Saúde ocular

Retinopatia de prematuridade: bebés muito prematuros são os que apresentam maior risco de cegueira

Atualizado: 
18/11/2019 - 12:25
A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença vasoproliferativa secundária à inadequada vascularização da retina imatura dos recém-nascidos prematuros, que pode levar à cegueira ou a graves sequelas visuais.

A retinopatia ocorre porque a vascularização da retina só se completa próximo dos 9 meses de gestação. Quando o bebé nasce antes do tempo, prematuro, em geral a retina ainda apresenta uma parte sem vasos desenvolvidos. A vascularização da retina necessita de cerca de 36-38 semanas de vida uterina para se formar completamente.

Essa parte avascular da retina produz uma substância chamada VEGF, que irá estimular a formação de vasos novos, chamados neovasos. Por serem frágeis, os neovasos podem sangrar e formar membranas/cicatrizes que repuxam a retina, fazendo com que ela se solte provocando um descolamento da membrana, principal causa de deficiência visual e cegueira na ROP. 

A retinopatia de prematuridade é uma doença que afeta principalmente bebés prematuros com menos de 32 semanas de gestação e peso abaixo de 1500 gramas

É uma das principais causas de cegueira evitáveis na infância, estimando-se haver 50.000 crianças cegas em todo o mundo devido a esta patologia. A incidência de cegueira causada pela ROP é muito influenciada pelo nível de cuidados neonatais (disponibilidade de recursos humanos, equipamentos, acesso e qualidade de atendimento), assim como pela existência de programas de triagem e tratamento.

Por conseguinte, existe grande variabilidade de ocorrência da doença em países desenvolvidos e em desenvolvimento.

A doença, ROP, é classificada em cinco estádios de acordo com a gravidade. São os seguintes:

  • Estadio I — crescimento discreto dos vasos sanguíneos. Muitas crianças melhoram sem tratamento, com possibilidade de desenvolver visão normal;
  • Estadio II — vasos com anormalidade moderada. Como no caso anterior, a doença pode resolver-se naturalmente, sem complicações;
  • Estadio III os vasos sanguíneos crescem em direção ao centro do olho, indicando um agravamento da doença e a necessidade de tratamento para prevenir o descolamento da retina;
  • Estadio IV — a retina apresenta-se parcialmente descolada;
  • Estadio V total descolamento da retina, capaz de causar deficiência visual severa e até cegueira.

Na maioria dos casos, a ROP apresenta-se nos Estádios I ou II. Contudo, nalguns casos, a doença pode desenvolver-se rapidamente para estádios mais graves. Por isso, é essencial que a equipa de neonatalogia encaminhe os prematuros de risco para um exame oftalmológico detalhado. A retinopatia da prematuridade não apresenta sintomas, logo, o diagnóstico depende de um exame cuidadoso de fundo de olho por um oftalmologista bem treinado.

Os principais métodos adotados para impedir a progressão da doença são:

  • Laser, aplicação na área avascular da retina periférica para inibir a produção de VEGF, logo tentando inibir o aparecimento de neovasos e diminuir o risco de descolamento da retina;
  • Medicamentos antiangiogénicos, fármacos usados para inibir a produção de VEGF;
  • Vitrectomia, cirurgia necessária nos casos mais graves, que desenvolvem descolamento da retina.

A prevenção é a melhor maneira de evitar o aparecimento de complicações visuais. Desta forma, os bebés que apresentam riscos no desenvolvimento da retinopatia de prematuridade devem ser observados e ter um acompanhamento obrigatório e urgente.

Os bebés que demonstram regressão espontânea devem ser, mesmo assim, acompanhados por um médico oftalmologista, pois os bebés com esta patologia, ROP, têm maior probabilidade para desenvolver patologias oculares como descolamento de retina, miopia, estrabismo (olhos tortos), erros refrativos assimétricos, ambliopia (olho preguiçoso) e glaucoma.

O principal modo de prevenção desta patologia é uma gravidez de termo, bem acompanhada em termos clínicos.

Autor: 
Professor Doutor Eugénio Leite - Médico oftalmologista e Diretor Clínico das Clínicas Leite
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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