Tumores

Cancro do Tubo Digestivo: o que precisa saber

Atualizado: 
03/02/2021 - 11:40
Segundo estimativas da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, o cancro do tubo digestivo mata, em Portugal, uma pessoa por hora. Os hábitos alimentares, o sedentarismo e obesidade são apontados como os principais responsáveis para o crescente número de casos da doença no mundo ocidental.

Englobando vários tipos de tumores, o Cancro do Tubo Digestivo é, a nível mundial o que apresenta maior incidência. De entre os tipos de cancro mais frequente encontram-se o cancro colorretal e o cancro do pâncreas, dois dos que mais contribuem para as elevadas taxas de mortalidade por neoplasia maligna. Mas se enquanto um, em 95% dos casos, é evitável, o outro raramente consegue ser diagnosticado a tempo, uma vez se trata de um cancro assintomático nas suas fases iniciais.

Tumores do tubo digestivo

Cancro do esófago

O cancro do esófago é um tumor que se forma no tecido que reveste o esófago (tubo muscular através do qual a comida passa da garganta para o estômago).

Os dois tipos principais de tumor que atingem o esófago são o carcinoma de células escamosas e o adenocarcinoma. Enquanto o carcinoma de células escamosas se forma nas células achatadas que revestem o esófago, o adenocarcinoma tem origem nas células que produzem e libertam muco e outros fluídos. Os dois ocorrem com a mesma frequência.

Quanto aos fatores de risco, sabe-se, por exemplo, que o carcinoma de células escamosas está associado ao consumo de álcool e tabaco e a uma dieta pobre em frutas e vegetais frescos, enquanto que o adenocarcinoma está relacionado refluxo gastroesofágico, que por seu lado se associa à obesidade.

Dificuldade em engolir, rouquidão, refluxo, dor de garganta ou costas, vómitos ou perda acentuada de peso, podem ser sintomas da doença. No entanto, há que relembrar que estes sintomas podem ser comuns a outras patologias, o que poderá dificultar o diagnóstico.

Para além do exame clínico, são requisitados alguns exames. A saber: exame endoscópico, exame radiológico (TAC torácica e abdominal. Por vezes, esofagrama) e exame histopatológico (biópsia) para confirmar o diagnóstico e definir características do tumor.

O tipo e extensão do tratamento depende do estadio do cancro, características do tumor e riscos envolvidos. Este pode consistir em cirurgia ou radioterapia, ou ainda terapia sistémica, como a quimioterapia. 

Cancro do estômago

De acordo com a Sociedade Europeia de Oncologia Médica, o cancro do estômago é um cancro que se forma nas células que revestem este órgão. A maioria dos cancros de estômago (cerca de 90% dos casos) têm origem nas células da mucosa do estômago sendo designados de adenocarcinomas. Nos restantes 10% de casos de cancro, incluem-se os linfomas gástricos, tumores do estroma gastrointestinal e tumores neuroendócrinos.

Os hábitos alimentares e fatores genéticos, como algumas mutações hereditárias, estão entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de adenocarcinomas. Por outro lado, também o tabagismo, sedentarismo e uma dieta rica em sal ou nitratos e pobre em fruta fresca e legumes pode aumentar o risco de desenvolver a doença.

Desconforto ou dor abdominal, sensação de enfartamento, azia, náuseas e vómitos (sobretudo se incluírem a presença de sangue), inchaço, falta de apetite ou perda de peso, constam como sinais de alerta. No entanto, estes sintomas podem ser comuns a outras patologias pelo que devem ser observados por especialista.

Para o seu diagnóstico, para além do exame clínico, são necessários exames endoscópicos, radiológicos (como TAC) e histopatológico.

O tratamento dependerá do estadio do tumor e pode incluir cirurgia para remoção do estômago e/ou outros órgãos adjacentes, remoção de gânglios linfáticos (em caso de gastrectomia total ou parcial também são removidos os gânglios linfáticos à volta do estômago. A resseção endoscópia da mucosa é opção para cancro limitados à mucosa ou camada interna do estômago.

A quimioterapia (pré ou pós-operatória) consiste numa terapêutica adjuvante. 

Cancro do fígado

O carcinoma hepatocelular é o tipo mais frequente de cancro do fígado (cerca de 90% dos casos). Ele tem origem nas principais células do fígado, designadas de hepatócitos. Uma minoria de casos diz respeito a angiossarcomas ou hemangiossarcomas, colangiocarcinomas (que se iniciam nas vias biliares), hepatoblastomas e, mais raramente, carcinomas fibrolamelares (que atinge os mais jovens).

Normalmente, o cancro do fígado é diagnosticado entre os 50 e os 60 anos de idade, sendo quase sempre precedido de cirrose hepática. Entre as principais causas da cirrose hepática estão a infeção crónica pelo vírus da hepatite B e da hepatite C, o consumo prolongado de álcool, algumas condições hepáticas raras e esteatose hepática, conhecida por fígado gordo.

Deste modo, é necessária vigilância sempre que estas condições estejam identificadas de modo a que seja possível detetar, tão cedo quanto possível, um potencial tumor no fígado.

Perda de peso, fadiga, náuseas ou vómitos, fígado ou baço dilatado, dor abdominal ou junto à omoplata direita ou icterícia são alguns dos principais sintomas a que deve estar atento.

Para o seu diagnóstico, para além do exame clínico, são necessários exames radiológicos (ecografia, TAC ou Ressonância Magnética), análises clínicas (para avaliar os níveis de alfa-fetoproteína, um marcador tumoral) e exame histopatológico (bioópsia).

O tratamento, que está dependente do estadiamento do tumor, pode incluir a ressecação por cirurgia, técnicas de ablação que permitem destruir as células cancerígenas, quimioembolização transarterial, quimioterapia ou radioterapia ou transplante hepático.

Nos casos em que o cancro está muito avançado e em que não possibilidade de cura, a terapêutica utilizada serve apenas para reduzir ou aliviar os sintomas da doença, como controlo da dor ou náuseas. 

Cancro do pâncreas

O cancro do pâncreas é o mais temido de todos os cancros ou não fosse este o que apresenta pior prognóstico, uma vez que raramente é diagnosticado a tempo de receber tratamento.

O tipo mais frequente de cancro do pâncreas é o adenocarcinoma pancreático, um tipo de tumor que desenvolve no pâncreas exócrino (o pâncreas tem dois tipos de tecidos, com funções distintas: exócrino e endócrino) que segrega enzimas no sistema digestivo. Na maioria dos casos este tipo de tumor desenvolve-se na cabeça ou pescoço do pâncreas (75% dos casos). Os restantes no corpo (de 15 a 20%) e na cauda (5 a 10%) deste órgão.

Mais raramente, pode desenvolver-se carcinomas de células acinares e pancretoblastomas.

Embora não se conheçam as causa para o cancro do pâncreas, foram associados alguns fatores de risco. Sabe-se, por exemplo, que algumas mutações genéticas estão associadas a um risco aumentado de desenvolvimento de cancro do pâncreas e que, em 25% dos casos, os doentes são ou foram fumadores por longos períodos de tempo.

A idade também surge associada a um aumento do risco deste tipo de tumor, uma vez que a idade média de diagnóstico se situa entre os 60 e os 80 anos. Por outro lado, sabe-se também que a pancreatite crónica aumenta o risco de adenocarcinoma pancreático.

Os principias sintomas associados são a perda de peso, icterícia e dor abdominal ou lombar. No entanto, nas suas fases iniciais, o cancro do pâncreas é assintomático pelo que dificilmente é possível realizar-se um diagnóstico precoce. Habitualmente, quando surgem sintomas, o cancro já se disseminou para outros locais.

Quanto do tumor é ressecável, a remoção pancreática é o tratamento convencional, coadjuvado pela quimioterapia e/ou radioterapia.

Quando não a cirurgia não é opção (nos casos de o tumor não ser ressecável ou já esta em estadios muito avançados, apresentando metástases), alguns doentes podem beneficiar de quimio e radioterapia. Nos restantes casos, está indicada a terapia paliativa.

Cancro Colorretal

O cancro colorretal é um tipo de cancro muito frequente. Pode afetar o cólon ou o reto (coletivamente conhecidos como o intestino grosso).

Habitualmente, este tipo de cancro inicia-se pelo aparecimento de pólipos, que são alterações causadas pelo crescimento anómalo de tecido no intestino grosso que com o tempo crescem e se transformam em cancro.

Entre os principias fatores de risco para o desenvolvimento de cancro colorretal estão a idade, síndromes genéticas, ou a história familiar de cancro. O consumo de tabaco ou álcool, a pouca atividade física, a dieta pobre em fibras e a obesidade são outros fatores que contribuem para o risco aumentado de cancro.

Embora numa fase inicial possa não apresentar sintomas, os sinais de alerta são a perda de sangue nas fezes, a alteração prolongada do padrão habitual do funcionamento do seu intestino, dor de barriga, cansaço fácil, fadiga e perda de peso.

A pesquisa de sangue oculto nas fezes por método imunoquímico (FIT) e a colonoscopia são os métodos que permitem o seu diagnóstico. No entanto, a pesquisa de sangue oculto nas fezes só se realiza aquando o rastreio. Na presença de sintomas, é realizada apenas a colonoscopia.

Após o diagnóstico de um cancro colorretal, poderão ser solicitados outros exames como uma tomografia computorizada (“TAC”) ou ressonância magnética para melhor caracterização e estadiamento do tumor.

O tratamento do cancro colorretal depende de vários fatores, entre eles o estadiamento da doença e o estado geral do doente, incluindo outras doenças que possa ter.

Entre as modalidades terapêuticas disponíveis encontram-se os tratamentos endoscópicos (definitivos ou paliativos), cirúrgicos, quimioterapia e/ou radioterapia.

Fontes:
https://www.esmo.org/content/download/96748/1722138/file/ESMO-ACF-Cancro-de-Eso%CC%81phago-Um-Guia-para-o-Doente.pdf
https://www.esmo.org/content/download/97731/1724273/file/ESMO-ACF-Cancro-do-Esto%CC%82mago-Um-Guia-para-o-Doente.pdf
https://www.esmo.org/content/download/98003/1726150/file/ESMO-ACF-Cancro-do-Fi%CC%81gado-Um-Guia-para-o-Doente.pdf
https://www.esmo.org/content/download/101559/1796949/file/ESMO-ACF-Cancro-do-Pa%CC%82ncreas-Um-Guia-para-o-Doente.pdf
https://www.esmo.org/content/download/98290/1727191/file/ESMO-ACF-Cancro-Colorretal-Um-Guia-para-o-Doente.pdf

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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Foto: 
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