Rui Tato Marinho explica

Encefalopatia Hepática: quando a doença hepática grave compromete a função cerebral

Atualizado: 
22/06/2021 - 12:07
Embora pouco conhecida, a Encefalopatia Hepática é uma condição bastante comum entre aqueles que sofrem de doença hepática grave. Alterações de comportamento, da personalidade ou do pensamento lógico estão entre as primeiras manifestações desta condição.

Segundo o gastrenterologista, Rui Tato Marinho, sabendo que a doença do fígado é a sétima ou oitava causa de morte em Portugal, “é frequente nos serviços de urgência, internar doentes com encefalopatia hepática”. Isto significa que, mesmo que nunca tenha ouvido falar nesta condição, ela é mais frequente do que imagina. Em média, morrem 50 pessoas por semana por doença hepática e “qualquer uma delas pode estar em Encefalopatia antes do desenlace fatal”, sublinha o especialista.

Caracterizada pela deterioração da função cerebral, - um cenário que decorre porque as substâncias tóxicas que normalmente são eliminadas pelo fígado acumulam-se no sangue até chegarem ao cérebro - os primeiros sinais de Encefalopatia Hepática podem ser quase impercetíveis, traduzindo-se, por exemplo, no esquecimento tarefas simples como apertar botões ou por estados de sonolência.

Entre quatro classes de gravidade, o coma hepático é o estado mais grave.

“Os sintomas observados refletem uma função cerebral comprometida, especialmente a capacidade de ficar alerta e algum grau de confusão mental. Inicialmente, assistimos a pequenas alterações do pensamento lógico, da personalidade e de comportamento social. Além disso, o humor pode estar alterado, gerando até agressividade para com os familiares”, explica quanto aos sintomas. “Podem existir alterações do sono, com um distúrbio dos padrões normais. Tudo isto pode ser rodeado de depressão, ansiedade ou irritabilidade. Podemos ainda referir que alguns doentes podem apresentar um hálito característico, o chamado fetor hepático, cheiro a carne apodrecida, resultante da eliminação pela via respiratória dos produtos tóxicos”, acrescenta.

Entre os grupos de risco, Rui Tato Marinho destaca as pessoas com cirrose, “qualquer que seja a causa”.

“As hemorragias no Aparelho Digestivo, infeções, prisão de ventre/obstipação, falha na medicação”, então entre os fatores desencadeantes da Encefalopatia Hepática.

Quanto ao diagnóstico, este “assenta na avaliação clínica, contextualizada na doença do fígado avançada, eventualmente no doseamento da Amónia no sangue, que não sendo 100% fiável, pode ajudar e na resposta ao tratamento”. Por outro lado, Rui Tato Marinho refere que “existem alguns testes de simples aplicação, ligar uma sequência de números, escrever o próprio nome, e outros para aferir a precisão e o tempo de raciocínio para tarefas simples”. Pode ser necessário excluir outras doenças, sendo frequente a realização de uma TAC ou uma ressonância magnética cerebrais, acrescenta o gastrenterologista.

“Reconhecer uma encefalopatia hepática na sua fase inicial pode ser mais difícil”, revela já que “os primeiros sintomas (como, por exemplo, alterações dos padrões do sono e ligeira confusão) podem ser atribuídos a demência ou, erradamente, considerados alterações da personalidade, ligados a ansiedade, um certo grau de intolerância, entre outros”. No entanto, “um diagnóstico precoce é muito importante para o doente, para os familiares e para a Família, pois esta é uma condição suscetível de tratamento e de redução e antecipação de danos previsíveis”. Quedas graves, comportamentos autolesivos ou acidentes de viação afiguram-se como algumas das principais complicações decorrentes desta condição.

“A encefalopatia per se é um sinal de mau prognóstico, é um sinal de que o fígado já não está a cumprir com eficiência sua função de desintoxicação dos produtos derivados das proteínas”, adianta referindo que é muito frequente existirem reinternamentos por encefalopatia hepática.

O seu tratamento passa, sobretudo, por controlar qualquer fator desencadeante da encefalopatia, como é o caso das infeções ou da obstipação. Por outro lado, salienta o especialista, pode ser necessário eliminar as substâncias tóxicas do intestino, já que estas substâncias podem contribuir para a encefalopatia – “uma situação que pode ser realizada através de lactulose ou antibióticos como a rifaximina”, esclarece.

Sendo que a sua prevenção é possível, Rui Tato Marinho alerta para a necessidade da população esta consciencializada para o problema e que entenda que é necessário incluir “análises ao fígado nas avaliações de rotina”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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