Opinião

Dermatite Atópica Hoje

Atualizado: 
21/03/2022 - 15:20
O eczema atópico é uma doença inflamatória crónica da pele, mais frequente em idades pediátricas, que afeta até 20% das crianças. De facto, o eczema atópico constitui uma das doenças de pele mais comum na infância, com uma incidência que tem apresentado um perfil ascendente nos últimos anos.

Na grande maioria dos casos (aproximadamente 85%), a doença manifesta-se antes dos cinco anos de idade e começa no primeiro ano de vida em cerca de 60% dos casos. Nos últimos anos tem havido grandes avanços para determinar a causa da doença, sendo que a existência de uma barreira cutânea anormal e alterações imunes terão um papel primordial na origem da doença.

As alterações do sistema imunitário induzem o aumento de substâncias denominadas citocinas Th2 no organismo dos doentes com eczema atópico e são capazes de causar um comprometimento significativo da barreira cutânea. É ainda importante realçar que a evidência científica atual sugere a prevalência de uma forte componente genética para o desenvolvimento da doença.

Nas idades mais precoces, a expressão clínica é diferente daquela que ocorre na infância, manifestando-se com áreas muito vermelhas e exsudadas, sendo a descamação mais rara. A principal área atingida é tipicamente a face, mais concretamente as zonas malares e pavilhões auriculares. Após o decurso de um a dois anos verifica-se uma mudança topográfica na localização das lesões, com menor envolvimento da face e maior envolvimento das áreas anteriores dos braços e parte posterior dos joelhos, sendo as lesões mais descamativas e com mais espessamento cutâneo.

Nos adultos, porém, o atingimento do eczema atópico é mais localizado, sendo que as áreas envolvidas são, na maioria dos casos, as pregas cutâneas e, embora com menor frequência, a face, pescoço e mãos. No entanto, é importante realçar que qualquer área do corpo pode ser envolvida nos casos mais graves e que o prurido marcado é sempre uma contante.

Durante o tratamento, os doentes devem ser encorajados a evitar fatores agravantes da doença como:

  • Fibras irritantes (lã, fibras sintéticas) – privilegiar roupa de algodão;
  • Detergentes com fragrâncias ou conservantes;
  • Roupa apertada ou quente;
  • Divisões da casa com temperaturas elevadas;
  • Múltiplos cobertores na cama;
  • Casa mal arejada, pouco limpa, com muitas carpetes;
  • Contacto com animais e pelos;
  • Janelas abertas na época de maior pólen em ambientes secos e quentes;
  • Stress/Estímulos emocionais;
  • Tabaco.

O eczema atópico segue um curso crónico recidivante ao longo de meses e até anos. Os pacientes com doença ligeira podem experienciar agudizações intermitentes com remissão espontânea, mas aqueles com doença mais grave raramente resolvem sem tratamento.

O tratamento do eczema atópico passa pela adoção de medidas básicas para restaurar a barreira cutânea, tais como a aplicação diária de emolientes. Com efeito, o reforço da hidratação cutânea é essencial, e quando não é feito de forma adequada poderá colocar em causa o restante tratamento.

Perante uma doença leve, com lesões de eczema que são transitórias e esporádicas, pode ser vantajoso adotar uma atitude de tratamento reativo (ou seja, realização de tratamento sempre que surgem lesões) através de medicamentos de aplicação tópica (corticosteroides tópicos ajustados à localização das lesões ou inibidores tópicos da calcineurina).

Numa doença moderada, com lesões de eczema recorrentes, a fototerapia pode ser ponderada em casos pontuais - caso esse recurso esteja disponível. Na doença grave, em que os cuidados tópicos não permitem um controlo da doença, a imunossupressão sistémica com corticoide oral ou outros imunossupressores tradicionais pode ser ponderada, mas sempre com riscos de efeitos laterais que podem ser graves.

Mais recentemente, devido à evolução no conhecimento sobre a patogénese da doença, tornaram-se disponíveis tratamentos medicamentosos que abrem uma nova perspetiva no tratamento do eczema atópico moderado a grave - nomeadamente medicação que atua a nível do controlo da inflamação induzida pelas citocinas Th2 -IL4 e IL 13.

O objetivo destes agentes é o controlo da doença, a melhoria das lesões cutâneas e a diminuição do prurido - tudo sem os efeitos laterais graves associados aos corticoides orais e imunossupressores.

Portanto, apesar de o eczema ser uma doença com marcado impacto na qualidade de vida dos pacientes, o surgimento de novo tratamento constitui um valioso aliado para o controlo e terapêutica da doença.

Autor: 
Dra. Inês Lobo - Dermatologista no Hospital de Santo António
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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