Opinião

Microbioma Intestinal: Papel na Saúde e Doença

Atualizado: 
03/10/2025 - 11:51
O microbioma humano corresponde ao conjunto de microrganismos que vivem no nosso corpo — intestino, pele, vias respiratórias, trato genito-urinário, entre outros.

 

O microbioma intestinal é um ecossistema complexo, composto por milhares de milhões de bactérias, leveduras e outros microrganismos que vivem em equilíbrio com o hospedeiro. Este equilíbrio é essencial para a saúde global do organismo.
 

 

Funções da microbiota intestinal

  • Produção de vitaminas e aminoácidos essenciais;
  • Biotransformação de ácidos biliares;
  • Fermentação de fibras em ácidos gordos de cadeia curta (AGCC), como o butirato, que nutrem as células do epitélio intestinal;
  • Proteção contra bactérias patogénicas, através da competição por nutrientes, produção de substâncias antimicrobianas e ocupação de nichos ecológicos.

 

Como se forma o microbioma

A colonização intestinal inicia-se logo após o nascimento, sendo influenciada pelo tipo de parto (vaginal ou cesariana), pela alimentação (leite materno ou fórmula), pela convivência familiar e pelo ambiente.
Nos primeiros anos de vida, o microbioma molda-se e adquire características que tendem a manter-se na idade adulta.

Ao contrário do genoma humano, que é estável, o microbioma é dinâmico e pode modificar-se ao longo da vida. Fatores como dieta, uso de medicamentos (sobretudo antibióticos), stress, qualidade do sono e estilo de vida têm impacto direto na sua composição.
 

Disbiose: quando o equilíbrio se perde

O termo disbiose descreve o desequilíbrio do microbioma intestinal. Esta condição tem sido associada não apenas a doenças do aparelho digestivo — como síndrome do intestino irritável ou doença inflamatória intestinal — mas também a doenças sistémicas, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças autoimunes e atópicas.

O tratamento da disbiose deve ser individualizado, considerando a história clínica, os fatores de risco e os resultados de exames, e deve envolver uma equipa multidisciplinar que inclua gastroenterologia e nutrição.
 

Probióticos: uma ferramenta complementar no equilíbrio intestinal

Os probióticos são microrganismos vivos — geralmente bactérias ou leveduras — que, quando administrados em quantidades adequadas, podem trazer benefícios à saúde intestinal.

O seu efeito benéfico resulta de diferentes mecanismos:

  • Competição com microrganismos potencialmente nocivos;
  • Estimulação e modulação da imunidade intestinal;
  • Reforço da barreira epitelial, ajudando a manter as junções celulares intactas;
  • Produção de metabolitos como os AGCC, que nutrem e regulam o ambiente intestinal.

Em que situações podem ser úteis?

  • Diarreia associada a antibióticos, reduzindo a sua incidência e duração;
  • Síndrome do intestino irritável, em que algumas estirpes ajudam a aliviar sintomas como dor ou distensão abdominal;
  • Apoio à recuperação do microbioma após perturbações (ex.: antibióticos), embora os resultados variem de pessoa para pessoa.

Limitações e cuidados a ter

  • Os efeitos dependem da estirpe específica, da dose e do tempo de administração — não se podem generalizar a todos os probióticos.
  • Em pessoas com imunossupressão ou doença crítica, o uso deve ser cauteloso.
  • Os suplementos comerciais podem apresentar variação entre o rótulo e o conteúdo real.
  • Os benefícios tendem a desaparecer quando se interrompe o uso.

Recomendações práticas

A utilização de probióticos pode ser considerada em situações clínicas bem definidas, sempre sob aconselhamento médico.
É fundamental escolher produtos que indiquem claramente a estirpe e a dose (em unidades formadoras de colónias, CFU).

Além disso, os probióticos devem ser vistos como complemento — nunca substituto — de medidas fundamentais para a saúde do microbioma: uma alimentação rica em fibras e variada, uso criterioso de antibióticos, sono de qualidade, atividade física regular e redução do stress.
 

 

Autor: 
Dr Miguel Afonso - diretor clínico da Gastroclinic
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.