Meditação e saúde

Mindfulness contra a dor

Atualizado: 
21/12/2016 - 16:07
A técnica de meditação Mindfulness tem sido estudada nas maiores universidades no mundo e, nos últimos anos, várias pesquisas têm vindo a comprovar os seus benefícios para a saúde. Para além de proteger o coração, a prática da meditação pode aliviar a dor crónica.

No contexto da saúde, a técnica do Mindfulness refere-se a um processo psicológico que inclui o treino de várias habilidades que ajudam a pessoa a desenvolver a capacidade de lidar com as suas emoções, sensações e pensamentos com uma atitude de abertura e acolhimento. Ou seja, desenvolvendo a sua capacidade de aceitação e resiliência perante o problema de saúde.

Um estudo, recentemente, publicado pela Universidade de Queensland, na Austrália, pela investigadora Melissa Day, demonstra que quanto maior é a capacidade do indivíduo aceitar a dor, e de conseguir levar a cabo as atividades do dia-a-dia mesmo na sua presença, maior capacidade terá para aumentar a  sua qualidade de vida e o seu bem-estar psicológico.

A terapia cognitivo-comportamental no tratamento da dor

Enxaquecas, dores lombares e cervicais estão entre as patologias que mais condicionam o doente, afetando milhares de pessoas em todo o Mundo.

Sabe-se, aliás, que a dor crónica afeta cerca de 30 por cento da população e representa uma perda de 1,5 milhões de dias de trabalho, por ano, para quem sofre da doença.

“As lombalgias são um fenómeno com um impacto tremendo nas actividades básicas diárias do indivíduo, que transbordam para a sua vida familiar, laboral e social. Se tivermos em conta as estimativas de que 80% de todos os adultos terão eventualmente pelo menos um episódio de lombalgias durante a vida, entendemos porque é que esta sintomatologia representa a primeira causa de absentismo laboral na maior parte dos países industrializados”, revela a especialista Isabel Duque Martins. 

Dependendo da causa de dor, são várias as terapêuticas indicadas. Seja o exercício físico, a manipulação da coluna ou a prescrição de analgésicos.

No entanto, são vários os especialistas que defendem a importância do recurso à terapia cognitivo-comportamental (CBT- sigla em inglês) - um método de intervenção terapêutica que propõe alterar a nossa percepção e comportamento perante a dor.

“A terapia cognitivo-comportamental constitui a intervenção psicológica mais comum, melhor documentada pela investigação e com resultados mais eficazes no tratamento da dor crónica e especificamente na dor lombar crónica”, escreve Vanda Clemente, especialista em Psicologia Clínica, na revista DOR da APED.

“Com este tipo de intervenção, é possível reduzir a dor, aumentar as respostas de coping adaptativas, aumentar a auto-eficácia e diminuir as cognições mal adaptativas relacionadas com a dor, o que permite diminuir a incapacidade e por isso melhorar o funcionamento físico”, adianta acrescentando que a aplicação desta arma terapêutica conduz ainda à redução do uso de fármacos e do número de hospitalizações.

Para esta especialista, “a compreensão da experiência da dor por parte do doente, das suas avaliações face ao agente de stress, deverá ser um aspecto central de qualquer programa terapêutico que se pretenda eficaz no alívio da dor crónica”. “É necessário perceber que o doente se refere «à sua dor» e que incorpora a dor na sua própria identidade”, acrescenta.

O essencial desta terapia consiste, pois, em ajudar o doente a mudar os seus pensamentos, as suas avaliações e atitudes, “de forma a motivá-lo para um novo conjunto de estratégias para lidar com a dor”.

Reestruração congnitiva, treino de competências (ou estratégias para lidar com a dor), treino em imaginação ou de relaxamento, são alguns dos procedimentos terapêuticos desta abordagem contra a dor.

Mindfulness e a dor

Um estudo conduzido pela neurocientista Sara Lazar, da Universidade de Harvard, veio comprovar, através da utilização de ressonância magnética, que a prática de Mindfulness atua diretamente em áreas como o cortéx pré-frontal, relacionado com funções importantes como a atenção ou o processamento sensorial.

Desta forma, tem vindo a ser possível demonstrar que esta técnica de meditação ajuda o praticante a aumentar o seu potencial para se relacionar com os problemas de uma maneira diferente, tornando-o mais hábil na capacidade de gerir as emoções que surgem, por exemplo, no contexto de dor ou doença.

A redução de stress baseada em Mindfulness – MBSR, ou seja, Mindfulness Based Stress Reduction – é mais um tratamento disponível, tão eficaz na redução da dor como a terapia cognitivo-comportamental.

Para se chegar a esta conclusão, foi levado a cabo um estudo, que contou com a colaboração de mais de 340 pessoas, com idades compreendidas entre os 20 e os 70 anos, sofrendo de lombalgia há mais de 7 anos, em média.

Este grupo foi dividido, aleatoriamente, entre aqueles que receberiam aulas de Mindfulness, terapia cognitivo-comportamental ou realizariam os tratamentos convencionais.

Este estudo permitiu observar que o grupo que recebeu aulas de Mindfulness conseguia levantar-se de uma cadeira ou subir escadas  com maior facilidade, e sentir menos dor, que o grupo que recebeu tratamento convencional.

A terapia cognitivo-comportamental apresentou os mesmo resultados, mostrando o poder da mente na redução da dor.

A verdade é que, o programa de mindfulness ajuda a reduzir o stress e o impacto negativo da lombalgia sobre o bem-estar, ao mudar a forma como a mente processa a dor.

Este estudo consistiu em sessões de grupo de duas horas, uma vez por semana, durante oito semanas, onde se ensinou meditação, yoga e consciência corporal. Numa primeira fase, os praticantes focavam-se, à vez, e durante 10 a 20 minutos, nas várias partes do corpo, tomando consciência e aceitando qualquer sensação presente.

Para o coordenador desta investigação, Dan Cherkin, da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, o treino da mente pode ter efeitos mais duradouros do que a manipulação da coluna.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Fonte: 
Revista DOR - APED
Shinzen Young
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock