Sintomas e complicações

Doenças da Tiroide: os sinais que não devemos ignorar

Atualizado: 
08/07/2019 - 15:17
Afetam sobretudo as mulheres, e apesar da sua incidência aumentar com a idade, as doenças da tiroide podem atingir qualquer pessoa. Em portugal estima-se que 10% da população sofra de algum distúrbio da tiroide, ainda que uma percentagem elevada desconheça os sintomas associados. Neste artigo, mostramos-lhe a que sinais deve estar atento.
Médica faz palpação da tiroide em mulher jovem

Muitas vezes subvalorizada e mal compreendida, a tiroide é na realidade uma “peça” fundamental para o bom funcionamento do nosso organismo. Esta glândula, com o formato de borboleta e localizada na base do pescoço, “é responsável por regular diferentes funções do corpo através do armazenamento e secreção de hormonas do sangue”. Estas hormonas – a T3 (ou triiodotironina) e a T4 (tiroxina) -  atuam em quase todas as células do nosso corpo, permitindo o controlo do metabolismo. “Ajudam o organismo a utilizar a energia e regulam a temperatura corporal, o crescimento e desenvolvimento intelectual nas crianças e permitem um normal funcionamento do cérebro, músculos, coração e outros órgãos”, começa por explicar a endocrinologista Inês Sapinho.

Não obstante, a maioria dos doentes só dá conta da sua importância quando alguma coisa vai mal.

Entre as patologias mais diagnosticadas estão o hipotiroidismo, hipertiroidismo,  a Doença de Graves e a Tiroidites de Hashimoto (ambas doenças autoimunes), o bócio ou os nódulos da tiroide (habitualmente, benignos).

Manifestações clínicas e principais complicações

Hipotiroidismo: “O hipotiroidismo é uma patologia insidiosa que se manifesta lentamente e os seus sinais e sintomas podem ser inespecíficos”, explica a especialista.

Entre os principais sintomas destacam-se o cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda de cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, depressão, obstipação ou irregularidades menstruais.

“Esta clínica nem sempre é valorizada quer pelo doente, quer pelo médico, e o seu diagnóstico é muitas vezes tardio”, revela Inês Sapinho acrescentando que esta disfunção da tiroide, que ocorre quando a tiroide não produz hormonas em quantidade suficiente, comprometendo o normal funcionamento do organismo, é “cerca de 10 vezes mais frequente que o hipertiroidismo”.

Hipertiroidismo: “Existe hipertiroidismo quando a glândula tiroide produz hormonas em quantidades excessivas levando a um «aceleramento» do organismo”, diz a endocrinologista.

Mais comum em mulheres entre os 20 e os 40 anos, o hipertiroidismo apresenta como principais sintomas a irritabilidade, ansiedade, insónias, aumento de apetite, emagrecimento, aumento do trânsito intestinal, intolerância ao calor, tremor das mãos ou falta de concentração.

“Esta situação deve ser rapidamente tratada pois pode causar «exaustão» em alguns dos órgãos, nomeadamente no coração, com arritmias que podem ser fatais”, revela quanto às principais complicações associadas.

Doença de Graves e Tiroidite de Hashimoto: estas duas entidades clínicas “acontecem quando o organismo não reconhece a tiroide como parte integrante e começa a defender-se dela, através de anticorpos dirigidos contra a glândula tiroide, que podem estimular ou destruir a glândula”.

No caso da Doença de Graves, esta resulta numa produção excessiva de hormonas pelo que os sintomas são semelhantes ao do hipertiroidismo. Acresce a fraqueza muscular e a ginecomastia (aumento da mama nos homens).  

Cerca de 25 a 40% das pessoas que sofrem de doença de Graves manifestam alguma inflamação e protuberância dos olhos, conhecida por oftalmopatia de Graves.

No que diz respeito à Tiroide de Hashimoto, esta conduz frequentemente à destruição da tiroide, pelo que os sinais e sintomas que aparecem são os associados ao hipotiroidismo. No entanto, numa fase inicial da doença, esta pode não apresentar sintomas ou pode surgir um inchaço na zona frontal da garganta (bócio).

Esta condição é mais frequente em familiares de doentes com tiroidite autoimune ou em pessoas com outras doenças autoimunes, como a artrite reumatoide, diabetes tipo I, ou lúpus.

Bócio: ocorre quando a tiroide está aumentada, de forma difusa ou nodular. “O termo bócio refere-se simplesmente ao crescimento anormal da tiroide”,  o que nem sempre é sinónimo de mau funcionamento desta glândula, embora estas entidades possam coexistir.

“O bócio quando volumoso pode estar associado a sintomas compressivos sobre estruturas próximas da tiroide, provocando alterações da voz ou rouquidão e tosse irritativa, dificuldade em respirar e comer”, descreve a especialista quando aos principais sintomas.

Nódulos: ou “inchaços”, quase sempre indolores na zona do pescoço, são maioritariamente inofensivos. Apenas 5% dos nódulos correspondem a cancro da tiroide.

De acordo com Inês Sapinho, existem vários tipo de nódulos. “A principal preocupação perante um nódulo é saber se se trata de um nódulo que produz hormonas de forma autónoma, pelo que o seu risco de malignidade é quase nulo, ou se é um nódulo maligno”.

Após caracterização dos nódulos por ecografia e eventual análise citológica, estes podem ter indicação para vigilância ou cirurgia, “ou eventualmente outras técnicas”.

“Não há uma causa isolada que possa identificar como sendo a responsável pelo aparecimento de nódulos. Mas a idade avançada, o sexo feminino, história familiar, radiação prévia da cabeça e do pescoço e deficiência de iodo são fatores associados”, revela a especialista quanto ao que está na sua origem.

Diagnóstico deve ser feito o mais cedo possível

A avaliação clínica é um passo essencial no diagnóstico das doenças da tiroide e por isso é tão importante que reconheça os principais sintomas.

Após as suspeitas, são realizadas análises sanguíneas específicas que “permitem detetar e medir os níveis de hormonas tiroideias na corrente sanguínea”. Estas hormonas são medidas no sangue, pelo que não é necessário jejum.

“A determinação da TSH com os métodos atuais é suficiente na maioria dos casos, para avaliar eventuais alterações hormonais. Os outros doseamentos serão pedidos em função de cada caso concreto”, explica a especialista.

Na presença de nódulos, a ecografia é fundamental para determinar as dimensões e as características dos mesmos. “Por vezes é ainda necessária a realização de uma citologia aspirativa com agulha fina, que recolhe células do nódulo para o estudo microscópico. Em situações mais específicas deverá ser realizada uma cintigrafia da tiroide”, acrescenta.

Uma vez que os seus sintomas são, muitas vezes, associados ao estilo de vida, o diagnóstico das doenças tiroideias acontece tardiamente. “Desta forma, é crucial fazer uma aposta nos rastreios e ações de sensibilização”, conclui Inês Sapinho.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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