Inflamação crónica

Psoríase associada à doença cardiovascular

Atualizado: 
24/01/2020 - 12:22
Há cada vez mais evidências de que os doentes com psoríase têm maior propensão para desenvolver fatores de risco cardiovasculares, como a hipertensão arterial, hipercolesterolemia, obesidade e diabetes. No caso dos doentes com psoríase artropática, “esta associação parece ainda mais forte”, revela a dermatologista Joana Antunes.

A psoríase é uma doença de pele comum, estimando-se que afete cerca de 2% da população. “Tem uma evolução crónica errática e resulta de uma combinação entre predisposição genética poligénica e fatores desencadeantes/agravantes ambientais ou externos”, começa por explicar Joana Antunes. No entanto, apesar de estabelecida esta relação, as suas causas ainda não são totalmente conhecidas. “O padrão de transmissão é autossómico dominante de baixa penetrância, estando já identificados vários genes associados à psoríase. No entanto, apenas cerca de 30% dos doentes consegue identificar um familiar de 1º grau também afetado pela doença”, acrescenta a especialista em dermatologia.

No que diz respeito aos “fatores de risco”, sabe-se contudo que as infeções agudas, as vacinas, certos medicamentos como os antimaláricos, anti-inflamatórios ou betabloqueantes, e ainda o stress psicológico ou traumatismos físicos podem desencadear ou agravar a doença.

Embora possa surgir em qualquer fase da vida, a psoríase costuma atingir maioritariamente o jovem adulto. “Classicamente são reconhecidos dois picos de incidência: entre o final da adolescência e os 30 anos; e entre os 45 e os 60 anos idade”, revela a dermatologista acrescentando que “o início na infância, contudo, não é raro” prevendo-se, no entanto, que represente menos de 20% dos casos diagnosticados.

Atingindo sobretudo os cotovelos, joelhos ou couro cabeludo, “a lesão cutânea elementar de psoríase é a mancha vermelha e descamativa, arredondada, bem delimitada”. “A cor varia entre o rosa e o vermelho vivo e as escamas são habitualmente esbranquiçadas, espessas e pouco aderentes, comparáveis a fragmentos de cera”, explica. Embora, possa atingir apenas algumas áreas específicas, estas lesões podem atingir toda e qualquer superfície do corpo “de forma mais ou menos simétrica”. “Para além da pele, as unhas estão frequentemente afetadas, sendo a alteração mais típica a presença de múltiplas depressões minúsculas, semelhantes a picada de alfinete”, acrescenta.   

A maioria dos doentes é atingida pela forma mais comum de psoríase: a chamada psoríase vulgar ou em placas. Nestes casos, as lesões “predominam nas superfícies de extensão dos membros, região lombo-sagrada, couro cabeludo e nádegas”. No entanto, existem outras formas clínicas da doença. São elas:

  • a Psoríase Eritrodérmica, uma forma grave que atinge mais de 90% da superfície cutânea;
  • a Psoríase Inversa, “quando se observa compromisso eletivo das pregas cutâneas” – axilas, virilhas, região inframamária e prega abdominal;  
  • a Psoríase pustulosa, “em que o componente pustuloso (bolhas com pus) domina nas lesões”;
  • a Psoríase Artropática, quando se acompanha de “importante e característico compromisso articular”.

Sem cura, o tratamento tem como objetivo induzir a remissão ou obter o controlo da doença, devendo, para isso, a terapêutica ser individualizada.

Inflamação sistémica crónica associada a diversas comorbilidades

“Embora a psoríase seja primariamente uma doença de pele, encontra-se associada a significativas comorbilidades físicas”, como é o caso da artrite psoriática, as doenças cardiovasculares, a síndrome metabólica, o fígado gordo ou a obesidade.

De acordo com Joana Antunes, há cada vez mais evidências de que “os doentes com psoríase têm maior propensão para desenvolver vários fatores de risco cardiovasculares, como é o caso de hipertensão arterial, diabetes, obesidade e hipercolesterolemia”, quando comparados com a população em geral. Um exemplo disso é que estudos recentes conseguiram identificar nos doentes com psoríase algumas características comuns, como o excesso de peso ou obesidade, hipertrigliceridemia e níveis baixos de colesterol HLD, reconhecidos como importantes fatores de risco cardiovascular.

“São vários os estudos que demonstraram sobreposição entre alguns fenómenos fisiológicos que estão na origem tanto da psoríase como da ateroesclerose, pelo que (…) será, portanto, fundamental promover hábitos de vida saudável nestes doentes, vigilância e correção dos fatores de risco cardiovascular, bem como tratar a psoríase adequadamente”, refere a especialista.

A ligação direta entre a psoríase e muitas das doenças associadas é, segundo se especula, a inflamação sistémica crónica.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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