Especialistas defendem mudanças na prevenção

Morte súbita cardíaca afeta 14 mil portugueses mas pode ser prevenida

Atualizado: 
06/02/2018 - 11:47
A morte súbita cardíaca é uma das causas mais frequentes de morte em todo o mundo, estimando-se que em Portugal afete cerca de 14 mil pessoas por ano. Apesar de inesperada, os especialistas defendem que pode ser prevenida com a adoção de medidas de prevenção e monitorização adequadas. Sensibilizar o cidadão comum para esta causa é o primeiro passo.

A morte súbita cardíaca é uma morte inesperada que resulta da perda das funções cardíacas. Entre as principais causas encontra-se a doença coronária, consequência da aterosclerose, e a insuficiência cardíaca que consiste na “incapacidade do coração em bombear sangue e transportar oxigénio e nutrientes ao organismo”.

De acordo com Miguel Ventura, coordenador do Serviço de Cardiologia da Idealmed – Unidade Hospitalar de Coimbra, estima-se que a morte súbita afete, anualmente, 14 mil pessoas em Portugal, “sendo esta a causa de uma em cada cinco mortes por doença cardiovascular”.

“Os principais fatores de risco são a doença coronária e a insuficiência cardíaca”, afirma admitindo que, apesar da idade ser um fator determinante – sabe-se, por exemplo, que o risco cardiovascular máximo ocorre em homens entre os 40 e os 60 anos – “nos jovens também ocorre morte súbita, frequentemente, em grupos sem história prévia de doença cardíaca e que são, portanto, difíceis de prever”.

É neste sentido que, o cardiologista defende que a avaliação dos doentes deve ser mais aprofundada. “Para ser eficaz, esta não deve assentar apenas na forma convencional (de que é exemplo a prova de esforço), mas apostar cada vez mais no rastreio não convencional, como a Angiotac coronária, que permite diagnosticar formas não obstrutivas da doença e prevenir e até tratar complicações em subgrupos de doentes de risco”, afirma Miguel Ventura.

Quanto a sintomas, o especialista reforça que “qualquer sinal poderá ser de alerta” chamando a atenção para um desmaio sem razão ou um simples episódio de falta de ar. “É muito importante ligar para o número de emergência, 112, e seguir as indicações que forem dadas ao telefone após descrever o que está acontecer”, acrescenta. É que, em casos de paragem cardíaca, dispomos apenas de quatro minutos para salvar a vida de alguém.


"É importante que o cidadão comum saiba usar as chamadas técnicas de reanimação, mas mais importante é o acesso a desfibrilhadores externos em importantes pontos geográficos ", afirma o cardiologista eletrofisiologista Miguel Ventura 

Morte súbita pode ser prevenida

Nos últimos meses muito se tem falado em prevenção. E, muitos são os especialistas portugueses que afirmam ser urgente mudar o panorama atual, para que a morte súbita deixe de estar no topo da lista das principais causa de morte no país.

De acordo com o cardiologista Miguel Ventura, insistir na educação para a adoção de estilos de vida saudáveis deve ser o principal pilar da luta contra as doenças cardiovasculares.

Por outro lado, e uma vez que muitas mortes ocorrem sem história prévia de cardiopatia, “porque a doença coronária não obstrutiva ainda é subdiagnosticada”, é preciso fazer mais além dos testes de rastreio atuais. “Recorrer à utilização de técnicas que permitam refinar o rastreio em determinados grupos, cuja antevisão de morte súbita ainda permanece bastante aquém do desejado, como sejam testes anatómicos para deteção de doença coronária não obstrutiva em grupos de risco e monitorização de longa duração para deteção de fenómenos arrítmicos esporádicos, é outro passo necessário”, acrescenta o coordenador do Serviço de Cardiologia da Idealmed – Unidade Hospitalar de Coimbra.

A melhoria do panorama de prevenção da morte súbita passa também, na opinião deste especialista, por diminuir o tempo de assistência no caso de paragem cardíaca, “dotando locais públicos de grande movimento de desfibrilhadores automáticos e ponderar a construção de uma rede de drones capazes de enviar para os locais em questão, de forma célere, desfribrilhadores automáticos”. “Esta é uma medida já em estudo em alguns países”, explica acrescentando que, em muitos casos, estes equipamentos são a única opção para desfibrilhar o doente “e dar-lhe a oportunidade de chegar ao hospital ainda com vida”.

Neste sentido, é ainda importante que o cidadão comum saiba usar as chamadas técnicas de reanimação e que, em alguns casos, possam ser implantados dispositivos de monitorização cardíaca “mais prolongada”.

Com o objetivo de alertar várias especialidades para esta problemática, a Idealmed – Unidade Hospitalar de Coimbra, está a promover a reunião “Morte Súbita, como prevenir na atualidade”, esperando lançar o mote para novo debate.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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