Opinião

A enfermagem de Saúde Mental na infância e adolescência

Atualizado: 
16/08/2023 - 09:42
Hoje em dia, apesar de todo o avanço do ser humano, as patologias do foro mental e psiquiátrico são conotadas negativamente, sendo-lhes associado um rótulo marcado pelo preconceito e estigma. Para além disto, estas patologias são, muitas vezes, minimizadas perante as outras, daí o papel fundamental dos profissionais de saúde na desmistificação destas na sociedade, sobretudo na fase da infância e da adolescência.

Esta faixa etária é um período de desenvolvimento marcado por inúmeras transformações biológicas, psicológicas, emocionais e sociais, bem como as perturbações psiquiátricas em crianças e adolescentes poderem ultrapassar, largamente, a esfera individual e familiar, afetando a sociedade a diversos níveis, como por exemplo, a nível económico.

O trabalho em pedopsiquiatria é bastante específico, sendo relevante o trabalho multidisciplinar desde o momento da admissão até à alta, para uma adequada adesão ao regime terapêutico. Fornecendo estratégias que transmitem segurança, quer aos jovens, quer às pessoas de referência, desempenhando o enfermeiro uma função primordial.

Os cuidados de enfermagem de saúde mental à criança e adolescente e pais ou pessoas significativas devem contemplar a comunicação como ferramenta fundamental e imprescindível, no que concerne à criação de uma relação empática e de confiança, indo de encontro com a teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau. Para isso, é necessário recorrer à escuta ativa, promovendo espaço para, por exemplo, os progenitores e os jovens exprimirem as suas emoções e esclarecem dúvidas que possam surgir, de modo a ultrapassarem as suas angústias e medos. Por outro lado, deve-se evitar a criação de juízos de valor em relação às crianças/adolescentes com estas patologias, de modo a evitar, ainda mais, a exclusão destes. Para além disto, o trabalho do enfermeiro no internamento em Pedopsiquiatria, é o de facilitar uma melhor aceitação das figuras parentais e das crianças e adolescentes, isto é, aceitar cada um tal como é, com os seus defeitos e virtudes e desconstruir certas ideias e pensamentos. Por exemplo, é fundamental o treino da assertividade junto dos progenitores, para que os filhos não os vejam como simples “amigos”, ajudando, deste modo, a evitar comportamentos agressivos e manipuladores por parte dos jovens.

Além disto, a observação clínica é um contributo essencial para promover a individualidade e humanização dos cuidados prestados, não só, para o jovem em si, mas também, o contexto em que a criança/adolescente se encontra inserido. Os cuidados de enfermagem passam pelo importante papel da promoção da saúde mental nestas faixas etárias, sobretudo nos cuidados de saúde primários, uma vez que as alterações nas crianças/adolescentes são mais facilmente mobilizáveis e tratáveis do que em comparação com o adulto, o que permite de certo modo, evitar o desenvolvimento de sintomas de certas patologias que poderão vir a manifestar-se na idade adulta.

Assim sendo, os focos de atenção mais frequentes em pedopsiquiatria são: perturbações do humor, ansiedade, insónia, dificuldades de separação/individualização, distúrbios alimentares, comprometimento interpessoal, comprometimento na gestão das emoções, comprometimento do papel parental, intolerância à frustração (coping ineficaz), alterações do pensamento, alterações da perceção, comprometimento da imagem corporal, comprometimento da autoestima e comprometimento dos estilos de vida saudáveis.

Em suma, é importante englobar nos cuidados prestados o jovem e os seus progenitores, bem como promover o bem-estar biopsicossocial dos mesmos para uma melhor adaptação e aceitação destes, de modo, a proporcionar uma melhor qualidade de vida possível para todos.

Autor: 
Bruno Campos - Enfermeiro RECOVERY IPSS
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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