Sintomas e tratamento

Dermatite Atópica: Muito mais que uma doença de pele

Atualizado: 
14/09/2021 - 10:10
A Dermatite Atópica é uma das doenças inflamatórias crónicas de pele mais comuns, afetando até 20% das crianças e 7% dos adultos. Em Portugal, estima-se que 440 mil pessoas terão esta doença que apesar de ter maior incidência em crianças, pode também afetar adolescentes, adultos e até idosos.

Esta é uma doença física e emocionalmente debilitante para doentes e familiares, sendo causa de exclusão e absentismo social, laboral e escolar, noites mal dormidas, prejuízo do desempenho escolar e profissional e gastos económicos avultados em tratamentos e consultas. Ainda assim, é demasiadas vezes desvalorizada como “só uma doença de pele” o que em nada ajuda o sofrimento daqueles que dela padecem.

A Dermatite Atópica é de causa multifatorial, e é comum haver antecedentes familiares de Dermatite Atópica, rinite alérgica ou asma. Sumariamente, na Dermatite Atópica temos:

1. uma pele com destruturação da função de barreira (se considerarmos a pele como um “muro” que protege do exterior, na Dermatite Atópica o cimento que une os tijolos desse muro está deficitário);

2. um sistema imunitário inadequadamente reativo, produzindo inflamação que também agrava a disfunção do “muro”;

3. um microbioma da pele alterado que contribui para agravar a inflamação e a disfunção de barreira.

Toda esta cascata de alterações origina e perpetua as lesões características da doença.

Na Dermatite Atópica é muito característica a comichão (prurido), muitas vezes diária, que pode ser intensa e impossibilitar o sono. As lesões são bem visíveis e resultantes da inflamação da pele – vermelhidão (eritema), descamação, exsudação, escoriações (feridas resultantes do ato de coçar a pele) – e, quando a inflamação é prolongada, liquenificação (aumento da espessura da pele). As lesões tendem-se a localizar na face, nas crianças mais jovens, e nas pregas dos cotovelos e dos joelhos, no pescoço e nas mãos, no caso dos adolescentes e adultos. Existem também formas mais graves, que podem outras partes do corpo ou mesmo a sua totalidade (eritrodermia) e motivar internamento hospitalar. Mesmo a pele aparentemente bem do doente com Dermatite Atópica é habitualmente “frágil”, no sentido em que as mais pequenas agressões (alguns produtos de higiene, determinados têxteis, fragrâncias e outros), tendencialmente inócuas para a maioria da população, podem para estes doentes desencadear flagelantes crises de inflamação.

Apesar de ainda não haver uma cura, assistimos hoje a uma promissora (R)evolução terapêutica na Dermatite Atópica.

Na doença ligeira e limitada, a evicção de triggers, o uso regular de emolientes (sobretudo após o banho) e de produtos de higiene adequados, bem como o uso proativo de anti-inflamatórios tópicos (como os dermocorticoides ou inibidores tópicos da calcineurina) é uma estratégia habitualmente muito eficaz e segura.

Já na doença moderada a grave, em que os cuidados gerais e tópicos são insuficientes, é necessário intervir com tratamentos sistémicos. É neste campo que os avanços científicos e terapêuticos têm sido particularmente impressionantes, marcada com a aprovação pela Comissão Europeia em 2017 do primeiro biotecnológico para a Dermatite Atópica. E, só desde o último ano, a mesma Comissão aprovou outros três fármacos inovadores: um novo biotecnológico e duas moléculas orais. Alguns destes fármacos inovadores já estão disponíveis em Portugal e a nossa experiência de vida real vai de encontro aos excelentes resultados publicados na literatura internacional. Histórias como “já não me lembrava do que era tomar banho de água quente, agora já consigo!” ou “finalmente posso usar calções sem vergonha de mostrar a pele!” são alguns testemunhos reais da prática clínica que traduzem o sucesso no tratamento destes casos mais graves.

Por último, saúda-se as várias iniciativas que têm sido realizadas nos últimos anos para aumentar a visibilidade desta doença que vai muito além da pele. O Presente e o Futuro do tratamento da Dermatite Atópica aparenta ser muito promissor e seremos cada vez mais capazes de melhorar a qualidade de vida dos nossos doentes.

Autor: 
Dr. Bruno Duarte - médico dermatologista no Serviço de Dermatologia do Hospital de Santo António dos Capuchos - Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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