do pâncreas são:

  • Tabagismo: os fumadores têm 2-3 vezes mais probabilidades de desenvolver cancro do pâncreas;
  • Idade: risco maior para pessoas acima dos 50 anos;
  • História familiar: algumas pesquisas mostram que cerca de 10% dos cancros pancreáticos são causados por alterações genéticas hereditárias;
  • Obesidade: as pessoas com excesso de peso e um índice de massa corporal (IMC) superior a 30 são mais propensos;
  • Pancreatite crónica;
  • Diabetes de início repentino ou mudanças bruscas de controlo de açúcar no sangue em diabéticos.

Nota: nem todas as pessoas com fatores de risco desenvolvem cancro do pâncreas. No entanto, é uma boa ideia discutir os fatores de risco com o seu médico.

Equipa experiente é decisiva no tratamento. A cirurgia do pâncreas só deve realizada em centros especializados, nomeadamente com experiência em cirurgia hepato-bilio-pancreática e capacidade de reconstrução vascular, por vezes necessária neste tipo de doentes.

Tratamento

A ressecção cirúrgica representa atualmente a única opção terapêutica potencialmente curativa para o cancro do pâncreas, com uma sobrevivência aos cinco anos, para os doentes submetidos a ressecção de aproximadamente 20%. No entanto, na altura do diagnóstico apenas 15-20% dos tumores são considerados ressecáveis.

O cancro pancreático sem metástases à distância pode ser dividido em 3 categorias; ressecável, ressecável borderline ou localmente avançado (irressecável) de acordo com a extensão local da doença. Apesar desta classificação ter implicações terapêuticas a decisão da ressecabilidade depende da experiência do cirurgião e da técnica cirúrgica. Por exemplo, em centros especializados, os tumores borderline ressecáveis, ou seja, tumores sem metástases à distância, mas com envolvimento venoso, podem ser ressecados em bloco com ressecção dessas veias e reconstrução vascular.

O tipo de cirurgia depende da localização do tumor e inclui: ressecção do corpo e cauda com esplenectomia para os tumores localizados no corpo e cauda Duodenopancreatectomia cefálica (ressecção Whipple) para os tumores da cabeça.

Nos tumores multifocais está indicada a pancreatectomia total.

A linfadenectomia padrão deve implicar a excisão ≥15 gânglios linfáticos para um adequado estadiamento patológico. A linfadenectomia alargada, não está indicada pois a sobrevivência é semelhante e aumenta a morbilidade.

A cirurgia minimamente invasiva tem sido utilizada em alguns centros. Para os tumores distais a pancreatectomia corpo-caudal laparoscopica parece não ter resultados inferiores em termos de sobrevida com vantagem em tempos de internamento e inicio da dieta oral. Pelo contrário, a dudenopancreatectomia laparoscópica é extraordinariamente exigente pelo que a sua utilização permanece não recomendável.

A mortalidade, tempo de internamento, estado das margens, sobrevida e custos estão intimamente relacionados com o volume, pelo que a duodenopancreatectomia cefálica só esta recomendada em centros especializados que realizem pelo menos mais de 15 a 20 ressecções pancreáticas por ano

Nos últimos anos tem havido uma maior aposta na investigação do cancro do pâncreas de forma a promover a melhoria na qualidade de vida dos doentes e aumentar o leque de opções de tratamento. Se o cancro for operável, a intervenção é realizada com o objetivo de remover o tumor completamente. A quimioterapia após a cirurgia (adjuvante) é um tratamento que permite elevar as probabilidades de cura. Por outro lado, através da combinação de vários fármacos tem sido possível aumentar o tempo de vida dos doentes com cancro de pâncreas inoperável, destruindo as células que se dividem de forma descontrolada e muito rapidamente. Em alguns casos, é ainda possível reduzir o tamanho do tumor tornando-o operável, após tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Noutros casos, é possível retardar a evolução do cancro do pâncreas, atrasando o aparecimento de sintomas da doença, preservando a qualidade de vida e aumentando a sobrevivência. Foram recentemente identificados diversos tipos de cancro do pâncreas que no futuro poderão ter formas de tratamento muito diferentes, pelo que a investigação clínica é crucial e têm surgido novos tratamentos que podem mudar, pouco a pouco, o panorama desta doença.


Autor: 
Professor Rui Maio - cirurgião-geral
Diretor Clínico do Hospital da Luz Lisboa
Coordenador do Centro do Cancro do Pâncreas do Hospital da Luz Lisboa
Diretor do Centro de Referência Nacional para o tratamento do cancro do pâncreas do Hospital Beatriz Ângelo

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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