Dia Mundial do Sol

Cancro Cutâneo: como podemos beneficiar da exposição solar sem correr riscos?

Atualizado: 
03/05/2021 - 15:37
Apesar da exposição solar trazer múltiplos benefícios para a saúde, a verdade é que ela é também responsável pelo cada vez maior número de casos de cancro cutâneo. Exemplo disso é que, só em 2020, “foram detetados em Portugal cerca de 13 mil novos casos de cancro da pele, dos quais aproximadamente mil melanomas”. Paulo Morais, dermatologista, chama a atenção para esta realidade e aponta quais as medidas para uma exposição solar segura.

Embora o melanoma seja o tipo de cancro de pele mais grave, responsável por “mais 2/3 das mortes” associadas à doença, convém ressalvar que este não é o único tipo de cancro cutâneo que existe e ao qual devemos estar atentos.

De acordo com o especialista em dermatologia, Paulo Morais, “os tipos de cancro da pele mais frequentes, que correspondem a 97% de todos os casos, são o carcinoma basocelular (65%), o carcinoma espinocelular (25%) e o melanoma maligno (7%)”. E explica: “os carcinomas basocelular (CBC) e espinocelular (CEC), globalmente denominados de “cancro cutâneo não melanoma”, têm origem em células da epiderme chamadas queratinócitos”. Ao passo que, o melanoma maligno (MM) tem origem nas células da pele produtoras de pigmento chamadas melanócitos. “Existem, no entanto, outros cancros de pele menos comuns (< 3%), incluindo o carcinoma de células de Merkel, os linfomas cutâneos, o fibroxantoma atípico, o sarcoma de Kaposi, o carcinoma sebáceo, entre outros”, acrescenta.

De crescimento lento, explica, o Carcinoma Basocelular raramente dissemina “para outras partes do corpo; no entanto, pode recidivar e ser muito invasivo e destrutivo localmente, se não for tratado atempadamente”. “O CEC é mais agressivo que o anterior e pode, em fases mais avançadas, metastizar para os gânglios linfáticos e atingir outros órgãos”, refere acrescentando que o Melanoma Maligno (MM), caso não seja “detetado e tratado nos estadios iniciais, pode metastizar precocemente”. Segundo o especialista, “as metástases podem ocorrer para os gânglios linfáticos ou para outros locais do corpo, como pulmão, fígado, cérebro, osso ou aparelho digestivo”.

Associado à maioria das mortes por cancro cutêneo, este tipo de cancro é, no entanto, curável se diagnosticado precocemente. Em estadios iniciais a taxa de sobrevivência aos cinco anos ronda os 95%. “Em casos avançados, com metástases, o prognóstico pode ser mais reservado. A taxa de sobrevivência cai para 66% quando a doença atinge os gânglios linfáticos e 27% quando existem metástases para órgãos distantes”, acrescenta Paulo Morais.

“Perante a suspeita clínica de melanoma procede-se à remoção cirúrgica da lesão (ou biópsia parcial se a lesão for de grandes dimensões), com anestesia local, para exame anátomo-patológico e classificação (estadiamento)”, refere o dermatologista quanto ao procedimento terapêutico.

“Se o tumor estiver num estadio inicial, pode ser suficiente o alargamento das margens cirúrgicas, por remoção do tecido adjacente normal, num segundo tempo cirúrgico. Este passo visa diminuir significativamente a probabilidade de reaparecimento local do tumor. A pesquisa do gânglio sentinela, para determinar se existem células cancerígenas nos gânglios linfáticos, é um procedimento recomendado nos casos em que há grande probabilidade de metastização do melanoma para as cadeias ganglionares. Nos tumores mais profundos ou que se espalharam para os gânglios linfáticos, a probabilidade de recidiva ou metastização é superior. Conforme o caso, pode haver necessidade de esvaziamento ganglionar e tratamento adjuvante, para aumentar a possibilidade de cura”, explica adiantando que caso do melanoma avançado e com metástases à distância podem ser utilizados diferentes métodos terapêuticos: como a radioterapia, a quimioterapia e, mais recentemente, a imunoterapia e as terapias alvo. Destas, as últimas têm vindo a demonstrar resultados muitos promissores. No entanto, nem todas as pessoas apresentam a mesma resposta ao tratamento, o que faz com que esta terapia nem sempre seja bem-sucedida.

“Após o diagnóstico e tratamento, o doente deve manter-se em programa de vigilância regular. O seguimento, além de visar a deteção precoce de recidivas locais e de metástases, oferece uma oportunidade para o diagnóstico atempado de outros tumores primários cutâneos”, acrescenta Paulo Morais esclarecendo 5 a 10% dos doentes com melanoma sofrem de um segundo melanoma invasivo ocorre em 5–10% “e um novo melanoma in situ é diagnosticado em mais de 20% dos doentes com melanoma prévio”.

Além das consultas periódicas, o doente deve manter o autoexame mensal e não descurar as medidas de fotoproteção, acrescenta o especialista.

Para usufruirmos dos benefícios de uma exposição solar segura, Paulo Morais deixa alguns conselhos:

  • Evitar a exposição solar entre as 11 e as 17h, procurar sombras e ingerir água regularmente;
  • Utilizar boné, chapéu de abas largas, óculos de sol, T-shirt ou roupa com proteção ultravioleta;
  • Não expor bebés < 6 meses ao sol e evitar a exposição direta em crianças até aos 3 anos;
  • Atentar ao índice ultravioleta (consultar o site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera ou aplicações para smartphone) para adequar as medidas de proteção;
  • Usar um protetor solar de amplo espetro, com FPS ≥ 30 e proteção UVA (PPD ≥ 10 ou um terço do FPS);
  • Aplicar o protetor solar em quantidade generosa (2 mg/cm2), cerca de 30 minutos antes do início da exposição;
  • Reaplicar o protetor solar de 2/2 horas ou antes, se ocorrer imersão em água ou transpiração intensa;
  • Reforçar a aplicação do protetor solar nas zonas mais delicadas da face (regiões malares, nariz e lábios) e pescoço;
  • Não prolongar o tempo de exposição só porque está a ser usado um protetor solar.

E sublinha a necessidade de estarmos atentos a qualquer sinal suspeito, chamando a atenção para as seguintes características (conhecidas pela regram ABCDE):

A – Assimetria: uma metade é diferente da outra;

B – Bordo irregular: as extremidades do sinal são irregulares, sem padrão, abruptas ou mal definidas;

C – Cor: a cor do sinal é heterogénea ou não uniforme, podendo ter diferentes tonalidades de castanho ou preto, e por vezes outras cores;

D – Diâmetro: a lesão tem mais de 6 milímetros, embora possam existir melanomas menores;

E – Evolução: a lesão sofreu alteração do tamanho, cor e/ou forma.

Segundo o dermatologista Paulo Morais devemos ter ainda “em conta que, no contexto de vários sinais, a lesão maligna pode ser a que destoa do padrão global, ou seja, é o «patinho feio»”.

“Alguns melanomas apresentam pouco (hipomelanótico) ou nenhum (amelanótico) pigmento, o que pode dificultar o diagnóstico. Pode apresentar-se como uma mancha, pápula ou placa com bordos irregulares, avermelhada, ou como um nódulo saliente, geralmente, erosionado ou friável”, acrescenta.

Por outro lado, refere a importância de estarmos atentos a qualquer alteração que surja em toda e qualquer extensão da pele. “No autoexame devemos inspecionar toda a superfície cutânea, uma vez que o cancro da pele pode surgir no couro cabeludo, face, pescoço, tronco, membros, palmas, plantas, nádegas, região genital, mucosas ou no aparelho ungueal”, enumera adiantando que não devemos estar apenas atentos aos sinais pré-existentes, mas também a alterações que surgem “de novo” na pele, já que, refere o especialista, “70 a 80% dos melanomas surgem em pele aparentemente normal (apenas 20 a 30% dos MM surgem a partir de sinais)”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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