Principal causa de morte em Portugal

Prevenção primordial do AVC

Atualizado: 
31/03/2017 - 10:20
O Acidente Vascular Cerebral é responsável por 6 milhões de mortes em todo o mundo. Em Portugal, atinge três pessoas por hora. Para assinalar o Dia Nacional do Doente com AVC, Fernando Pita, coordenador da Unidade Funcional de Neurologia do Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, fala-nos da importância da prevenção.

Em 2014 ocorreram em Portugal 105.219 óbitos, mantendo-se o AVC como principal causa de morte, responsável por 11% do total.

As novas abordagens do AVC na fase aguda, tecnicamente inovadoras, mediaticamente aliciantes, inegavelmente válidas e importantes, não são no entanto responsáveis pela progressiva diminuição da incidência do AVC e da sua inerente mortalidade (redução 46% numa década no nosso país) e morbilidade. Estas são consequentes sim a medidas de prevenção de âmbito populacional.

Temos de fazer mais e melhor…

Por promoção de saúde ou prevenção primordial entende-se estratégias visando a população em geral que previnam o desenvolvimento de factores de risco para AVC e outras doenças vasculares. Por prevenção primária entende-se estratégias direccionadas para indivíduos já com um ou mais factores de risco significativos e bem documentados para AVC e outras doenças vasculares.

Sabemos o que deve se feito, temos de conseguir transmiti-lo de forma eficiente, resultando na modificação de comportamentos numa larga escala populacional.

Devemos fazê-lo nos dois planos:

Ao nível da prevenção primordial, mediante a educação para a saúde com modificação de comportamentos, visando um estilo de vida saudável:

1.      mantendo actividade física

2.      equilibrando o consumo calórico com a actividade física

3.      parando a epidemia do sal e do açúcar

4.      valorizando uma dieta saudável (como a dieta mediterrânea) usando produtos frescos, de época e produzidos localmente, com:

•         consumo predominante de azeite como gordura alimentar

•         redução do consumo de sódio (sal), gordura saturada, ác gordos trans e colesterol

•         usando grande diversidade de vegetais e frutos frescos, leguminosas, nozes (nuts) e cereais integrais

•         consumo moderado de peixe, marisco e carne de aves

•         consumo moderado de vinho tinto à refeição

•         baixo consumo de carne vermelha e alimentos processados

•         baixo consumo leite e doces, incluindo refrigerantes e outros alimentos com adição de açúcar (nomeadamente o perigo dos “cereais” infantis…)

O grande segredo: diversidade, frugalidade e escolha de um estilo de vida saudável

Será sempre fundamental uma intervenção específica na cessação tabágica e no controlo da obesidade.

Sendo que 74% do risco de AVC é atribuível a alterações comportamentais, inverter estes números está na nossa mão.

A doença ateromatosa é uma doença sistémica e responsável por cerca de 90% dos AVC isquémico ou hemorrágicos ocorridos em todo o mundo.

A relação entre os principais factores de risco (comportamentais, ambientais ou metabólicos), a doença ateromatosa e o AVC é

•      biologicamente plausível

•      contínua e progressiva em termos de gravidade e duração

•      consistente entre os estudos e em todas as populações estudadas

•      independente de outros factores de risco estudados

Os factores de risco demonstram, relativamente ao AVC:

•      uma associação forte (preditiva de AVC)

•      etiologicamente significativa (causal)

Assim, em termos de prevenção primária, importa detectar e tratar, em termos populacionais e de modo custo efectivo, os principais factores de risco para AVC e outras doenças vasculares (hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus, dislipidémia, fibrilhação auricular…).

É mediante educação populacional para a saúde (estilo de vida saudável), divulgação, prevenção, reconhecimento, detecção e intervenção terapêutica precoce nos principais factores de risco vascular, que podemos, a longo prazo, reduzir a incidência e prevalência do AVC, que se mantém como principal causa de morte e morbilidade em Portugal.

 

Autor: 
Dr. Fernando Pita - Neurologista
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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