Prevenção do HPV pode levar à diminuição do número de novos casos de cancro
Trata-se de uma infeção bastante comum entre homens e mulheres "com menos de 30 anos". As estimativas apontam para que 80% da população sexualmente ativa adquira o vírus do Papiloma Humano, "em algum momento das suas vidas". E apesar de ser responsável por um leque variado de patologias, a especialista em ginecologia salienta que "maioria das pessoas expostas ao HPV não desenvolverá qualquer doença".
"O HPV é um vírus que infeta a pele e as mucosas, em particular das áreas genital e oral. A principal via de transmissão é através das relações sexuais, do contacto com a pele e as mucosas", começa por esclarecer Amélia Pedro sublinhando que, como referido acima, não existem grupos de risco. No entanto, apesar de poder afetar qualquer pessoa, a especialista refere que "fatores como a imunossupressão ou pessoas que vivem com o HIV tem um risco acrescido de persitência do vírus".
Habitualmente, esta é uma infeção assintomática. "No entanto, nos casos em que a infeção por HPV não é eliminada pelo sistema imunitário e persiste ao longo do tempo, o que acontece em 10-15% das mulheres, pode levar a uma série de alterações celulares no colo do útero e ao aparecimento de lesões pré-cancerosas", explica a médica sublinhando a importância do diagnóstico precoce. Diagnóstico esse obtido por meio da realização do rastreio do cancro do colo do útero.
"O rastreio do cancro do colo do útero em Portugal, desde 2017 e por decreto lei, utiliza como teste primário, a pesquisa de ácidos nucleicos, dos serotipos oncogénicos, do vírus do papiloma humano (HPV), em citologia vaginal, a realizar de 5 em 5 anos". Este "destina-se à população do sexo feminino com idade igual ou superior a 25 anos e igual ou inferior a 60 anos. No caso de um resultado anormal, a mulher será informada com que frequência deve ser vigiada ou se são necessários testes mais específicos", adianta a presidente da secção de Colposcopia e Patologia do Trato Genital Inferior da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
Em matéria de prevenção, a especialista revela que "a grande arma" é vacinação. "A utilização de preservativos ou contraceptivos de barreira de forma correcta e consistente durante as relações sexuais. Esta medida, embora não evite completamente a aquisição da infeção, pode reduzi-la se for utilizada desde o início do contacto sexual", acrescenta.
Em Portugal, a vacinação contra o HPV é universal e está incluída no Plano Nacional de Vacinação aos 10 anos, num esquema de 2 doses aos 0 e 6 meses, com a vacina nonavalente. "Atualmente, não há idade limite para a vacinação. Embora as vacinas contra o HPV disponíveis não sejam terapêuticas e o seu maior benefício seja antes do início da vida sexual, existem estudos muito robustos que demonstram que mesmo na idade adulta e mulheres tratadas por lesões de alto grau beneficiam da vacinação. Neste último caso, há menos recidivas, ou seja, as mulheres que se vacinam tem menos risco de voltar a ter doença relacionada com o HPV", explica Amélia Pedro.
No entanto, a vacinação não substitui ou torna menos importante a realização do rastreio. Este é um dos mitos que a especialista afirma que precisa ser esclarecido. "É essencial participar nos programas de rastreio para um diagnóstico precoce e, mesmo que esteja vacinada contra o HPV, deve continuar a participar" nestes programas.
Não esquecendo que os homens são também uma peça-chave em matéria de prevenção. O HPV não afeta apenas as mulheres. "O HPV provoca cancros no homem, como o cancro do pénis, da orofaringe, laringe e cavidade oral e que os homens também beneficiam da vacinação não só como proteção individual, mas também na cadeia de transmissão", explica a especialista em ginecologia Hospital CUF Sintra.