Opinião

Dia Europeu da Luta Contra o Cancro do Intestino: Prevenir para viver melhor

Atualizado: 
20/10/2025 - 13:17
O cancro do intestino – ou seja, do cólon e reto (CCR) – é uma das doenças oncológicas mais comuns e uma das principais causas de morte por cancro em todo o mundo. Em Portugal, é o cancro mais frequente e o segundo cancro mais mortal, sendo responsável por cerca de 12 mortes por dia. Apesar destes números alarmantes, o CCR é também um dos tipos de cancro mais preveníveis e tratáveis, sobretudo quando detetado precocemente.

A maioria dos casos de CCR desenvolve-se a partir de pólipos, pequenas lesões benignas que podem transformar-se em tumores malignos ao longo dos anos. A colonoscopia permite identificar e remover estes pólipos antes que evoluam, sendo por isso o exame fundamental no rastreio e prevenção da doença.

Em Portugal, o Programa Nacional de Rastreio de CCR destina-se a pessoas entre os 50 e os 74 anos assintomáticas, começando com a pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF). Se o teste for positivo, é recomendada uma colonoscopia. Infelizmente, apenas um terço da população se encontra coberta pela possibilidade de realização do rastreio e a adesão ao mesmo ainda é baixa, verificando-se em 2022 uma taxa de adesão de apenas 41%. Apenas 35% dos indivíduos com testes PSOF positivos realizaram colonoscopias. Destas, 36,1% apresentaram lesões avançadas, o que significa que mais de mil lesões foram identificadas, mas mais seriam se todos os indivíduos com PSOF positiva tivessem realizado colonoscopia. Vários estudos com novos testes de rastreio estão em curso, mas a utilidade real e o impacto em rastreios estabelecidos são controversos, permanecendo a colonoscopia como o exame gold-standard no rastreio do CCR. A maioria dos casos de CCR continuam a ser diagnosticados já em fase sintomática, o que está associado a um pior prognóstico, quando comparado com os tumores assintomáticos.

Os fatores de risco para o desenvolvimento de CCR incluem fatores que são modificáveis, mas também outros que não o são. Sabemos que os indivíduos do sexo masculino, com idade superior a 50 anos, com doença inflamatória do intestino, antecedentes pessoais de CCR ou de pólipos do cólon, assim como com história familiar de CCR, têm um risco aumentado de CCR. Os fatores modificáveis estão relacionados com os hábitos e estilos de vida, nomeadamente com um consumo excessivo de carne vermelha e processada, uma dieta pobre em frutas e vegetais, o sedentarismo, a obesidade, hábitos tabágicos e o consumo excessivo de álcool. O World Cancer Research Fund concluiu que 47% de todos os CCR poderiam ser prevenidos pela adoção de um melhor estilo de vida, nomeadamente melhor dieta e exercício físico.

O aumento recente de casos em pessoas com menos de 50 anos tem sido motivo de preocupação. A má alimentação, o sedentarismo e a obesidade parecem contribuir para este fenómeno, levando já alguns países a antecipar o início do rastreio para os 45 anos.

No Dia Europeu da Luta Contra o Cancro do Intestino, recordamos que a prevenção e o rastreio do cancro do intestino salvam vidas. Adotar um estilo de vida saudável, conhecer a história familiar e participar nos programas de rastreio a partir dos 45 anos são passos simples, mas decisivos, para reduzir o impacto desta doença.

 

Autor: 
Rita Gomes de Sousa - gastrenterologista no Hospital da Luz e membro da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.