Aumento da incidência de alguns tipos de cancro

Cuidar em Oncologia

Atualizado: 
28/05/2015 - 13:04
É do conhecimento geral que nas últimas décadas a oncologia sofreu uma grande evolução técnica e científica. Os progressos alcançados no controlo da doença, graças ao investimento realizado na prevenção e ao desenvolvimento sistemático dos processos de diagnóstico e tratamento, permitem hoje que o cancro se comporte como uma doença crónica.

Mas, em paralelo com a inovação, assistimos à tendência para o aumento da incidência de alguns tipos de cancro, como consequência de alterações significativas da estrutura da pirâmide populacional, e de alterações do estilo de vida, com elevadas taxas de mortalidade associadas a alguns deles.

A sobrevivência, as recidivas, as alterações da imagem, os tipos e duração de tratamentos, a forma como influência as atividades de vida individuais e familiares, fazem do cancro uma doença que exige o envolvimento de uma equipa multidisciplinar e multiprofissional em atualização permanente, por forma a responder às necessidades da Pessoa.

Um indivíduo com cancro não é simplesmente alguém com um corpo doente, é uma Pessoa em constante crescimento, com uma mente e um espírito vivo, que mantém relações com sua família e amigos, com atitudes e habilidades, interesses, sonhos e expectativas.

É neste contexto que me parece clara a necessidade e a propriedade da intervenção do enfermeiro, especialmente vocacionado para cuidar e responder às cada vez mais complexas necessidades da Pessoa com cancro.

O enfermeiro na equipa de saúde tem um papel especial, enfatizando a prevenção de complicações, detetando e controlando os efeitos colaterais, prestando cuidados diferenciados / especializados, e incorporando nos cuidados os aspetos psicossociais da Pessoa e sua família, para obter cuidados abrangentes que respondam às necessidades dos mesmos.

Cuidado de Enfermagem com respeito pela dignidade humana

O cuidado de Enfermagem deve ser exercido com respeito pela dignidade humana e por todos os outros valores que lhe estão subjacentes, como a autonomia, a justiça, a equidade e a solicitude num contexto de prática interrelacional, que confere responsabilidade e visa sempre o benefício da Pessoa cuidada e dos cuidadores.

Trata-se atualmente, é certo, de uma prática que utiliza tecnologia de ponta mas que deve estar sempre associada a um cuidado humanizado, um cuidado em que o doente é o verdadeiro centro da sua acção. Esta prática inclui ouvir, observar, refletir e agir, planeando os cuidados em conjunto com a Pessoa, respeitando o seu querer, os seus valores e hábitos, expandindo a sua capacidade de se cuidar, resgatar ou manter a sua saúde.

Num tempo de mudança em que se pretende melhorar o funcionamento dos serviços de saúde, em que se comenta a escassez de recursos, terão os enfermeiros no dia-a-dia esta prática incorporada?

Os cuidados humanizados pela voz de doentes e familiar

Fomos procurar a opinião de duas doentes em tratamento no IPO de Coimbra e da familiar de um doente.

Ana

Foi um momento difícil. Não posso esconder que, quando apalpei a minha mama e encontrei um nódulo, fiquei muito assustada. Depois de contar aos meus filhos de 12 e 14 anos e ao meu marido, a primeira coisa que fiz no dia seguinte foi procurar a “minha” enfermeira do Centro de Saúde (…).

Chamo-lhe sempre o “Meu Anjo da Guarda”, pois nesse mesmo momento, nessa mesma hora pediu para que fosse ter com ela, para poder ver e apalpar e sem pôr qualquer tipo de entrave dirigiu-se à médica de família para que também esta visse e mandasse fazer os exames necessários (…).

(…) Esta enfermeira levou os exames e encaminhou-me para a médica, a qual me deu à escolha o hospital onde queria ser tratada; escolhi o IPO de Coimbra, por todas as boas referências que tenho tido.

Os dias que passei internada não foram fáceis, mas também não posso dizer que foram horríveis, todos, mas todos, os enfermeiros foram sempre atenciosos, simpáticos, meigos. A sua voz, a sua meiguice, o seu tempo para connosco foi muito importante para eu perceber que o mundo não tinha acabado, e que eu ia ficar bem para criar os meus filhos.

 (…) Sei que vou ser tratada por mais alguns anos. Para já está tudo a correr bem, os senhores enfermeiros, penso que são escolhidos “a dedo”, são pessoas extraordinárias, numa das profissões mais difíceis do mundo. Obrigada por tudo, sem vocês não sei, se teria as forças e a coragem necessária para enfrentar esta doença.

Manuela

Uma nova etapa do meu percurso. Foi necessário uma cirurgia aos 35 anos e ficar com uma ostomia para fezes.

Ter que procurar força para viver com alguma qualidade de vida.

Encontrei o Gabinete de Estomaterapia no IPO de Coimbra, com grandes profissionais de saúde. Foi a relação com as enfermeiras que me ajudaram a ultrapassar muitas barreiras psicológicas, físicas e emocionais.

O seu profissionalismo e carinho fizeram com que eu fosse uma nova pessoa.

A presença de uma ostomia requer na pessoa algumas adaptações, a necessidade de saber lidar com a colocação do saco no abdómen, vários ensinamentos como a higiene, a técnica de irrigação. Neste sentido, o apoio emocional também são importantes para poder viver a nossa vida com qualidade entre família, amigos e até retomar o trabalho.

Todas estas orientações e ensinos foram muito úteis para poder ultrapassar esta fase inicial, de me ver com uma ostomia. Aceitá-la, e poder perceber que esta cirurgia com recurso a ostomia foi para me salvar a vida (…).

(…) Agradeço todo o apoio dado pela equipa de enfermagem do Gabinete de Estomaterapia do IPO de Coimbra.

Um especial agradecimento à senhora Enfermeira (…). Tem sido a minha ajuda e confidente das minhas adversidades de vida.

Cristina

Sou filha de um doente oncológico, e digo-vos que estou a viver um pesadelo desde outubro de 2014, altura em que foi detetado um cancro nos intestinos ao meu pai. O meu sentimento é de revolta e desânimo, diria mesmo de impotência para lutar contra uma doença tão terrível como esta… No entanto, tento todos os dias concentrar-me no que é importante, ajudar e cuidar do meu pai. Para que isso seja possível tive de ter uma aprendizagem, no meu caso com a Enfermeira (…) do Gabinete de Estomaterapia. Digo que este processo é muito difícil, eu diria mesmo doloroso, para nós familiares, e para os utentes em questão, que ficam totalmente fragilizados (…).

Quero agradecer toda a ajuda do vosso Gabinete, e dizer-vos o quanto foram e estão a ser importantes nesta luta. Sem a vossa dedicação e apoio eu não teria conseguido ajudar o meu pai (…). Gosto particularmente do perfecionismo e dedicação da Enfermeira (…). É uma pessoa muito humana e preocupada com os seus utentes.

A conclusão deixo-a para si caro leitor.

 

Bibliografia

DGS. Portugal Doenças Oncológicas em números – 2014. Programa Nacional para as Doenças Oncológicas. Novembro de 2014

 

Maria da Soledade Correia Neves, nascida a 31 de Dezembro de 1958, natural de Castelo Branco, foi nomeada Enfermeira Diretora, em 2003, cargo que desempenha atualmente como vogal do Conselho de Administração do IPO de Coimbra FG, EPE.

Tem como habilitações literárias o Curso Complementar dos Liceus.

Frequentou o curso de Enfermagem Geral, o curso de Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica e o curso de Estudos Superiores Especializados em Administração dos Serviços de Enfermagem.

Concluiu o XVIII Programa de Alta Direção de Instituições de Saúde (PADIS) da AESE – Escola de Direção e Negócios.

Iniciou funções no IPO de Coimbra, em setembro de 1981, como Enfermeira, sendo detentora da categoria de Enfermeira Chefe desde 1997.

Desempenhou funções nos Departamentos de Radioterapia e Oncologia Médica, nas Consultas Externas e no Serviço de Cuidados Paliativos.

 

Autor: 
Soledade Neves
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.