Como lidar com a doença

“A Psoríase teve um forte impacto na minha saúde mental”

Atualizado: 
28/10/2020 - 13:32
Associada a uma marcada diminuição da qualidade de vida, estima-se que a Psoríase afete tanto, ou mais, os doentes quanto outras patologias consideradas mais graves, como é caso do cancro, da diabetes ou da doença cardiovascular. Ao nível da saúde mental, são muitos os que revelam efeitos devastadores, resultando em baixa autoestima, insegurança ou fobia social.

Considerada uma doença multifatorial, “em que fatores imunológicos, genéticos e ambientais contribuem para o seu aparecimento”, estima-se que a Psoríase afete cerca de 300 mil portugueses. Para além do desconforto que provoca, uma vez que o prurido é uma das características “mais relevantes” da doença, esta patologia, por ter um lado muito visível, acaba por impactar negativamente a imagem do doente que, não raras as vezes, se confronta com o estigma que lhe está associado. É que, embora, não se trate de uma doença contagiosa, a Psoríase ainda é muito mal compreendida pela sociedade.

Inês de Oliveira recebeu o diagnóstico da doença aos 11 anos de idade. Na altura, admite, desconhecia o impacto que a doença poderia ter na sua vida. Só mais tarde, “aos 17 anos”, sentiu na pele as consequências do enorme desconhecimento que persiste em torno da patologia. “Senti, por várias vezes, alguns olhares incómodos e fui alvo de perguntas incómodas, resultado de alguma ignorância perante a doença e as suas manifestações. Tive alguns episódios mais desagradáveis, na escola, ou na rua, mas sempre por parte de estranhos”, recorda afirmando que doença teve um forte impacto “na minha saúde mental, prejudicou grandemente a minha autoestima, autoconfiança e a forma como me apresento aos outros”.

De acordo com a especialista em dermatologia, Ana Ferreira, a doença, que se manifesta “por placas eritematosas e descamativas, bem delimitadas, com descamação branco prateado, distribuídas de forma simétrica”, pode ser classificada em vários subtipos: psoríase crónica em placas (que representa 70% dos casos), psoríase gutata, psoríase pustulosa, psoríase eritrodérmica e a psoríase inversa. “A localização, dimensão e inflamação das lesões são as principais diferenças entre estes tipos de psoríase. Sendo a eritrodérmica e a pustulosa, formas menos comuns, mas habitualmente mais graves, podendo implicar internamento hospitalar”, explica.

No caso de Inês, a patologia manifestou-se, inicialmente, na forma de psoríase gutata – um tipo de psoríase que afeta sobretudo crianças e jovens, por vezes na sequência de uma faringite e que apresenta lesões de menores dimensões, em forma de gota, que ocupam áreas extensas do tronco e membros. Este tipo de psoríase pode desaparecer definitivamente após o primeiro episódio ou evoluir para uma psoríase em placa, tal como aconteceu a Inês de Oliveira.

Por outro lado, acrescenta a especialista, “o envolvimento ungueal é muito frequente” e “em um terço dos casos há compromisso articular associado”.

Evoluindo por surtos, o agravamento da doença pode ser desencadeado pela “ingestão de medicamentos (incluindo os suplementos alimentares e os considerados “tratamentos naturais”), infeções, stress físico e/ou emocional”.

Quanto ao tratamento, Inês revela: “foi extremamente difícil e exaustivo encontrar um [tratamento] que desse resultado. Demorei 20 anos a voltar a ter a minha pele "normal", sem lesões…”. Até aqui, realizou “fototerapia (PUVA) e inúmeras terapêuticas de medicina convencional e alternativas, tópicas e sistémicas”, como os medicamentos imunomoduladores, imunossupressores e biológicos. Estes últimos, com os quais, “finalmente”, diz, ter obtido “bons resultados”.

Segundo a dermatologista, a verdade é que atualmente “existem muitos tratamentos disponíveis e eficazes para o controlo das lesões, sendo a combinação de terapêuticas muito utilizada”.

“A escolha da modalidade terapêutica deverá ser individualizada, tendo em conta a gravidade da doença, a existência de comorbilidades e o impacto da doença na qualidade de vida do doente”, acrescenta reforçando não só a importância do diagnóstico precoce, como a manutenção da terapêutica indicada e o seguimento especializado. O doente não deve ainda “esperar um agravamento acentuado da doença para reiniciar acompanhamento médico ou terapêutico”. Só assim, é possível manter a doença controlada e a pele livre de lesões.

“Hoje em dia tenho apenas cuidados normais de hidratação e higiene da pele com produtos farmacêuticos indicados”, esclarece Inês de Oliveira que apela a outros doentes “que nunca desistam de procurar tratamento, e que procurem ajuda no âmbito da psicoterapia, caso sintam essa necessidade”.

“A psoríase associa-se a uma marcada diminuição da qualidade de vida dos doentes e conviventes, estando demonstrado, desde há vários anos, que o impacto da psoríase na qualidade de vida dos doentes é superior ao de muitas outras patologias habitualmente consideradas mais graves, como o cancro, a diabetes ou a doença cardiovascular”, sublinha a dermatologista, Ana Ferreira.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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