Médico explica

Pavimento pélvico durante a gravidez e no pós-parto: o que esperar?

Atualizado: 
15/05/2024 - 15:03
A gravidez e o parto são experiências transformadoras para o corpo da mulher, afetando-o de muitas formas. Uma das áreas que pode ser afetada é o pavimento pélvico, ou seja, o conjunto de músculos e ligamentos que suportam os órgãos da região abdominal inferior, que fazem parte do sistema excretório e do aparelho reprodutor.

Estes músculos são frequentemente afetados pela gravidez e pelo parto, alterando algumas das suas funções vitais. Isto pode incluir os mecanismos de continência fecal e urinária e o suporte das paredes vaginais e do útero. Um menor apoio pode levar ao prolapso, quando os órgãos se deslocam dentro da pélvis e alguns traumas nos músculos e nervos do pavimento pélvico podem resultar em sintomas de dor pélvica que ocorrem com ou sem relações sexuais.

De acordo com um especialista em obstetrícia da Mayo Clinic, Tarek Khalife, este são alguns dos fatores que podem afetar o  pavimento pélvico durante a gravidez e o parto: 

  • Alterações físicas -  Segundo o especialista, cerca de metade das mulheres grávidas apresenta sintomas de perturbações do pavimento pélvico mesmo antes do parto. "Durante a gravidez, as mulheres tendem a ganhar peso - não apenas o peso do bebé, mas também o peso da placenta, o aumento do volume de sangue e o aumento do útero. O peso extra aumenta a tensão sobre os músculos do pavimento pélvico, resultando num risco acrescido de incontinência urinária", explica. A obstipação é também muito comum durante a gravidez, especialmente no terceiro trimestre. "O peso do útero em crescimento e as alterações hormonais podem afetar a digestão, levando a uma passagem pouco frequente ou difícil das fezes. Qualquer tipo de esforço e stress pode enfraquecer ainda mais os músculos e os nervos do pavimento pélvico", adianta. 
  • Alterações hormonais -  O corpo também sofre alterações hormonais significativas durante a gravidez que afetam a saúde do pavimento pélvico, revela Tarek Khalife. "A placenta segrega a hormona relaxina para aumentar a flexibilidade dos ligamentos pélvicos e amolecer o colo do útero. Estas alterações são boas porque preparam o corpo para o dia do parto. No entanto, isto pode afrouxar a ligação entre os ossos pélvicos e levar a uma maior flexibilidade e instabilidade", comenta. 
  • Historial médico e profissional - De acordo com o médico, algumas mulheres são mais susceptíveis a perturbações do pavimento pélvico, e este risco aumenta com a gravidez. "As mulheres com um historial de obstipação crónica, doenças do tecido conjuntivo ou fumadoras têm um risco mais elevado. As mulheres obesas ou com um historial de levantamento frequente de pesos, seja no trabalho ou através de exercícios de musculação, também podem estar em maior risco", explica. 

Além destes fatores, o trabalho de parto e o momento do nascimento são considerados fatores de risco para as perturbações do pavimento pélvico. "O parto natural, em particular, é considerado o fator de risco mais significativo. Durante o parto, os músculos do pavimento pélvico sofrem um enorme stress, especialmente durante a segunda fase do trabalho de parto, quando as pacientes estão sempre a fazer força. Este risco aumenta com os partos cirúrgicos que utilizam extractores de vácuo ou fórceps", revela admitindo, no entanto que a entrada em "trabalho de parto antes de uma cesariana também aumenta o risco de perturbações do pavimento pélvico".

O especialista revela ainda que o pavimento pélvico de algumas mulheres é mais resistente e capaz de recuperar mais rapidamente, que outras. "Estudos mostram que quanto mais partos vaginais uma mulher tem, maior é a probabilidade de sofrer de disfunção do pavimento pélvico", sublinha. 

No entanto, "é importante lembrar que as perturbações do pavimento pélvico não são uma certeza durante a gravidez. Tal como as mulheres grávidas tomam vitaminas pré-natais e evitam o álcool para reduzir o risco de algumas doenças congénitas, podem ser  tomadas medidas preventivas para reduzir o risco de perturbações do pavimento pélvico". 

O exercício físico regular e uma alimentação saudável, por exemplo, são bons para o bebé e também para o pavimento pélvico. O especialista também recomenda "que considere a hipótese de frequentar aulas de parto antes do nascimento do seu filho". "Estas aulas tendem a incluir exercícios de alongamento e respiração para ajudar a coordenar o diafragma e os músculos do pavimento pélvico durante o parto. O ioga na gravidez e a massagem perineal podem ajudar a preparar o pavimento pélvico, melhorando a flexibilidade e a elasticidade dos tecidos, limitando o risco de lesões perineais durante o parto", explica adiantando ainda que, "quando feitos corretamente, os exercícios de Kegel fortalecem os músculos do pavimento pélvico". 

Sabia que quase das pessoas não realizam um Kegel corretamente na primeira vez? Tarek Khalife diz que um "fisioterapeuta pode ajudá-la a identificar os músculos corretos se não tiver a certeza ou tiver dúvidas".

Por fim, fale com o seu obstetra e com os seus médicos de confiança sobre as suas preocupações, recomenda. "Eles podem recomendar alongamentos e aulas para preparar o seu pavimento pélvico para o parto", conclui. 

 
Fonte: 
Mayo Clinic
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Freepik