Sintomas e tratamento

Disfonia Infantil: sinais de alerta

Atualizado: 
20/04/2020 - 12:16
Uma das características que define o ser humano é a sua capacidade para comunicar através da voz. Muitas vezes pensamos apenas na voz em fase adulta e nos seus problemas, mas a voz das crianças, durante todo o seu crescimento, também necessita de cuidados e há sinais de alerta a considerar.

Sabemos que, qualquer tipo de comunicação, durante os primeiros meses de vida do bebé requer observação, estimulação, cuidados e repetição, já que o bebé, desde que nasce, tentará imitar a voz da mãe, por exemplo.

Normalmente, até aos seis meses de gestação, o bebé é capaz de diferenciar a voz da mãe, pai, irmãos e de outros sons do ambiente, percebendo, ainda, os estados de ânimo do interlocutor; mais tarde começa a tentar imitá-lo, enriquecendo assim as suas vocalizações. Sabe-se, ainda, que desde que nasce, o bebé é capaz de comunicar através do olhar e de vocalizações, como o choro e o balbucio, que provocam uma resposta na outra pessoa. 

O primeiro som do bebé recém-nascido é logo no nascimento com pouca ressonância, com média de um segundo de duração, descrito como um som surdo, tenso ou estridente, que serve para a expulsão do líquido amniótico. O segundo é o som de dor, de longa duração e é estridente. Em seguida, vem o som de fome, normalmente com frequência variável, pelo que passa de grave para agudo rapidamente. Finalmente, temos o som do prazer, sendo que os Terapeutas da Fala, o caracterizam como sendo um som marcado pela “hipernasalidade”.

Em suma, a nossa voz informa o bebé de quem somos e como somos, expressa os nossos sentimentos e emoções, estabelece contactos e relações, e transmite o que queremos dizer.  Através dos pais, o bebé descobre a voz e brinca com ela. Usa a sua voz para dizer que tem fome, sono, ou que está chateado por alguma coisa.

Ao longo do crescimento, as relações e comunicação com os pares vai-se complexificando, pelo que a voz das crianças também sofre alterações sendo diretamente proporcional ao desenvolvimento das estruturas anátomo-fisiológicas. À distância conseguimos identificar uma voz como sendo de uma criança, do nosso filho ou sobrinho e por isso mesmo, quando há alterações, notamos imediatamente.

Chegam-nos à consulta pais com várias queixas como: “não consegue projetar a voz”, “chega ao final do dia sem voz”; “não consegue cantar como antes” ou as próprias crianças referem que “tenho dor e faço esforço na zona do pescoço enquanto falo” ou “a minha voz está mais grossa”. Estas queixas são muito comuns e significam que estamos perante uma disfonia ou rouquidão.

As disfonias afetam tanto crianças como adultos, sendo que nas crianças afetam entre 6 a 23% das mesmas, com idades compreendidas entre os 5 e os 12 anos. Sabe-se, ainda, que é mais frequente em rapazes do que em raparigas, numa proporção de 5 rapazes para 3 raparigas.

O nódulo vocal (lesão benigna) é a lesão responsável por 38 a 78% das disfonias crónicas infantis com origem multifatorial. Uma disfonia que dure mais de 15 dias consecutivos, ou quando há variações da qualidade vocal ao longo do dia, não é normal e deve ser avaliado por um Terapeuta da Fala e médico Otorrinolaringologista.

Sabemos que a etiologia mais frequente da disfonia em crianças é o abuso vocal - muitas crianças que nos chegam apresentam uma personalidade de líder ou são emocionalmente instáveis, pelo que no seu dia-a-dia gritam e falam muito alto ou choram por longos períodos -; temos, ainda, a falta de hidratação ao longo do dia; a imitação de vozes de desenhos animados; o pigarreio constante (arranhar a garganta) e sinais de refluxo (azia).

De ressalvar que o comportamento vocal dos pais, dos professores e das pessoas que convivem com a criança, influenciam o comportamento vocal da mesma, pois os adultos servem de modelo, sendo comum numa família em que os abusos vocais são frequentes, as crianças desenvolverem patologia laríngea.

A intervenção do Terapeuta da Fala passa por consciencializar para o problema e mudar os comportamentos de abuso vocal junto da criança, dos cuidadores e com o apoio da escola. Não é possível generalizar um plano de exercícios, pois, tal como supracitado, a causa da disfonia é variável de criança para criança.

Há, contudo, cuidados a ter e comportamentos a evitar ao máximo. Manter hábitos de hidratação é fundamental, pelo que as bebidas devem ser ingeridas à temperatura ambiente. Não gritar, falar e cantar muito alto e imitar vozes são comportamento a evitar para manter uma boa saúde vocal.

Autor: 
Lina Marques de Almeida - Terapeuta da Fala Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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