Doença reumática crónica

Espondilite Aquilosante: causas, sintomas e tratamento

Atualizado: 
06/05/2020 - 16:18
A Espondilite Anquilosante (EA) é uma doença reumática crónica de características inflamatórias que se inicia habitualmente até aos 35 anos. O início depois dos 45 é muito raro. Para além da dor, a sensação de falta de forças e o cansaço fácil são queixas bastante frequentes.

O que é a Espondilite Anquilosante?

A Espondilite Anquilosante (EA) é uma doença reumática crónica, de natureza inflamatória dolorosa e progressiva, que afeta predominantemente o esqueleto axial (as articulações entre as vértebras) e as sacroilíacas (articulações entre o sacro e os ossos ilíacos da bacia).

Esta doença inclui-se num grupo de doenças designadas por Espondilartropatias.

“Habitualmente descrita como muito mais frequente nos homens (3 a 5 vezes para 1 mulher) (…) a percentagem de mulheres diagnosticadas tem vindo a aumentar nos últimos 40 anos”, segundo o reumatologista António Vilar.

Quais as causas?

Embora as suas causas permaneçam desconhecidas, sabe-se que que os fatores genéticos têm um papel preponderante, no desenvolvimento da doença. O risco individual de desenvolver EA está aumentado 5 a 16 vezes nos familiares

em primeiro grau de doentes com esta doença.

Sabe-se ainda que a presença do antigénio de histocompatibilidade HLA B27 está associada a um risco aumentado de desenvolver a doença em alguns grupos.

Quais os sintomas?

Os principais sintomas da Espondilite Anquilosante são as dores nas costas e a dificuldade na mobilização. No entanto, nas suas fases iniciais podem ocorrer outras manifestações, como “tendinites com dor na inserção dos tendões de Aquiles, nos polegares ou nos ombros. Nos dedos das mãos ou dos pés a inflamação dos tendões dá um inchaço com “aspeto de dedo em salsicha” muito característico”, explica António Vilar.

“Sintomas de artrite podem ocorrer em qualquer articulação, mas são mais frequentes nos joelhos, tornozelos, cotovelos, ombros e mãos. Apresentam-se com dor, inchaço articular e calor nas articulações afetadas”.

De acordo com o especialista “as características da dor nesta doença são importantes para ajudar ao diagnóstico e devem alertar os doentes e seus familiares”. “Tratam-se de dores que classificamos como inflamatórias, isto é são dores que não aliviam com o repouso, que acordam o doente durante a noite, tipicamente de madrugada fazendo o doente sair da cama, com algum alívio, mas que se repetem ciclicamente”, chama a atenção António Vilar.  

Segundo o reumatologista, os doentes “queixam-se ainda de rigidez matinal (“ferrugem”) que dura habitualmente mais de 30 minutos”.

A dor na coluna pode atingir qualquer segmento (cervical, dorsal ou lombar) “localizado ou por extensão, mas também e muito frequentemente na bacia (nádegas) afetando apenas um lado por vezes com irradiação para a coxa com trajeto que pode simular a dor ciática, mas diferenciando-se dela por ser truncada à coxa, não irradiar para o pé́ e muitas vezes alternar com a nádega oposta , num quadro que chamamos de pseudo ciática basculante”.

Na cervical, esclarece o especialista, “comporta-se como um torcicolo limitando todos os movimentos da cabeça, na dorsal pode irradiar para as costelas ou “atravessar” o tórax”.

Mais raramente podem ocorrer manifestações de «olho vermelho», “unilateral, de início súbito com visão turva ou intolerância à luz que pode desaparecer espontaneamente, mas com tendência a repetir-se e que levam o doente à consulta de oftalmologia e ao diagnóstico de inflamação ocular - uveíte”.

Fora das articulações podem ocorrer outras manifestações associadas à doença, como Psoríase, Doença Inflamatória do Intestino, “habitualmente doença de Cohn ou Colite Ulcerosa”, ou a ocorrência muito frequente de aftas.

Como se faz o diagnóstico?

De acordo com o reumatologista António Vilar, as características da dor são o que devem levantar a suspeita da doença. “A presença no meu consultório de um adulto jovem com menos de 40 anos, que se queixa de uma dor lombar de início insidioso, com rigidez matinal superior a 30 minutos, que melhora com o exercício mas não com o repouso, que o acorda de madrugada e com recaídas após melhoria com anti-inflamatórios é muito suspeita e merece uma observação e exame médico cuidados.

Se neste contexto o doente refere episódios de artrite, tendinites ou “dedo em salsicha” então devemos colocar a hipótese de Espondilite”, explica o especialista.

História familiar, manifestações extra articulares como descritas acima e a presença radiológica de inflamação nas sacroilíacas confirma o diagnóstico.

Qual o tratamento?

Não existindo cura para a doença, o tratamento tem como objetivo diminuir a dor, preservar uma boa função articular e evitar deformações.

Medidas gerais como a manutenção de uma dieta equilibrada e variada, rica em proteínas, vegetais e fruta; o controlo do peso; a abstinência tabágica e a prática de exercício adequado à sua condição, são essenciais para a evolução da doença.

Quanto ao tratamento farmacológico, “nos últimos 20 anos o aparecimento de medicamentos produzidos por biotecnologia (BT) na gíria designados “biológicos” vieram trazer grandes melhoras com respostas clínicas e remissão até então não alcançadas, em 25% dos doentes”, explica o reumatologista António Vilar.

O tratamento inclui ainda analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides (AINE) e fármacos modificadores da doença, que não têm impacto imediato nas dores ou rigidez, mas podem modificar a sua evolução.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay