Infeção grave generalizada

Sépsis: o número de mortes aumenta ano após ano

Atualizado: 
13/09/2019 - 10:56
A sépsis representa a resposta inflamatória sistémica do organismo a uma infeção grave generalizada. É uma das principais causas de longos períodos de internamento hospitalar e de elevadas taxas de morbilidade e mortalidade em todo o mundo. Estima-se que, anualmente, existam 27 a 30 milhões de casos de sépsis no mundo e que esta seja responsável por uma morte a cada 3 a 4 segundos.

Vários são os microrganismos que podem causar uma infeção que origina a sépsis, incluindo bactérias, fungos, vírus e parasitas. No nosso ambiente, é frequentemente causado por bactérias que, em cerca de 80% dos casos de sépsis, são adquiridas fora do hospital, a nível comunitário. No entanto, também pode ser causada devido a infeções pelo vírus da gripe, dengue e outros patógenos altamente transmissíveis, como vírus do ébola ou febre-amarela.

Nos últimos 25 nos, publicaram-se três definições diferentes de sépsis. A última, conhecida como SEPSIS.3. Nela, distinguem-se dois níveis: a sépsis e o choque séptico. Para diagnosticar uma sépsis é necessário ter pelo menos uma disfunção num dos 6 órgãos que valorizamos (hemodinâmico, respiratório, renal, digestivo, hematológico ou sistema nervoso central).

O choque séptico, que é o estadio de sépsis associado a maior mortalidade, ocorre quando a pressão arterial do doente permanece baixa e não é possível adequar o fluxo de sangue para os órgãos e tecidos, apesar do tratamento intensivo. A mortalidade por choque séptico atinge os 51%, de acordo com os dados do projeto “Via Verde da Sépsis” da Direção Geral da Saúde (DGS).

Apesar dos avanços clínicos, a sépsis continua a representar um desafio considerável e crescente nos cuidados de saúde. A sépsis representa um grave problema de saúde pública, que pode ser comparável ao acidente vascular cerebral (AVC) e ao enfarte agudo do miocárdio, e sabe-se que a sua incidência está a aumentar cerca de 1,5%/ ano, assim como a gravidade dos casos. De acordo com a DGS, este aumento deve-se também ao envelhecimento da população, à maior longevidade dos doentes crónicos, à crescente existência de imunossupressão por doença ou por iatrogenia e ao recurso cada vez maior a técnicas invasivas.

A rapidez do diagnóstico é fundamental, assim como o início do tratamento adequado, aumentando o prognóstico e as hipóteses de sobrevivência do doente. Numa fase inicial da doença, a identificação e estratificação rápida dos doentes e a utilização do antibiótico adequado são a chave para reduzir a probabilidade de morbi-mortalidade.

O tratamento pode ser longo e o doente quase sempre sofre sequelas para o resto da vida que vão depender de diversos fatores – estado de saúde do doente antes da infeção, gravidade da mesma, o tempo de internamento e o local onde ocorreu a infeção. Mesmo após a alta hospitalar, as consequências da sépsis podem permanecer para o resto da vida. Alguns dos efeitos a longo prazo incluem danos permanentes nos órgãos afetados, incapacidade física e cognitiva, estados de tristeza, dificuldade em deglutir, fadiga e fraqueza muscular, dificuldade em dormir, problemas de memória, dificuldade de concentração, ansiedade e depressão.

A microbiologia desempenha um papel vital em todo o processo de tratamento da sépsis. O início de uma terapêutica antimicrobiana na primeira hora de diagnóstico é crucial. As hipóteses de sobrevivência rondam os 80%, mas esta percentagem diminui 7,6% por cada hora seguinte sem o tratamento.


Eleonora Bunsow
Especialista na área de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas
Medical Advisor da BioMérieux Portugal e Espanha

Nota: 
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