Saúde Cardiovascular

Estenose aórtica é considerada uma doença de avós

Atualizado: 
30/07/2021 - 11:32
Conhecida como a doença dos avós, por atingir a população mais idosa, a estenose aórtica é o problema mais comum das válvulas do coração. Com a ajuda de Lino Patrício, cardiologista de intervenção no Centro de Responsabilidade Cérebro-cardiovascular do Hospital do Espírito Santo, em Évora, mostramos-lhe o que essencial sobre uma patologia que se estima que afete 2 a 7% da população acima dos 65 anos.

“A estenose, como o seu nome indica, quer dizer obstrução da válvula aórtica”, começa por explicar Lino Patrício. Esta obstrução, segundo o especialista, leva a que, a cada batimento cardíaco a quantidade de sangue que sai do coração seja menor do que o esperado. Quando isto acontece, há “uma menor irrigação dos tecidos, levando ao aparecimento de cansaço, de sincope por menor débito cerebral ou dor no peito anginosa por redução do débito nas artérias que irrigam o coração”.

Embora seja uma condição que pode surgir em idades mais jovens, “entre a quinta e a sexta década de vida”, explica o especialista que esta é mais frequente entre os mais idosos. “A estenose aórtica do idoso é maioritariamente por uso e, portanto, degenerativa”, adianta, sem, contudo, deixar de salientar que esta é uma patologia genética e hereditária.

Quanto aos sintomas, Lino Patrício esclarece que se tratando de uma “aorta bicúspide, que é hereditária”, estes são mais precoces. “Na estenose aórtica degenerativa, os sintomas aparecem por volta da sétima ou oitava década, mas temos tratado doentes com mais de 90 anos. Nestes doentes mais idosos os sintomas estão muitas vezes relacionados com a idade e não com a doença”, pelo que muitas vezes não são valorizados.

Entre as principais complicações, o especialista destaca a tão temida morte súbita e que atinge cerca de metade dos casos sintomáticos há pelo menos dois anos. A insuficiência cardíaca, a angina de peito e a síncope são frequentes.

“O diagnóstico passa pela auscultação de um sopro cardíaco, mas a avaliação do grau de estenose é feita por Ecocardiograma Doppler”, explica Lino Patrício.

Já no que diz respeito ao tratamento, só há um caminho: “a substituição da válvula, quer por cirurgia, quer por técnica minimamente invasiva, percutânea, a que chamamos de TAVI”.

Segundo o cardiologista de intervenção “o tratamento percutâneo consiste em “levar” ao coração um cateter, introduzido por uma artéria da virilha. Ou seja, uma válvula, que é colocada sobre a válvula existente, que está obstruída. Apesar de a TAVI exigir uma intervenção, a recuperação é mais rápida, pois não exige abrir o esterno do paciente, como na cirurgia”, explica quanto os benefícios. No entanto, adianta que “os dados referentes a complicações dos procedimentos, como mortalidade, AVC ou reinternamentos, são muito semelhantes nas duas técnicas”.

Introduzido inicialmente para tratar doentes inoperáveis, a verdade é que esta técnica tem vindo a ser indicada para pacientes de menor risco. “Os doentes preferem esta técnica, porque apesar de serem de baixo risco são idosos e querem ter um tempo de recuperação rápido. Penso que hoje esta técnica deve ser vista não em função do risco cirúrgico, mas em função da idade. Em muitos países, doentes com mais de 80 anos são todos orientados para a técnica percutânea”, afirma.

Após o tratamento, garante que o doente apenas tem de “voltar ao médico, fazer consulta de avaliação e um Ecocardiograma anual”.

Segundo o especialista, a longevidade está a aumentar. “Atualmente, temos idosos e muito idosos que estão muito bem física e cognitivamente. Por isso, é impensável, no nosso mundo, negar um tratamento médico, mesmo que seja caro, por causa da idade”, salienta sublinhando a necessidade de intervenção seja em que idade for.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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