Meningite: adolescentes podem ser portadores assintomáticos do meningococo
Caracterizada pela inflamação das meninges, membranas que revestem o cérebro e a medula espinal, a meningite pode ser difícil de diagnosticar, em fases iniciais, já que apresenta uma sintomatologia semelhante a uma gripe ou a outras infeções virais menores e mais comuns. No entanto, alerta a médica, estas manifestações podem “evoluir para sintomas mais específicos e de maior gravidade, que todos devemos saber reconhecer e valorizar”.
Assim, inicialmente, a meningite pode apresentar manifestações como febre, dores de cabeça, náuseas e vómitos. A “rigidez no pescoço, sensibilidade à luz ou aparecimento de erupções cutâneas (pequenas manchas vermelhas na pele) que persistem sob pressão”, estão entre os sintomas mais específicos e mais graves da doença, exigindo “assistência médica atempada”.
Isto porque, explica Inês Marques, “esta doença pode progredir rapidamente (num período de 24 a 48 horas) e levar a sequelas permanentes ou à morte. Cerca de 1 em cada 10 pessoas com meningite bacteriana acaba por morrer, mesmo recebendo o tratamento apropriado”.
Além disso, acrescenta “20% dos sobreviventes correm o risco de sofrer graves sequelas, como amputação, perda de audição ou convulsões”. “É importante sublinhar que, apesar de ser mais frequente na infância, a meningite pode ocorrer em qualquer idade”, reforça a autora do blogue omundodapediatria.com.
Embora existam vários tipos de meningite, que ocorrem consoante o agente infecioso que as causa, a meningite bacteriana é a mais grave e mais letal.
Esta é provocada por bactérias como Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae tipo B).
“A menigite meningocócica é causada pela bactéria Neisseria meningitidis, também conhecida como meningococo”, começa por explicar a pediatra. Ao todo existem seis tipos (conhecidos como serogrupos) de meningococo que causam doença. “São eles: A, B, C, W, X e Y, muito embora o mais frequente em Portugal seja o B”, adianta Inês Marques.
Trata-se de “uma infeção grave e potencialmente fatal que qualquer pessoa pode apanhar, sendo as pessoas nos extremos da idade (bebés e idosos) e os adolescentes os principais grupos de risco”.
Inês Marques revela ainda que “como consequência dos seus hábitos, comportamentos de risco e interações sociais, 1 em cada 4 adolescentes podem ser portadores assintomáticos do meningococo na sua garganta. O que isto quer dizer é que, apesar de poderem não manifestar a doença, podem transportar a bactéria na garganta durante dias ou semanas, sendo os principais transmissores a pessoas de todas as idades”.
A sua transmissão é feita por contato direto pessoa a pessoa, “de forma semelhante à COVID-19, através de gotículas respiratórias, sendo esta transmissão favorecida pela tosse, espirros, beijos e proximidade física”.
Deste modo, em matéria de prevenção deve evitar-se o contacto com doentes com a mesma infeção, manter uma higiene regular e correta das mãos e manter uma etiqueta respiratória adequada. A vacinação é também uma das principais formas de prevenção, bem como a manutenção de um estilo de vida saudável, que inclua exercício físico e alimentação saudável.
Entre as complicações da meningite meningocócica estão as convulsões, a infeção generalizada ou sépsis, os danos cerebrais e a perda parcial ou total da audição. “Quando a doença evolui rapidamente, pode levar à morte em poucas horas”, alerta a médica.
“O tratamento precoce é fundamental para a eficácia do mesmo e aumenta as probabilidades de uma recuperação sem sequelas. Em caso de suspeita da doença, as pessoas devem procurar ajuda médica o mais breve possível, a fim de ser feito o diagnóstico e iniciar a intervenção adequada”, reforça adiantando que o tratamento é feito com recurso a antibióticos endovenosos.
Por fim, importa esclarecer que a meningite pode ainda ser viral - provocada por vírus como os enterovírus – considerada a mais comum e menos grave; fúngica – ocorrendo “a partir de inalação de fungos no meio ambiente ou em doentes com diabetes, cancros ou infeção pelo vírus VIH” - sendo mais raras; eosinofílica - provocadas por parasitas (mais comum nos países menos desenvolvidos); ou asséptica - provocada por drogas/medicação, doenças autoimunes, traumatismos, entre outras.