Médica esclarece

Será que a menopausa pode influenciar o funcionamento da tiroide?

Atualizado: 
10/08/2020 - 11:30
Não há evidências de que a menopausa possa influenciar o funcionamento da tiroide, no entanto, alguns distúrbios como hipotiroidismo ou o hipertiroidismo podem afetar a função ovárica da mulher simulando, em alguns casos, uma menopausa precoce.
Mulher de cabelos brancos com óculos de sol

“Sabe-se que, quando a glândula tiroideia funciona mal, o funcionamento dos outros órgãos pode também não ser normal”, começa por explicar Maria João Oliveira, endocrinologista e membro do Conselho Científico da ADTI – Associação das Doenças da Tiroide. 

A este nível, tanto o hipertiroidismo como o hipotiroidismo – as duas disfunções da tiroide mais frequentes – podem conduzir a alterações importantes da função ovárica na mulher afetando, inclusive, a sua fertilidade. “Isto tanto acontece no hipotiroidismo como no hipertiroidismo, porque os ovários necessitam de uma concentração certa de hormonas da tiroide no sangue (T4 e T3) para funcionarem a um ritmo normal”, revela a especialista. Como consequência, a mulher pode apresentar dificuldade em engravidar ou deixar de menstruar.

Por outro lado, e tendo em conta que a incidência do hipotiroidismo, em particular, aumenta com a idade, sendo mais frequente após a menopausa, pode levar a pensar que existe alguma relação entre estas entidades clínicas. No entanto, tal como explica Maria João Oliveira, isto acontece “sem que haja propriamente uma influência direta do défice de estradiol que caracteriza esta fase da vida da mulher”.

Outro aspeto a ter em conta é que como os sintomas do hipotiroidismo são inespecíficos e insidiosos podem confundir-se com a sintomatologia típica da entrada na menopausa. “À medida que o corpo começa a funcionar a um ritmo mais lento surge o cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda do cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, obstipação, depressão e esquecimento fácil, amenorreia”, exemplifica a especialista chamando a atenção para a importância de procurar o médico de forma a obter o diagnóstico correto. “Sendo as doenças da tiroide mais frequentes na mulher e a incidência do hipotiroidismo aumentar com a idade, especialmente após os 50 anos, além da vigilância clínica, todas as mulheres nesta idade devem fazer análises à função da tiroide”, afirma.

Hipertiroidismo e Hipotiroidismo: as duas disfunções mais frequentes na mulher

De acordo com a endocrinologista Maria João Oliveira, pensa-se que as mulheres têm um ambiente hormonal mais propício ao aparecimento de doenças na tiroide. Destas, as disfunções mais comuns são o hipertiroidismo e o hipotiroidismo.

“O hipertiroidismo acontece quando a glândula tiroide produz hormonas em quantidades excessivas. Com um excesso de T3 e T4 o organismo está «acelerado». Esta situação deve ser rapidamente tratada pois pode causar «exaustão» em alguns órgãos, nomeadamente no coração”, explica a especialista.

Esta disfunção surge, habitualmente, de forma súbita e, como sublinha Maria João Oliveira, “com uma clínica exuberante” onde se incluem alterações de humor, irritabilidade, agitação, perda inexplicada de peso, tremores, suores, intolerância ao calor, palpitações, diarreia, irregularidades menstruais e, em alguns casos, aumento do volume cervical, também conhecido por bócio.

A principal causa do hipertiroidismo é a doença autoimune da tiroide, designada de Doença de Graves. “Nesta doença podem aparecer alterações oculares, como edema das pálpebras (olhos inchados) e proeminência dos globos oculares, a oftalmopatia de Graves”, revela a especialista adiantando que neste quadro também podem surgir nódulos na tiroide “que autonomamente produzem excesso de hormonas tiroideias”.

Uma vez que esta disfunção pode ser muito grave, o tratamento é complexo e deve ser feito um acompanhamento periódico por um médico especialista.

O seu tratamento consista na toma oral de um anti-tiroideu de síntese. No entanto, numa grande maioria de casos (cerca de 70%), “o tratamento oral não resolve definitivamente a produção excessiva de hormonas da tiroide e é necessário fazer um tratamento com iodo radioativo (Iodo 131) ou tratamento cirúrgico com remoção total ou quase total da glândula tiroideia”.

Quanto ao hipotiroidismo, este ocorre quando há uma produção insuficiente de hormonas da tiroide. Os sintomas instalam-se de forma gradual e insidiosa e podem incluir, como já referimos, cansaço, pele seca, queda e cabelo quebradiço, ligeiro aumento de peso, intolerância ao frio, irritabilidade, esquecimento, depressão, irregularidades menstruais e mesmo infertilidade.

“A causa mais frequente de hipotiroidismo em Portugal, assim como em outros países da Europa em que há uma ingestão razoável de iodo, é a doença autoimune da tiroide – Tiroidite de Hashimoto ou Tiroidite autoimune crónica”, revela a endocrinologista.

No que diz respeito ao seu tratamento, este faz-se com a toma da hormona tiroideia T4. “O hipotiroidismo não se pode curar e habitualmente o seu tratamento é para toda a vida. Contudo, em praticamente todos os pacientes consegue-se controlar por completo e ao restaurar os níveis das hormonas da tiroide no organismo este recomeça a funcionar de uma forma normal”, explica a médica.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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